A Nebulosa de Eta Carina é um DSO de muitos DSO´S. Há anos eu fujo de apresentá-la. Ela é a Grande Dama dos céus austrais. E assim sendo deve ser tratada com o devido respeito.
A Nebulosa foi um dos primeiros objetos que observei. Ela
é facilmente localizada de nossas latitudes. A Via Láctea passa entre Órion e
Gêmeos. Ruma para o Sul passando por Sirius e segue para Canopus. As duas
estrelas mais brilhantes do firmamento. Depois segue direto para o Cruzeiro do
Sul. Neste trecho ela vai passar pelo asterismo do Falso Cruzeiro. Suas
estrelas são um pouco mais afastadas e mais fracas que as do Cruzeiro original.
Procure por um "Nó de Luz" encravado na Via Láctea entre o Falsa Cruz
e o Cruzeiro do Sul. Em céus escuros ela é evidente a olho nu. Mesmo em céus
menos generosos pode-se perceber uma diferença no gradiente de luminosidade do
céu na região. Em sua buscadora ela se apresenta-rá como uma região enevoada.
Use uma ocular de grande campo. 25 ,30 ou mais mm. A
nebulosa vai preencher o campo. Você vai perceber um bem estruturado conjunto
de áreas brilhante permeada por linhas mais escuras e diversos aglomerados e
outras estruturas. Na sua parte central vai perceber uma pequena área
alaranjada . É o Homunculus onde se escondem Eta Carina e suas companheiras.
Linhas escuras vão constituir o que passou a ser chamada de Nebulosa da
Fechadura ( Keyhole Nebula). Vários aglomerados estarão por lá também.
Com as férias de fim de ano fiz uma foto que pela primeira vez achei a
altura da tarefa de introduzir a dama a sociedade. As experiências anteriores
não eram dignas nem de tablóide inglês. E assim vou arriscar realizar o debut da moça no Nuncius Australis.
A nebulosa possui vários nomes : A Grande Nebulosa de
Carina, A Nebulosa de Eta Carina, Ngc 3372 ou simplesmente a Grande Nébula. É
uma imensa e brilhante nebulosa que possui dentro de suas fronteiras diversos
aglomerados abertos e estrelas de grande interesse. É uma das maiores nebulosas
difusas dos céus. Ela é quatro vezes maior e mais brilhante que a mais famosa
Nebulosa de Órion. Logicamente que devido a sua localização austral é menos
conhecida. Ela é um segredo do céus do sul. Provavelmente a maior jóia da Coroa
Australis.
Como não podia deixar de ser foi uma descoberta do nosso
sócio. O Abbe Lacaille. Os primeiros registros de sua natureza nebulosa foram
feitas em sua expedição ao Cabo da Boa Esperança entre 1751-52. Sua inclusão em
seu catalogo foi realizada , precisamente, em 25 de janeiro de 1752. É a
entrada Lac III.6 A categoria III do Catalogo Lacaille reúne o que o Abbe
considerou "Estrelas Nebulosas"; E como o que ele observou foi
anterior ao evento de 1843 é bem provável que a região tivesse um aspecto bem
diferente.
Para introduzir este rico DSO creio que a melhor forma
seria apresentar a dona da casa. Eta Carina.
Eta Carina é uma estrela com uma história riquíssima e de
grande interesse cosmológico . Como boa diva tem um comportamento bastante
"explosivo". Sabe-se hoje que é um sistema estelar localizado entre 7.500
e 8000 anos luz de nós. Encontrei diversas distancias descritas na literatura.
