Quando falamos em globulares a
separação entre o norte e o sul do planeta se acentua ainda mais que a já
batida diferenciação econômica que permeou nossas aulas de geografia no ensino
médio. Toda aquela besteirada determinista sobre fatores climáticos e o desenvolvimento
vai para o brejo. Quando falamos em globulares os habitantes das terras meridionais levam imensa vantagem. Nas terras ao sul do Equador reinam
soberanos Ômega Centauro, Tuc 47e M 22.
Já para os habitantes setentrionais
do planeta a trindade é composta por M 13, M 5 e M3. A Comparação entre os santos é injusta. O
terceiro colocado no hemisfério sul é muito maior e vistoso que o primeiro no
Hemisfério Norte.
Como falei no post a respeito de M 9
tudo é relativo ao observador. No caso ao lugar na terra onde o observador se
encontra.
Normalmente quando vou fazer uma
apresentação de um objeto do Catalogo Messier a primeira fonte que busco é o
Catalogo Messier. Bastante obvio. Herschel pai e filho geralmente resolveram os
objetos e são paradas obrigatória. A seguir geralmente chego a Smith com seu “The
Cycles of Celestial Objects – The Bedford Catalog”. Smith é um amador “profissional”
e suas descrições são historicamente fundamentais e geralmente bonitas. E finalmente tenho como escudeiros meus contemporâneos
O ‘Meara e Stoyan. As páginas da SEDS e
algumas outras (The Messier Objects e Astronomy Today) também são fontes que
tenho na mais alta consideração.
Mas de tempos em tempos me lembro
porque Burnham e seu “Celestial Handbook” (anos de 1970) é meu guia astronômico
favorito. (Só será encontrado usado. Mas
a Amazon pode ajudar... https://www.amazon.com/Burnhams-Celestial-Handbook-Observers-Universe/dp/B0020CBL5E/ref=pd_lpo_sbs_14_t_0?_encoding=UTF8&psc=1&refRID=1FG3WKY8V60ZP8P62WDJ
)
Em primeiro lugar porque Burnham é
uma figura quixotesca e me identifico muito com conquistadores do inútil. E em
segundo porque ele escreve muito bem e em três volumes é difícil deixar algo
para trás. E assim ele me recorda que além de Smith existem outros autores clássicos
(e que eu possuo no HD) que devem ser lembrados. Ollcot, Webb, Serviss e “last
but not least” Mary Proctor são autores fundamentais.
Finalmente tinha fotografado M 5.
Uma das maravilhas globulares para os habitantes das zonas temperadas e
desenvolvidas do Hemisfério Norte. Berço natural da Astronomia Amadora (não é exatamente
um esporte barato...).
Para ser sincero eu nem sabia que
ele era essa maravilha toda. Mas com a missão auto imposta de fotografar todosos globulares Messier cheguei até ele na última comemoração da Aporema. O fotografei de forma descompromissada já
baixo no Horizonte Noroeste e realizei menos exposições do que eu gostaria e do
que ele merece. Mas a poluição luminosa da Armação dos Búzios naquela direção e
um céu de transparência duvidosa me levaram a crer que o ruído era excessivo e
estava de bom tamanho. Afinal era apenas mais um dos globulares Messier em meio
a massa e meu objetivo como astro fotografo está mais para registrar tudo que
existe do que para arte...
M 5 se localiza em Serpens (Serpente).
A única constelação do céu que se divide em duas partes e que se enrosca em
Ophiuchus. Habita próximo a famosa “Nebulosa da Águia” (M 16). Talvez por isto
tenha me passado desapercebido por tanto tempo.
Burnham inicia nos contando que M 5 é
um dos grandes shows do céu de verão (lá para eles. Aqui será inverno) ranqueando junto com M 13 em Hércules e M 3 em Canes Venatici como um dos três mais belos globulares
da metade norte do céu. Seu brilho garante o quinto lugar em todo o céu atrás
apenas de Ômega Centauro, 47 Tucanae, M 22 e M 13.
M 5 foi descoberto por Gottfried
Kirch em 5 de maio de 1702 enquanto este procurava por um cometa. Isto segundo
um relato de sua esposa. Kirch foi descobridor também de M 11 (Aglomerado do
Pato Selvagem) e de um cometa em 1680 (C/1680 V1)
. A seguir Burnham segue o caminho de todos e apresenta a descrição de Messier que eu não posso deixar de apresentar por aqui:
. A seguir Burnham segue o caminho de todos e apresenta a descrição de Messier que eu não posso deixar de apresentar por aqui:
“[Observado em 23 de maio ,1764].
