M 92 é primo irmão de M 28. São
ambos globulares de uma família que nasceu para ser ofuscada pela família dos
“Grandes Globulares”. M 28 é praticamente esquecido devido a sua proximidade de
M 22 (O Grande Aglomerado de Sagitário). M 92 sofre a mesma sina por habitar ne
mesma constelação de M 13 (O Grande Globular de Hércules). Em minha missão auto
imposta e já próxima do fim de fotografar todos os globulares Messier ele
acabou ficando para trás provavelmente devido a isto e também por passear baixo
no horizonte norte aqui pelas bandas do trópico de Capricórnio. Não bastasse
isto sua foto acabou esquecida em uma pasta errada de meu HD e este aglomerado
pé frio acabou esperando ainda mais tempo para ser aqui apresentado. Uma Tremenda injustiça...
Como
Burnham nos diz “M 92 é um lindo e rico aglomerado globular que em qualquer
outra constelação seria um espetáculo à parte. Mas em Hércules...”. Vocês podem
imaginar como termina esta sentença.
Localizado a
cerca de 6o norte de Pi Herculis, que é a estrela que marca o canto
nordeste do chamado “Keystone” de Hercules. Este é um asterismo em formato
trapezoidal que permite uma fácil identificação da constelação. Nos meus locais habituais de observação M 92
sofre um pouco com sua baixa altitude e é muito exposto a poluição luminosa.
Mesmo assim (em noites boas) ele é perceptível como uma estrela enevoada em
minha buscadora (50 mm) e evidente com meu 15X70 mm. Quando observado com o
“Galileu” (um refrator de 70 mm) com 90X de aumento desconfio de alguma
resolução em suas bordas. Ou ao menos um aspecto granular. Utilizando o Newton
(um refletor de 150 mm) e com 120X suas bordas se resolvem e M 92 começa a
mostrar seu charme.
M 92 retrabalhado. DSS+PixInsight+PS. É impressionante a semelhança com o registro de Trouvelot. (Um desenho). |
Perceber
M 92 não é difícil realmente. É um globular brilhante e certamente deve ser
mais interessante ainda se observado do hemisfério norte da terra. Sua orbita apresenta grande excentricidade e
este ao longo de seu passeio de 200 milhões de anos do centro galáctico pode se
encontrar a 5000 anos deste ou a 35.000 anos deste. Devido a precessão da
rotação do eixo da Terra em 14.000 anos ele se encontrará a menos de 1o do polo norte celeste e fora do alcance para
habitantes da cidade Maravilhosa... E
meu projeto para fotografar todos os “Globs Messier” ou iria para o brejo ou
sairia ainda mais caro.
M 92 reside,
no momento, a 25.400 ano luz da terra e com um diâmetro aparente de 14 ´ se
espalha por um latifúndio de quase 104 anos luz de universo. Sua descoberta se
deve a Bode que o observou em 1777. Este foi redescoberto de forma o
independente por Messier em 1781 e este nos diz tratar-se de “Uma bela e
conspícua nebulosa, bastante brilhante, entre o joelho e a perna esquerda de
Hercules. É claramente visível com um refrator de 1 pé (se refere a distância
focal do equipamento). Não contem nenhuma
estrela. Seu centro é limpo e brilhante. cercado por nebulosidade e recorda o
núcleo de um grande cometa...”. Herschel resolve o objeto e Smith, em 1844, relata:
“Um aglomerado globular de pequenas estrelas, precede a perna de Hercules. Este
objeto é grande, brilhante e resolvível (Smith utilizou sempre um refrator de
150 mm em seu trabalho), com um centro muito luminoso; e sob as melhores
condições apresenta as bordas irregulares e radiantes”. Smith no legou um
desenho de M 92. Trouvelot também desenhou
o aglomerado em 1877. Cem anos depois de sua descoberta.