Uma curiosidade: em livros mais antigos chega a ser dito que a distancia do
complexo poderia ser algo entre 2000 e 10.000 anos luz devido a sua posição na
Via Láctea e qual seria a quantidade de poeira a ser corrigida para determinar-se
a distancia. Sua estrela primaria é uma Luminosa Variável Azul ( LBV na sigla
em inglês) que possuía inicialmente algo
como uma massa de 150 sóis das quais já perdeu, pelo menos, 30. Isto faz dela
uma das maiores estrelas conhecidas no universo. O sistema possui ainda uma quente
super gigante com aproximadamente 30 vezes a massa solar orbitando a
primaria.Infelizmente uma enorme e densa nebulosa vermelha envolve esta
impedindo de se ver a secundaria. O sistema Eta Carina esta encapsulado na
chamada Nebulosa do Homunculus. Estrelas
da classe de Eta Carina são muito raras. Umas poucas duzias por galaxia do
tamanho da Via Láctea. Elas se aproximam , e potencialmente excedem, o Limite
de Eddigton Um lugar onde a pressão da
radiação é praticamente suficiente para gerar um contra ponto para a gravidade
que mantem toda radiação e gás estruturados em forma de estrela. Estrelas com
mais de 120 massas solares excedem Eddigton. Provavelmente isto tem algo relacionado
com o evento que causa a grande importância astrofísica de nossa amiga. A grande
erupção ou o "Evento impostor de Supernova de 1843".
Quando Eta Car foi catalogada pela primeira vez em 1667 por
Edmond Halley (o do cometa) ela era uma
estrela de 4a magnitude. Em 1730 diversos observadores já haviam percebido um
aumento considerável de seu brilho. Quando Lacaille esteve pela região ele deu
a designação Bayer de Eta para a estrela. No momento com 2a magnitude . Posteriormente a estrela
enfraqueceu de brilho e por volta de 1782 ela havia retornado a seu brilho
original. Em 1827 seu brilho havia crescido mais de dez vezes e atingiu seu
apíce em abril de 1843 quando atingiu a magnitude de -0.8. Se tornou a segunda
estrela mais brilhante do céu. É importante lembrar que Sirius (a mais
brilhante) esta a 8.6 anos luz da terra. E Eta Carina habita a 7.500 anos luz.
Comparações utilizando velas, faróis e afins são desnecessárias... Falar que
esta é uma candidata a supernova em futuro próximo é também redundante. E
próximo, em astronomia, compreende um período que vai desde amanhã até alguns
milhões de anos...
O Homunculus é uma formação nova. Este foi formado durante
e logo após a grande erupção de 1843 . Trata-se de uma nebulosa de reflexão que
faz parte do conjunto que responde por Ngc3372. Facilmente identificado na nossa foto ele não
chega a apresentar claramente a forma
que lhe empresta o nome. Mas também demonstra que não é necessária tanta
magnificação ou telescópios tão grandes quanto já imaginei para observa-lo.
Como já falei ,mas não custa repetir, é outra parte do
conjunto Ngc 3372 a conhecida Nebulosa da Fechadura. O Nome foi dado por John
Herschel ( o filho) durante o séc. XIX. É uma nuvem poeira escura com
filamentos de gás mais quentes que
aparece silhuetada contra a mais brilhante nebulosa ao fundo. A formação possui
um Ngc só dela. 3224.
Ngc 3372 é uma das mais dinâmicas regiões de formação
estelar . A região há meros 2.3 kpc é a mais próxima região de formação estelar
com uma população de estrelas muito maciças (com pelo menos 70 estrelas do tipo
O e 4 estrelas Wolf-Rayet) Entre estas
estas estão diversas das estrelas mais maciças e luminosas da galaxia ( com
M>~100 massas solares). Entre elas a já citada LBV Eta Carina , HD93129Aa e
diversas estrelas O3 da sequência principal.
Diversas destas estrelas residem em frouxo aglomerados próximos ao
centro do complexo.
Entre estes aglomerados podemos destacar Tr 14,15 e 16.
todos eles muito jovens com idades variando de 1 a 8 milhões de anos apenas. Tr é sigla que identifica os aglomerados do
catalogo Trumpler. O mesmo Trumpler que criou a classificação Trumpler para
descrição de aglomerados galácticos. Falei nele no nosso ultimo post. A forte
radiação com o feed back de estrelas tão maciças já dispersou muita da original nuvem de gás.
