A região da
cauda de Escorpião é uma das mais nobres vizinhanças galácticas. Projetada contra
o ponto central da galáxia a região é lotada de mansões celestiais e grandes e
belas construções. Ngc 6281 escapou de Lacaille
e Messier. Muitos anos mais tarde ele não foi incluído por Sir Thomas Moore em
seu Catálogo Caldwell. Isto tudo nos levaria a supor tratar-se de um aglomerado
aberto dos mais sem graça. Ainda mais em uma região tão nobre seria fácil acreditar
que ele passaria facilmente desapercebido. Não é verdade. Apesar da má vontade
de nossos clássicos observadores o Aglomerado Asa de Mariposa é um espetáculo
em qualquer lugar do céu. Não faz feio mesmo comparado ao mais famoso e próximo
Aglomerado da Borboleta (M 6) e ao ainda mais famoso Aglomerado de Ptolomeu (M
7).
Eu o observei
pela primeira vez meio que ao acaso. Um daqueles DSO´s que tem gosto de
descoberta. Embora você saiba que algo tão legal não poderia ter passado desapercebido
por tanto tempo. Como já sei (em se tratando de objetos ao sul do equador
celeste) provavelmente esse DSO´s já foi observado ou por Dunlop ou John
Herschel...
Em uma noite
fria (era julho de 2018. Essa foto ficou esquecida no HD por quase um ano...) na Pedra Riscada eu caçava pela Nebulosa Pata
do Gato e com o Go-to de Mlle. Herschel (minha montagem equatorial HEQ5) extremamente
voluntarioso eu tentava o péssimo método da força bruta. Mandava-a em busca da Pata
do Gato e com o telescópio apontando para algum local próximo tentava chegar
até meu objetivo escaneando a região através de minha ocular de 40 mm. Geralmente
não funciona. Mas em uma das diversas varreduras realizadas me deparei com o
belo aglomerado e acabei por fotografá-lo. Posteriormente descobri de quem se
tratava com o auxílio do Astrometry...
Ngc 6281 foi
descoberto por James Dunlop em 5 de junho de 1826. É o mais brilhante
aglomerado “não Messier” / “não Caldwell” nestas plagas. Ele se tornou D 556 em seu catálogo de 1827. Ele a descreve como “uma curiosa linha de bonitas
estrelas curvas e brilhantes com muitas estrelas tênues misturadas.”
John Herschel
depois utiliza “muito rico” e “muito brilhante”. De fato, o brilho de superfície
do aglomerado bem alto o que leva O´Meara a dizer que este é um excelente
desafio para observação a olho ‘nu. Com cerca
de 70 estrela até 13a magnitude e com o seu membro mais brilhante
brilhando com magnitude 9 e com uma magnitude total de 5.4 é possível que seja
verdade. Mas sempre considero que nosso amigo é muito otimista e talvez biônico.
Provavelmente ambos.
M 6281 é um aglomerado
galáctico de meia idade. Contemporâneo de M 7. Ambos têm entre 150 e 220 milhões
de anos dependendo da fonte. O Aglomerado Asa de Mariposa é mais apagado e menor
que seu vizinho mais famoso. Localizado
a 1800 anos luz ele se encontra bem mais distante de M 7 e bem mais próximo de
M 6 (que se encontra apenas 200 anos luz mais próximo de nós). Mas ainda como nos conta O´Meara ele tem aproximadamente
metade do tamanho física do Aglomerado da Borboleta. Faz sentido. Enquanto M 6
é o Aglomerado da Borboleta e apresenta suas duas asas abertas sobre a "Guanabara" Ngc 6281 se assemelha a
apenas uma asa de mariposa. Aqui a lepidóptera se apresenta de asas fechadas. Ele
se espalha por meros 4.2 anos luz de universo.
Uma bela
estrela de 6a magnitude habita o flanco noroeste de Ngc 6281 (HD
153919) já foi considerada membro do aglomerado. Mas não mais. Trata-se de uma
estrela muito jovem com meros 1 milhão de anos e estudos recentes sugerem que
essa seja uma foragida de Ngc 6231. Esta de qualquer forma merece alguma
atenção no quadro já que é uma binaria eclipsante e uma variável irregular ótica.
O´Meara destaca que HD 153919 é a estrela que vai lhe guiar até A Mariposa e
que é também o grande empecilho para a visualização a olho nu do aglomerado.
É difícil separar uma coisa da outra. Em céus não tão generosos inicia sua
navegação em Mu Scorpii (dupla) e chegue até lá por starhoop. Não é difícil. O
aglomerado se apresenta em uma buscadora 8X 50 facilmente.
No Newton (um refletor
150 mm f8) o aglomerado se resolve facilmente com 80X. Sua uma e suas estrela
mais brilhante é uma dupla com a primaria de 9a magnitude e uma
companheira na casa da 10a.
A foto aqui apresentada é resultado de cerca de 10 exposições de 30 segundos com ISO 1600. Camera Canon T3 montada em foco direto sobre o Newton (150 mm f8). O Stack foi realizado no DSS e ela foi levemente esticada no PixInSight.
Ngc 6281 é um
dos mais charmosos aglomerados abertos de Escorpião e ainda por cima pouco
visitado. Uma irresistível tentação...
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