M 92 é um
globular muito antigo e sua idade foi durante muito tempo paradoxal. Muito
pobre em metais houve um momento que ele seria mais velho que o próprio
universo. Em modelos antigos da evolução estelar em globulares acontecia este “pequeno”
problema. Mas isto devia-se a modelos cosmológico antigos onde a expansão do
universo desaceleraria. De qualquer forma ele é um ancião entre anciões. 14
bilhões de anos....
Smith |
Trouvelot |
Nos tempos de
Hipatia (minha montagem equatorial EQ 2-3) para localizar M 92 eu, geralmente,
mirava com meu “red dot Finder” em Pi Herculis e calculava o salto até o
aglomerado por esta. Depois partia para a minha buscadora optica (8X50 mm) e
geralmente com rápida escaneada chegava até ele. M 92 passeia bem baixo no
horizonte e pode ser enganadoramente estelar de Búzios e muito discreto do Rio.
O´Meara nos diz que é facilmente perceptível
a olho nu. Com magnitude 6.5 é uma possibilidade. Se você morar em um local
muito escuro e ao norte do equador.
As fotos que
fiz do globular demonstram bem isto. Foram realizadas em Búzios 21 de julho de
2017. Mesmo com a lua quase nova havia muita nebulosidade no ar e embora a
maioria dos mortais acredita-se ser uma noite “limpa” eu sabia que a
transparência não estava lá estas coisas. O sensor de minha câmera sabia disto
também e o ruído nas fotos evidencia isto mais ainda.
Existe um
recurso no Deep Sky Stacker (um software para astrofografia) que permite
“ampliar” os objetos fotografados. Na verdade, você determina uma região a ser
empilhada nas fotos capturadas utilizando o recurso de Drizzle deste. Quando
suas fotos estão muito boas este pode revelar vários detalhes. Quando não este
pode revelar muito ruído. Com “2X Drizzle” este se torna muito evidente e com
“3X Drizzle” insuportável. A técnica de
drizzle foi elaborada pela NASA para as observações feitas pelo “Hubble Deep
Field”. De maneira simples o que ela faz é que um objeto que na captura inicial
ocupava apenas x pixels passe a ocupar 2x pixels (2X Drizzle) ou 3x pixels (3X
Drizzle) na imagem processada.
sem drizzle |
2 X drizzle |
3 x drizzle |
Desta forma
apresento aqui M 92 em todas as suas versões fotográficas por mim obtidas.
Tentei utilizar diversos softwares para melhora a coisa, mas sem grande
sucesso. E curiosamente quando tentei utilizar o PixInsight para remover o
gradiente das fotos o ruído se tornou ainda pior. Apesar deste ser um programa
mais poderoso ele, neste caso, rendeu menos que o Fitswork na tarefa.
Acho
importante frisar que a captura sofreu muito com a nebulosidade e diversos
objetos fotografados na mesma noite passaram pelo mesmo problema. Evidentemente
que DSO´s que se encontravam mais altos no céu foram menos influenciados. O DSS
já dava dicas de problemas na captura de M 92. Dos 30 frames capturados ele
nunca aceitou mais que 18. E mesmo assim com um limite muito baixo. Nas fotos
aqui apresentadas e com um “threshold” de 9% ele só aceitou 11 fotos das 30 realizadas.
As exposições foram de 30 segundos e o ISO 1600.
As fotos foram
realizadas com o Newton, uma Canon T3 montadas sobre uma montagem equatorial
HEQ 5 Pro da Skywatcher. Na observação visual este mal se apresentava na
buscadora e havia muito pouca resolução nas bordas com 120 X de aumento.
Mas missão dada missão cumprida. Faltam-me
fotografar M 73 e M 68 no “Projeto Globulares Messier”. Como estou trabalhando
até 22 de dezembro em busca do vil metal e com a esperança de poder me dar de
presente um sistema de acompanhamento para o Newton este vai ficar para 2018...
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