Levantamentos recentes indicam a formação de uma nova geração estelar nas densa
nuvem remanescente , em especial na região conhecida como "Pilares do Sul
". (Southern Pillars)
As vezes é difícil dizer quem é quem na minha modesta fotografia,
realizada com meios bastante amadores, mas fiz um esforço para identificar todos
os abertos que vou apresentar neste post.
Tr 14 é facilmente percebido a direita e acima da região
mais densa da Nebulosa.Possui cerca de 290 estrelas e sendo bem jovem ainda tem muito membros em estágios pré
sequência principal. O Tal equilíbrio hidro estático é algo difícil de ser atingido por estas plagas. Seja por causa de Edidgton ou por causa de Hayashi.
Tr 16 é visto do mesmo lado da nebulosa mas mais abaixo de nosso quadro e pode ser considerado um
parente muito próximo de nosso aglomerado anterior. São os dois mais populosos
aglomerados da região de Ngc 3372 e são a maior aproximação que temos das
coisas que acontecem em 30 Douradus na Grande Nuvem de Magalhães. Não poderia
deixar de perceber e chamar atenção para
as relações entre a região e a muto mias distante Nebulosa da Tarantula. Ambos
os aglomerados ajudaram a determinar a extinção na região e encurtar uma
discussão que já durava muito tempo. A quem interessar possa este é um paper
bastante completo sobre os rapazes. http://iopscience.iop.org/0004-637X/549/1/578/pdf/0004-637X_549_1_578.pdf
Tr 15 é também parente próximo e sofre das mesmas
questões . Mas diversos papers consultados indicam que os aglomerados aqui
indicados surgem a mesma distancia e tem idades semelhantes sendo associados a
fenômenos relacionados a dinâmica da região de Ngc 3372. Mais em Tr 15 em: http://mnras.oxfordjournals.org/content/331/3/785.full.pdf+html
Cr232 é um aglomerado aberto bem próximo ao Homunculus e em posição bem central no
complexo. É evidente na foto e me permitiu ver que as vezes o que parece uma
estrela com rastro devido a um mal acompanhamento polar na captura das imagens
é na verdade um difícil aglomerado aberto. Astronomia e óptica são a mesma
matéria...
Cr 234 é outro que indico na meu modesto levantamento
ótico da Grande Nebulosa de Carina. Sua história parece ser semelhantes aos
demais...
Cr 228 já se encontra mais afastado da região central mas
compõe o quadro. Tenho duvidas se o identifiquei corretamente na minha foto. Mas não sou o único com duvidas
a respeito de sua real localização. É provavelmente composto de estrelas recém formadas do
material da nebulosa. Segundo Ronald Stoyan a posição e descrição dadas por
Lacaille em seu catalogo indicam que o "perdido" objeto Lac.III.5
seria o aglomerado e não uma parte de Lac
III.6 como se sustentou durante muito tempo. Lacaille define III.5 como
"Duas pequenas estrelas cercadas de nebulosidade.". Difícil imaginar
ele resolvendo duas estrelas aqui com uma luneta de 25 mm.
Na imagem do Cartes do Ciel existem ainda mais
aglomerados abertos espalhados pela região. Não os identifiquei na foto
realizada por clareza e por não localiza-los claramente na imagem.
E o o Catalogo Bochum é , no minimo, bastante obscuro... Para dizerem que não falei de flores
desccobri que trata-se de um catalogo publicado em 1975 e elaborado no
Astronomical Intitute, Ruhr Univ. Bochum, Germany...
Segundo um dos meus livros mais queridos " Turn Left at Orion" a melhor época para se observar a região de Ngc 3372 é em abril.
Queimei a largada e não me arrependo. Gosto de observar em horários mais tardios
e assim conseguir céus um pouco mais escuros em meus tão claros céus urbanos...
A Grande Nebulosa de Eta Carina já é uma mocinha bem crescida e passa a noite
quase toda fora.
Por favor quem é o autor desse texto?
ResponderExcluirEu.
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