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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

A Bruxa de Cursa

 

          






         A Bruxa de Cursa é alvo de muita confusão. É um alvo difícil de se observar. Não conheço ninguém que tenha a observado visualmente, mas Herschel certamente o fez e com isto esta ganhou a entrada 1909 no New General Catalog.  Mas é duvidoso que ele tenha percebido, de fato, o que achou. Atualmente a maioria das publicações associa a Nebulosa Cabeça de Bruxa (O apelido mais popular da Bruxa de Cursa)) a IC 2118. O Index Catalog, assim como o Ngc, foi organizado por Dreyer. Uma diferença fundamental é que no IC Dreyer já contou com o auxílio da fotografia nos registros das nebulosas ali citadas. O Ngc é fruto apenas de descobertas visuais. Um feito incrível. Apesar do registro de Herschel sobre uma nebulosa na região, a maioria das fontes modernas atribui a descoberta a Max Wolf em 1909 através de uma foto. Este mesmo diz ter percebido algo por lá já em 1891. O próprio Wolf desconhecia que alguém tivesse percebido nebulosidade na região.

                Seu popular apelido foi dado por Hubble que é o primeiro a perceber a pareidolia.



                O Objeto, evidentemente, tem um caráter mais fotográfico que observacional. Novamente sendo alvo de disputas o Stellarium fala em magnitude 8 para A Bruxa. Mas quase todos as outras fontes falam em magnitude 13. E se espalhando por vários graus de firmamento isto implica em um baixíssimo brilho de superfície. Aprendi por experiencia própria que a Bruxa é pouco mais brilhante que o fundo do céu. E inclino mais para o 13 que para o 8...

                O Objeto sempre esteve no meio de confusão. Uma Bruxa encrenqueira. Há alguns anos um jovem apresentou algumas fotos da mesma com equipamentos simplíssimos. Evidentemente que levantou suspeitas sobre a lisura destas fotos. Ao ser denunciado criou-se uma celeuma onde muitas acusações foram trocadas e o garoto terminou muito mal na foto.  Depois de conseguir um esboço de captura de IC2118 tenho certeza de que as dúvidas levantadas eram totalmente fundamentadas.  Conheço poucas capturas, feitas aqui por Sucupira, do objeto.  

                Apesar de Cursa (Beta Eridani) ser a estrela que vai te levar mais perto e ser a guia mais próxima é Rigel (Beta Orionis) que ilumina a Nebulosa. É uma nebulosa de reflexão. Portanto não se trata de uma região HII. Rigel fica há uma distância de 40 UA da Nebulosa em si e não chega a Ionizar esta. Muitas fotos apresentam uma coloração azulada da nebulosas.  Fruto da reflexão da luz azulada de Rigel. Um fenômeno semelhante faz do céu da terra azul.

Sua origem também é alvo de discussão.  Ou se trata de uma remanescente antigo de uma supernova ou uma bolha de gás de outra origem. Nenhuma fonte bate o martelo.  

Mas de qualquer forma é certo que ha produção estelar na região e diversas proto estrelas (ainda antes de chegarem à sequência principal) são conhecidas na região. Diversas estrelas T-Tauri foram descobertas na região.  Como estas são, geralmente, associadas a nuvens moleculares. As nuvens moleculares da Cabeça da Bruxa são, possivelmente, associadas com a maciças estrelas da associação Orion-Eridanus OB e justaposta a bolha Orion- Eridanus.

Fotografar IC 2118 foi uma longa aventura.

Achar é facil. Tanto Rigel quanto Cursa são visiveis mesmo em céu bem claros.


Como podem perceber não se percebe nada em uma única exposição de 50 segundos e ISO 1600.  A Nebulosa é muito grande, com uma dimensão aparente de 3 o X 1o. Em um rápido ensaio no Stellarium percebo que tenho que utilizar, no máximo, uma 200mm para cobrir toda área.

E assim consigo trabalhar com f4. Bem claro.

Programo o Ptolomeu para realizar 130 fotos de 50 segundos da região. Queria ter Rigel e Cursa em quadro também.  Sei que tenho A Bruxa enquadrada e assim deixo tudo acontecendo. Um Lua crescente do lado oposto do céu vai atrapalhar um bocado a operação. Mal sabia quão temperamental poderia ser a Feiticeira.

Quando chegou a hora de processar as fotos começo a me preocupar. Percebo um fundo de céu muito claro. Com as 130 fotos o resultado é Batizado de “Fracasso Total. Jpeg”.  Mas indo na contramão da logica tento mais uma cartada. Seleciono apenas as fotos (75) do final da sessão. Estas a Nebulosa já ia mais alta no céu e quase zenital e a lua menos presente.  E desta forma consigo melhores resultados com um tempo menor de exposição total.

Fracasso Total... 132X 50 seg.. Desastre binário. 

Depois de muitas máscaras e de ralar um dobrado no PixIn Sight começo a achar as informações nos fotogramas luz. Mas foi quase um Tribunal da Inquisição. Muita tortura nos arquivos para obter um resultado que posso no máximo achar um registro razoável. Tirar Rigel da foto ajuda. Ela esculhamba totalmente a escala de cinza sendo tão brilhante. 

De qualquer forma achei que deveria postar e contar a experiência. Me lembrou de Álvaro Campos e seu Poema em Linha Reta:   

""Nunca conheci que tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos tem sido campeões em tudo".

Eu tomei uma coça da Bruxa... Mas nem por isso vou dizer que não foi divertido. E digo mais : No final da sessão estava "Indesculpavelmente  sujo."

Quando o PixInsight produziu essa Range Mask fiquei um pouco mais esperançoso. na verdade quando surgiram as primeiras mascara de luminância depois deesticar o resultado do tif do DSS com as 72 melhores fotos percebi que havia algo registrado na região. Não obtive muito detalhe . Mas a nebulosidade e a forma é evidente. 


 Confesso que conhecendo o histórico da Bruxa de Cursa achei que não ia conseguir nada. Agora tenho certeza de que em um céu mais escuro (fotografei a mesma de Búzios em um céu Bortle 6 ou 7, sendo otimista) e sem nenhuma lua o resultado pode ser bem melhor. Isto usando uma câmera DSLR sem nenhuma adaptação ou filtro.  Tivesse arriscado a Bruxa um dia antes e já acho que sairia melhor.  Mas na véspera obtive resultados bons com a Roseta e a Seagull Nebula (uma entrada no catálogo Sharpless) que me deram coragem para ir até o Coven entre Orion e Eridanus.



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