M 22 é
uma das maiores jóias da Coroa Austral . Ele forma , juntamente com Omega
Centauro e Tucana 47, a trindade dos globulares. São os três maiores Aglomerados
deste tipo ( tamanho aparente) visíveis da terceira rocha a partir do
sol ( também conhecida como Planeta Terra..) .
Como
não poderia deixar de ser ele é conhecido como " O grande Aglomerado de
Sagitário". Trata-se de uma imensa fogueira de aproximadamente 500 .000
sóis e se espalha por 33´de firmamento .
O mesmo diâmetro aparente da lua cheia. Na trindade ele é o menor dos membros. Segundo alguns esotéricos ele representaria a Mãe já que para as antigas
religiões célticas a trindade consistia do Pai, do Filho e da Mãe. Me parece
mais sensato que invocar algum espírito e remonta as lendas de Avalon e suas
brumas. Talvez por isto Tolkien ( que era um estudioso destes assuntos...) o
tenha descrito no" Hobbit". Pelo menos segundo nos diz O´Meara M22 teria inspirado o autor na descrição de uma
jóia batizada de Arkenstone of Thrain -"... Era como se um
globo tivesse sido prenchido pela luz da lua e pendurado defronte a eles em um
tecido líquido feito com o brilho de estrelas geladas..."- algo de
incomparável beleza. De fato isto esta escrito no capitulo 16 do
Hobbit. Agora se Tolkien realmente se inspirou em M 22 é já algo no terreno das
lendas. Para quem já viu M 22 a descrição é bastante precisa.
M 22 é
um DSO sensacional em qualquer equipamento que você o observe. A primeira vez
que eu o vi foi pelo meu antigo "Trucuçu" ( um binoculo 20X80 mm com
lentes mecúrio cromo coated) e mesmo assim ele era um espetáculo. Estava e uma
viagem de trabalho pelo litoral sul do Rio e chegando embriagado no hotel fiz
uma rápida inspeção do horizonte leste onde me deparei com ele. Mesmo sem nenhuma
pesquisa sabia de quem tratava-se. Localizado perto de Kaus Borealis (Lambda
Sag) é uma navegação bem fácil e o mesmo
é percebido até mesmo a olho nu em locais um pouco mais escuros que
o Rio de Janeiro. Em noites sem lua e em
locais escuros poucas visões se comparam ao luz de algumas centenas de milhares
de estrelas a meros 10.100 anos luz de nós. M 22 é um dos mais próximos
globulares.
É mais
um daqueles DSO´s que demonstram a
precariedade dos telescópios utilizados por Messier (mesmo levando em conta que
M 22 nunca se apresenta muito alto no horizonte de Paris) . Ele nos conta que o
observou na noite de 5 de Junho de 1764 e que " se trata de um nébula ,
abaixo da eclíptica , entre a cabeça e o arco de Sagitário. Próximo a estrela
de 7a magnitude flamsteed 25
Sagitarii. Esta nebulosa é circular e não apresenta nenhuma estrela. Claramente
visível com um telescópio simples de 3 pés e meio. Abraham Ihle , o alemão, a localizou em 1665 quando observava Saturno. M. le Gentil a observou em 1774".
Messier não inclui a observação feita por
Lacaille que inclui M22 em seu catalogo elaborado entre 1751-52 e sucintamente ( sempre...) o descreveu assim : " lembra o anterior" . A entrada anterior (Lac I .11) de seu catalogo fala o seguinte " Parece um Cometa". O problema é que a entrada anterior é discutida até hoje. Eu acredito tratar-se de M69. Mas muitos acham improvável. E M69 não se parece com M 22. Especialmente em minúsculas lunetas como as que Lacaille usava.
Halley também
o inclui em sua lista de 6 objetos nebulosos publicada em 1715. Ha indícios que
Hevelius o viu antes de Ihle.
O
Observando com meu binóculo 15X70 mm ele chega quase ao limite da resolução.
Embora não chegue a ver estrelas individuais percebo nitidamente alguma
"granulosidade" nas sua bordas e seu núcleo brilha intensamente. Já o Newton ( telescópio 150 mm) a 48X resolvem-se
muitas estrelas até quase o centro. Com 120X mais ainda. M22 é um aglomerado do tipo VII na escala de concentração Shapley. Medianamente concentrado.
O´Meara
o chama de "Aglomerado Crackerjack". O nome é uma daquelas piadas que
só faz sentido para americanos. Crackerjack é uma marca de pipoca doce que vem
com um pequeno brinde em sua embalagem.
Como ele , assim como Skiff, percebem um pequeno ajuntamento de estrelas no quadrante noroeste de M22 , um
aglomerado dentro do aglomerado, surge o
apelido...
Falei
no ultimo post de como é raro encontrar nebulosas planetárias em aglomerados
globulares . M 22 possui esta honraria. Descoberta pelo satélite IRAS e catalogada
como GJJC 1 esta minúscula nebulosa (10´´X 7´´)habita próxima ao centro de
nossa gema. Não achei nenhuma observação visual desta nos meus alfarrábios nem
na web... O Hubble Space telescope identificou um considerável numero de
objetos de tamanho planetário passeando pelo aglomerado utilizando a técnica de
micro lensing ( "dobrando" a luz de estrelas de fundo do aglomerado)
.
M 22 se
espalha por 200 anos luz de espaço e sendo muito próximo da eclíptica
alinhamentos com planetas são comuns.
P.S. A foto que abre este post é resultado de 15 Exposições de 30 segundos + 7 dark frames realizadas com uma Canon T3 montada em foco direto no Newton ( refletor 150mm f8). 2X drizzle no DSS + PixInsight+ PS CS.
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