A Bruxa de Cursa é alvo de muita
confusão. É um alvo difícil de se observar. Não conheço ninguém que tenha a
observado visualmente, mas Herschel certamente o fez e com isto esta ganhou a
entrada 1909 no New General Catalog. Mas
é duvidoso que ele tenha percebido, de fato, o que achou. Atualmente a maioria
das publicações associa a Nebulosa Cabeça de Bruxa (O apelido mais popular da
Bruxa de Cursa)) a IC 2118. O Index Catalog, assim como o Ngc, foi organizado
por Dreyer. Uma diferença fundamental é que no IC Dreyer já contou com o auxílio
da fotografia nos registros das nebulosas ali citadas. O Ngc é fruto apenas de
descobertas visuais. Um feito incrível. Apesar do registro de Herschel sobre
uma nebulosa na região, a maioria das fontes modernas atribui a descoberta a
Max Wolf em 1909 através de uma foto. Este mesmo diz ter percebido algo por lá
já em 1891. O próprio Wolf desconhecia que alguém tivesse percebido
nebulosidade na região.
Seu
popular apelido foi dado por Hubble que é o primeiro a perceber a pareidolia.
O Objeto, evidentemente, tem um caráter
mais fotográfico que observacional. Novamente sendo alvo de disputas o Stellarium
fala em magnitude 8 para A Bruxa. Mas quase todos as outras fontes falam em
magnitude 13. E se espalhando por vários graus de firmamento isto implica em um
baixíssimo brilho de superfície. Aprendi por experiencia própria que a Bruxa é
pouco mais brilhante que o fundo do céu. E inclino mais para o 13 que para o
8...
O
Objeto sempre esteve no meio de confusão. Uma Bruxa encrenqueira. Há alguns
anos um jovem apresentou algumas fotos da mesma com equipamentos simplíssimos.
Evidentemente que levantou suspeitas sobre a lisura destas fotos. Ao ser denunciado
criou-se uma celeuma onde muitas acusações foram trocadas e o garoto terminou
muito mal na foto. Depois de conseguir um
esboço de captura de IC2118 tenho certeza de que as dúvidas levantadas eram totalmente
fundamentadas. Conheço poucas capturas, feitas
aqui por Sucupira, do objeto.
Apesar
de Cursa (Beta Eridani) ser a estrela que vai te levar mais perto e ser a guia
mais próxima é Rigel (Beta Orionis) que ilumina a Nebulosa. É uma nebulosa de
reflexão. Portanto não se trata de uma região HII. Rigel fica há uma distância
de 40 UA da Nebulosa em si e não chega a Ionizar esta. Muitas fotos apresentam
uma coloração azulada da nebulosas. Fruto
da reflexão da luz azulada de Rigel. Um fenômeno semelhante faz do céu da terra
azul.
Sua origem
também é alvo de discussão. Ou se trata
de uma remanescente antigo de uma supernova ou uma bolha de gás de outra
origem. Nenhuma fonte bate o martelo.
Mas de qualquer
forma é certo que ha produção estelar na região e diversas proto estrelas (ainda
antes de chegarem à sequência principal) são conhecidas na região. Diversas
estrelas T-Tauri foram descobertas na região.
Como estas são, geralmente, associadas a nuvens moleculares. As nuvens
moleculares da Cabeça da Bruxa são, possivelmente, associadas com a maciças
estrelas da associação Orion-Eridanus OB e justaposta a bolha Orion- Eridanus.
Fotografar IC
2118 foi uma longa aventura.
Achar é facil. Tanto Rigel quanto Cursa são visiveis mesmo em céu bem claros. |
Como podem
perceber não se percebe nada em uma única exposição de 50 segundos e ISO 1600. A Nebulosa é muito grande, com uma dimensão
aparente de 3 o X 1o. Em um rápido ensaio no Stellarium
percebo que tenho que utilizar, no máximo, uma 200mm para cobrir toda área.
E assim
consigo trabalhar com f4. Bem claro.
Programo o
Ptolomeu para realizar 130 fotos de 50 segundos da região. Queria ter Rigel e
Cursa em quadro também. Sei que tenho A
Bruxa enquadrada e assim deixo tudo acontecendo. Um Lua crescente do lado oposto
do céu vai atrapalhar um bocado a operação. Mal sabia quão temperamental
poderia ser a Feiticeira.
Quando chegou a hora de processar as fotos começo a me preocupar. Percebo um fundo de céu muito claro. Com as 130 fotos o resultado é Batizado de “Fracasso Total. Jpeg”. Mas indo na contramão da logica tento mais uma cartada. Seleciono apenas as fotos (75) do final da sessão. Estas a Nebulosa já ia mais alta no céu e quase zenital e a lua menos presente. E desta forma consigo melhores resultados com um tempo menor de exposição total.
Fracasso Total... 132X 50 seg.. Desastre binário. |
Depois de
muitas máscaras e de ralar um dobrado no PixIn Sight começo a achar as informações
nos fotogramas luz. Mas foi quase um Tribunal da Inquisição. Muita tortura nos
arquivos para obter um resultado que posso no máximo achar um registro razoável. Tirar Rigel da foto ajuda. Ela esculhamba totalmente a escala de cinza sendo tão brilhante.
De qualquer forma achei que deveria postar e contar a experiência. Me lembrou de Álvaro Campos e seu Poema em Linha Reta:
""Nunca conheci que tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos tem sido campeões em tudo".
Eu tomei uma coça da Bruxa... Mas nem por isso vou dizer que não foi divertido. E digo mais : No final da sessão estava "Indesculpavelmente sujo."
Confesso
que conhecendo o histórico da Bruxa de Cursa achei que não ia conseguir nada.
Agora tenho certeza de que em um céu mais escuro (fotografei a mesma de Búzios
em um céu Bortle 6 ou 7, sendo otimista) e sem nenhuma lua o resultado pode ser
bem melhor. Isto usando uma câmera DSLR sem nenhuma adaptação ou filtro. Tivesse arriscado a Bruxa um dia antes e já
acho que sairia melhor. Mas na véspera obtive
resultados bons com a Roseta e a Seagull Nebula (uma entrada no catálogo
Sharpless) que me deram coragem para ir até o Coven entre Orion e Eridanus.
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