O quingentésimo post do Nuncius
Australis é um marco. Nunca esperei chegar tão longe. Depois de meses sem
nenhuma produção achei que era hora de ressuscitar o blog. Realmente os tempos
atuais não têm me animado muito a escrever. Observo um crescente descrédito as
coisas da ciência e uma profunda desinteresse entre a população. Para piorar é política
pública declarar que a ignorância é tão boa quanto o saber. E que educação é a mesma coisa que ideologia.
Como não é, em um esforço "dessassosegado" quase
digno de Pessoa para despertar em sua “Floresta do Alheamento”, eu decidi que
apesar do pouco alcance deste blog é um trabalho que deve ser feito e que se
alcançar um jovem que seja já será valido em tempos tão cinzentos.
Desta forma chegamos a primeira
entrada realmente duvidosa do Catálogo Messier. É aceito por todos os autores clássicos
e mesmo alguns mais modernos que Messier certamente observou todas as entradas
de seu catálogo até a de número 104. Mesmo que a maior parte das contribuições
mais tardias tenhas sido descoberta de Méchain.
A sua entrada no catálogo Messier
como conhecemos hoje foi uma invenção da Astrônoma americana nascida canadense
Helen Sawyer Hogg. Ela inclui M 105, M106 e M 107 ao catálogo em 1947. Ela descobriu uma carta datada de 6 de maio de
1783 de Méchain para Bernoulli onde o autor diz: “O senhor Messier menciona nas
páginas 264 e 265 duas estrelas nebulosas as quais descobri (M 95 e M 96). Não
achei nada a corrigir sobre a suas posições as quais determinei a partir de Regulus. Há, entretanto, uma terceira mais ao norte
que é ainda mais vívida que as duas precedentes. Esta descobri em 24 de maio de
1781, quatro ou 5 dias depois das duas primeiras.”
Hoog rapidamente identificou a
descoberta de Méchain com Ngc 3379. O resto é história.
Apesar de Méchain considerar M 105
um alvo mais fácil que M 95 e M 96 eu particularmente acho que o jogo é
empatado. Nenhuma delas é alvo visual fácil e um local escuro é fundamental
para sua observação visual. M 105 é um a galáxia elíptica o que, geralmente,
torna seu brilho de superfície um pouco mais amigável que galáxias espirais.
Mas não espere detalhes nem mesmo com telescópios bastante robustos.
M 105 possui duas discretas
companheiras em seu campo e forma um mini tripleto. Parece ser uma tradição
pelas bandas de Leão. Mas não se deixe enganar. Embora M 105 e Ngc 3384 sejamhabitantes do mais próximo grupo de Galáxias Leo I o terceiro membro (Ngc 3389)habita o muito mais distante Grupo Leo II. Sua aparente proximidade é apenas umalinhamento casual.
Herschel descobre M 105 de forma
independente em 11 de março de 1784.
Smyth no clássico Cycles of Celestial
Objects cita M 105 em sua entrada a respeito de Ngc 3384 ( o que demonstra que não se trata de
um showpiece) : “ Um par de
nebulosas brilhantes, sp [sul precede,
SO] e nf [norte segue, NE] um do outro, na barriga do leão, descoberto por William Herschel em março de 1783 e nº 758
(NGC 3384) no catálogo de seu filho; enquanto que a uma pequena distância da nf
[norte segue, NE] é uma estrela dupla, porém limpa, minuciosa. Estas são duas
das três nebulosas descritas por ambos Herschels [Messier 105 e NGC 3384]; mas
o terceiro [NGC 3389] não posso distinguir, a menos que seja um brilho no sf
[sul segue, SE], em uma linha vertical com duas pequenas estrelas. Agora nos
aproximamos de uma região onde essas misteriosas massas luminosas estão
espalhadas pela vasta concavidade dos céus, em profusão verdadeiramente
ilimitada; e neles, todos os verdadeiros herschelianos devem ver poderosos
laboratórios do universo, nos quais estão contidos os princípios dos futuros
sistemas de sóis, planetas e satélites!”
Podemos perceber pela descrição de
Smyth a quantas andava a cosmologia no século XIX. A hipótese nebular de Herschel
era o que havia de mais moderno e a verdadeira natureza das galáxias ainda era
algo mais próximo a filosofia que a astrofísica. Kant tinha um palpite bem
melhor ...
Para localizar M 105 a receita de
Smyth é perfeita e dispensa novos adendos. Mas eu confesso que demorei anos até
localizá-la visualmente. É um alvo fotográfico bem mais amigável.
M 95 , M 96 e o tripleto de M 105 |
O Meara em seu “Deep Sky Companions:
The Messier Objects” faz uma descrição bastante apaixonada de M 105 e a
considera “uma elegante elíptica ... é talvez o mais “puro” dos objetos do catálogo
Messier. Por isto compreendo que seu
disco levemente ovalado apresenta a menor soma de imperfeições. Lógico que com meros 4´não há muito espaço
para imperfeições. Para nossos olhos M 105 reside apenas 1o norte e
levemente a leste de suas companheira M 95 e M 96. Mas na realidade se encontra
a 400:000 anos luz destas”. Mas apesar do comentário todas são membras de Leo I
e em termos galácticos vizinhas bem próximas. Com pequenas ampliações é possível
espremer o trio dentro de um campo ocular.
Burnham em seu “Celestial Handbook”
fala brevemente em M105, mas não considera esta uma entrada valida no catálogo
Messier. Ele encerra esse em M 104.
Todas as fotos aqui apresentadas têm como
matriz uma captura de 30X 45 segundos ISO 1600 com uma lente Pentax 300 mm f
3.5. As imagens foram empilhadas no DSS e posteriormente esticadas no PixInsight.
Parabéns pelo qüingentésimo post. Sempre que posso leio seu blog; o conteúdo é excelente . Continue com esse maravilhoso trabalho. Um grande abraço
ResponderExcluirPs: Realmente o alinhamento polar preciso para nosso céu do hemisfério sul não é nada fácil . Eu mesmo relutei em ter uma montagem equatorial por anos , pois sabia da enorme dificuldade do processo , principalmente se o objetivo for astrofotografia . Foi então que adquiri a polemaster da qhy. Com um pouquinho de prática e visão direta do pólo Celeste ,em questão de menos de 10 minutos , vc consegue um alinhamento polar com precisão , de no mínimo , 40 segundos de arco. Foi o melhor investimento q fiz em astronomia em toda minha vida . Vc não irá se arrepender