Ngc 4349 é um DSO
que serve como exemplo perfeito para o “Projeto Tudo que Existe”. Este surgiu
de um delírio meu onde eu conseguiria observar todos os objetos do Catálogo Ngc
ao longo de minha vida. Embora não seja,
em tese, uma tarefa impossível é muito pouco provável que isso aconteça. E
desta forma os parâmetros para ser membro do catálogo “Tudo que Existe” se
tornaram mais restritos e desta forma cada vez existe menos coisas no projeto. É
um total contra senso, mas o projeto é meu e faço dele o que quiser. Deve ser
reflexo do “Geist der Zeit” mundial. Cada vez mais autoritário e limitante. E
não pretendo pensar em um novo nome para a empreitada.
Assim
um objeto para ser membro do “Tudo que Existe” não pode ser encontrado em
nenhum dos modernos guias observacionais que conheço. Esses não são poucos. E ser parte do New
General Catalog (Ngc) que foi organizado por Dreyer e publicado em 1888. Neste
ele reuniu todos os DSO conhecidos até a data. Foi o último catálogo realizado,
exclusivamente, a partir de observações visuais. Por fim eu tenho que ver e
fotografar o DSO. Atualmente já estou me conformando com a ideia de que apenas
o registro fotográfico do mesmo seja aceito no feito.
Depois
de observar (há muito tempo) Ngc 4349 e de o fotografar (há pouco mais de uma
semana) fui levantar informações sobre ele. Segui o caminho normal. Sendo um
DSO localizado muito ao sul e muito tênue para ter sido notado por Lacaille no século
XVIII eu imaginava que o descobridor deste seria ou Dunlop ou John Herschel.
Estava certo. Ponto para Dunlop. Assim
sendo e já tendo aprendido que um obscuro e apagado aglomerado aberto só
poderia estar relacionado na série “Deep Sky Companions” do O´Meara. Provavelmente no “The Southern Gems”. Não estava.
Arrisquei uma investigação no “The Secret
Deep”. Escapou também. Faltava o “ Hidden Secrets”. Nada...
Pronto.
Ngc 4349 entrou para o “Catálogo Tudo que Existe” (e ninguém sabe...).
Trata-se
da entrada 292 do catálogo Dunlop. Este o descobriu em 1826. Em seu observatório
amador montado em Paramattha, na Austrália.
A
única descrição histórica que encontrei do discreto aglomerado é a do próprio
Dunlop. Consegui uma cópia digitalizada do mesmo há algum tempo.
“Um
bonito aglomerado de estrelas extremamente pequenas, que recorda uma bonita nebulosa
tênue com 6 ou 7´de diâmetro, sua concentração e bem gradual em direção a
centro. Uma estrela bem brilhante no lado que segue a nebulosa (leste). Formato
arredondado.”
Um
exercício lúdico que aproxima estruturas distantes como aglomerados abertos de nosso
cotidiano é ligar pontos em aglomerados abertos e com isso batizá-los como algo
mais, digamos assim, telúrico. Desta
forma Ngc 4349 é um aglomerado entre todos os que existem que eu posso apelidar.
E assim nasce “O Aglomerado do Querubim”. Em meio aquele pequeno amontoado de estrelas
percebo claramente a figura de um rosto de um querubim barroco. Com a ajuda do Photoshop vou dar uma força para
o lado direito do cérebro do leitor e
ajudar na visualização da imagem. Mas cada um vê o que quer. Minha filha achou que era o Chucky...
De
volta ao universo físico Ngc 4349 é um aglomerado que serviu como amostragem em
diversos papers sobre a estrutura de aglomerados abertos e como data em outros tantos
em diversos assuntos. Mas nunca teve um paper só seu.
3 X Drizzle no DSS. |
O
aglomerado possui 390 membros prováveis dentro do raio angular do aglomerado e
129 contidos em sua parte central. O raio de maré do mesmo é de algo entre 58 a
75 anos luz. Qualquer estrela mais distante que isto dificilmente terá alguma interação
gravitacional com o núcleo do mesmo. Uma
Blue Straggler (estrela que aparentam ser mais jovens do que deveriam.) foi detectada no mesmo. A “maior” estrela (a vedete.) do aglomerado é
Ngc 4349-127. Esta atraiu muitas atenções do mundo acadêmico para nosso ilustre
desconhecido quando foi descoberta um anã marrom na sua orbita. Esta possui uma
massa de 19,8 Júpiteres e orbita nossa amiga a cada 678 dias há uma distância
de cerca de 2,38 UA (Unidades astronômicas. 1 UA é a distância média da terra
para o sol.) 127 tem uma massa de 3.9 sóis e é uma gigante vermelha. No momento
da descoberta ela foi a estrela de maior massa conhecida onde foi detectado um
companheiro subestelar.
Localizar
Ngc 4339 é fácil. Muito próxima a Acrux (a estrela mais brilhante do Cruzeiro
do Sul) é um pulo desta. Nas fotos você pode perceber facilmente onde olhar. Ambos estarão no mesmo campo de quase qualquer
binoculo. Recomendo tirar Acrux do quadro pois pode apagar o discreto
aglomerado.
Ngc
4349 está a cerca de 6.000 anos luz e tem uma idade estimada em 250 milhões de
anos.
Todas
as fotos aqui apresentadas são fruto de uma captura que consistiu em 3
exposições de 1 minuto em ISSO 1600. Estas foram posteriormente empilhadas (tempo
total de exposição de 3 minutos) no Deep Sky Stacker e processadas no
PixInsight e no Photoshop. Foram utilizadas uma Canon T3, uma lente Pentax
300mm f 4,5 montadas sobre a Mlle. Herschel (Uma cabeça equatorial Heq5). Fotos realizadas em Boa Esperança _ Friburgo –
R.J. céus Bortle 4 e com uma transparência apenas mediana. A noite bastante úmida.
great
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