O aglomerado aberto IC
2391 é um dos eternos favoritos no Nuncius Australis. É um "primeiro"
na minha história astronômica.
Em primeiro lugar foi o primeiro DSO que descobri.
Logo que iniciei em astronomia comprei um binóculo
enorme. Com zoom. Era um 15-100 X 80 mm. Com as lentes "ruby-coated".
As famosas lentes vermelhas. Em uma piada que talvez já esteja se tornando
repetitiva eu digo que ele possuía as lentes com um tratamento em Mercúrio.
Mercúrio Cromo... Comprado a preço de banana no Paraguai ele viajou bastante. Seu
carinhoso apelido era Trucuçu. Acabou sendo dado de presente para meu primo.
Foi com ele que eu descobri IC 2391. Passeando pelo Falso
Cruzeiro sem lenço e sem documento me deparo com o mesmo logo ao lado de Delta
Vela. Ele é um evidente aglomerado aberto mesmo a olho nu. Mas com minha parca
biblioteca na casa de Búzios e em tempos que wi-fi e 3G ainda eram raros não
achei nenhuma referência ao DSO. Pronto. Batizei de BZ 1.
Posteriormente ele foi o primeiro DSO que fotografei com foco direto. Desta vez devido a razões mais geográficas e geométricas do que
qualquer outra coisa.
BZ 1 como já sabem os senhores é IC 2391. E antes disto
foi Lac II.5.
Isto faz dele a 5a entrada da categoria II do catalogo
elaborado pelo Abbe Lacaille em sua viagem pelos céus austrais nos meados do
Séc. XVIII. Ele incluiu na categoria II os
considerados aglomerados estelares nebulosos. Com lunetas de apenas 30
mm sua classificação é de interesse apenas histórico. O aglomerado não
apresenta nenhuma nebulosidade.
A história do aglomerado é muito mais antiga que minhas primeiras
observações com o Trucuçu. O primeiro registro sobre 2391 remonta a Al-Sufi ,
um astrônomo persa. Nas brumas do tempo pode-se imaginar que estes registros
foram feitos antes de 964 DC. Foi
redescoberto de forma independente pelo Abbe em 11 de fevereiro de 1752.
Sendo evidente a olho nu mesmo de ambientes suburbanos é
muito provável que o mesmo tenha sido percebido por Halley em sua estada em
Santa Helena. E por muitos dos navegadores que desbravaram os mares austrais
anteriormente.
Sua estrela mais brilhante apresenta magnitude aparente
de 3.6.. É uma gigante da classe
espectral B3. A idade do aglomerado é entre 30 e 50 milhões de anos. Depende da
fonte.
O aglomerado é bem estudado e percebi que diversos
"papers"s associados a estrelas de baixa massa e disco de acreção são
associados ao mesmo. Uma vasta coleção destes pode ser obtida aqui.
IC
2391 na classificaçãoo Trumpler de aglomerados abertos é designado como II,3,p.
Isto significa que trata-se de um
aglomerado aberto que se destaca das estrelas de fundo com um núcleo estelar
bastante luminoso ( II) , algumas estrelas bem brilhante em paralelo com outras
mais fracas com um grande amplitude de magnitudes (3) e que o mesmo é pobre em estrelas. Com menos de 50 membros. (p). O aglomerado possui
cerca de 30. Com mais alguns candidatos de difícil percepção ótica e
possivelmente algumas anãs marrons... Foi realizado um profundo levantamento
otico de IC 2391 e surgiram diversos membros-candidatos.
Possui características óbvias de um jovem
aglomerado galáctico. Falamos a respeito disso aqui no Nuncius Australis
recentemente.
Conhecido ainda como o aglomerado de
Omicron Velorum e ainda Caldwell 85 na lista elaborada pelo finado Sir Patrick
Moore.
Localizar IC 2391 é tarefa fácil
para qualquer astrônomo ao sul do equador. Localize Delta Vela no asterismo
conhecido como o Falso Cruzeiro e o aglomerado sera percebido logo a nordeste da mesma.
É facilmente percebido a olho nu de céus suburbanos e mesmo em áreas urbanas
(Bortle 8 ou 9) ele se destaca com qualquer auxilio óptico. Na verdade com minha buscadora ótica, que com 50 mm é muito mais poderosa que as lunetas que Lacaille possuía, eu resolvo todos os seus principais membros
Já tendo visitado e fotografado este
diversas vezes gostaria de apresentar diversos resultados obtidos e através
deste apresentar varias facetas deste que é um dos aglomerados austrais mais
chamativos. Na verdade um dos aglomerados abertos mais brilhantes dos céus de
todo o mundo. Uma das jóias da coroa.
Esta foi a primeira foto astronômica
com foco direto que fiz. Aqui podemos perceber claramente os membros mais
brilhantes de IC 2391 e porque do apelido de Pequena Cassiopéia em memoria a
pequena e tradicional constelação boreal batizada em homenagem a vaidosa rainha
etíope. Utilizando o Newton ( meu refletor de 150mm) e empilhando algo como 15
fotos sem dark frames ou afins no Rot and Stack fiquei realizado. A história
desta foto me ensinou a não confiar cegamente em softwares de empilhamento de
imagens. Eles não irão presentar automaticamente uma imagem verdadeira do que
se vê. E não necessariamente isto será ruim. Só será falso. Veja aqui esta história...
Depois realizei mais fotos dele
utilizando meu velho refrator Galileu. Apesar do menor poder de fogo deste as
imagens demonstram a importância de céus escuros para a observação visual e
para a realização de registros fotográficos. Mesmo com menor poder de fogo as
imagens abaixo foram obtidas dos céus mais escuros de Búzios . Nos mesmos céus onde "descobri" IC
2391, A Pequena Cassiopéia. E percebe-se muito mais estrelas. Céus escuros são sempre o melhor equipamento. Em nome do fair play não posso deixar de dizer que a câmera também é outra . Aqui é uma Canon T3. Na primeira foto é a já pré histórica Rebel 350D.
Diferentes resultados frutos de diferentes
processamentos Apesar de digitais as fotos astronômicas ainda visitam o laboratório... .
Os light e dark frames utilizados são os mesmos em todas as fotos. 11 light frames de 20 segundos de exposiçãocom asa 3200. O Galileu é um refrator de 900 mm de distancia focal e com uma lente de 70 mm acromatica. Bastante modesto.
Canon T3 . Aqui foi utilizada uma lente zoom 75-300mm @ 100 mm f4. 9 light frames com 20 seg. ASA 3200. Percebe-se claramente Ngc 2516 no canto superior direito da foto. |
Ontem fotografei esse cluster e vim descobrir o que era por meio de seu blog. Agradeço por divulgar conteúdo tão importante!
ResponderExcluir