Linda nébula descoberta entra Libra e Serpens próxima a estrela de sexta magnitude
Flamsteed 5 Serpentis. Não contém nenhuma estrela, é arredondada e pode ser
muito bem vista sob bons céus com um refrator simples de 1 pé. M. Messier a
localizou na carta paro o cometa de 1753, Memoires de l´Acaddemie 1774 pag. 40.
Observado novamente em 5 de setembro 1780 e 22 de março de 1781”
Burnham segue o caminho natural das
coisas e apresenta a bela descrição de Smith que destaca como M 5 possui um núcleo
ainda mais brilhante que M 3.
O Refrator de 1 m de Yerkes.... |
Finalmente ele me lembra porque
gosto tanto de seu livro. Ele localiza a belíssima descrição de Mary Proctor (
uma das maiores divulgadoras da astronomia amadora no início do século XX) no
seu doce e gentil “ Evenings with the Stars” (1924) onde
ela faz uma apresentação delicada de suas impressões sobre M 5 depois de
observar este do maior refrator do mundo ( 1 metro de lente...) localizado no
Observatório de Yerkes: “Miríade de cintilantes pontos brilhando sobre um fundo
de bruma estrelada, iluminada como pela luz da lua, formando um incrível contraste
contra a escuridão do céu noturno. Durante poucos momentos felizes, durante os
quais o observador vaga por esta cena, sugere um verdadeiro vislumbre dos céus além…”
(https://archive.org/details/EveningsWithTheStars
)
Neste
momento Burnham se apresenta . Supondo que você é um astrônomo amador
você certamente conhece um conto (que posteriormente se tornou um curto
romance) do Isaac Asimov chamado “Nightfall” (“O Cair da Noite” em português. É
o único livro até agora citado que foi traduzido para o português. Não é fácil levar
as coisas a sério na Pindorama). Ele (Asimov) nos conta a história de um
planeta (Kalgash) que habita um sistema sêxtuplo de estrelas e que desta forma
só conhece a noite a cada 2049 anos. Desta forma seus habitantes não possuem
defesas psicológicas para a escuridão total da Noite. Mas a história nos
surpreende e pior que a escuridão é quando eles descobrem que habitam dentro de
um imenso aglomerado. Quando o ultimo de seus sóis se eclipsa eles são
aterrorizados pela maravilha de milhares de estrelas de primeira magnitude
brilhado na sua noite... Quase todos enlouquecem.
O Ritchey Cretien de 1m do Observatório Naval em Flagstaff |
Burnham
leu o apocalíptico (é este o adjetivo utilizado ...) romance dois dias depois (eu
li em uma noite) de observar M 5 pelo belíssimo refletor Ritchey-Chretien de 40
polegadas do Observatório Naval baseado em Flagstaff, Arizona. Burnham
considerou a visão estonteante e foi como se “ Os vagalumes de um milhar de
noites de verão tivessem se reunido, congelados para sempre no tempo, e
suspensos entre as estrelas”. Segundo
ele Asimov não tinha nenhum aglomerado particular em mente quando escreveu “Nightfall”
mas para o autor do “ Celestial Handbook” este será sempre M 5.
Eu
admito que para mim será sempre M 22.
"Nightfall" foi inspirado pelo seguintes palavras de Emerson no seu ensaio "Nature":
"Se as estrelas pudessem aparecer uma noite a cada mil anos, como poderia o homem acreditar e adorar , e preservar por muitas gerações, a lembrança da Cidade de Deus que lhe foi mostrada"
Quem nunca leu o livro deve ler.(https://sites.uni.edu/morgans/astro/course/nightfall.pdf ) . Esse link te levará ao conto escrito por Asimov. Posteriormente ele escreveu, junto com Silverberg , (SEI QUE ESTOU ME TORNANDO REPETITIVO. MAS É IMPORTANTE) um curto romance desenvolvendo a ideia. Recomendo fortemente a leitura de ambos.
"Nightfall" foi inspirado pelo seguintes palavras de Emerson no seu ensaio "Nature":
"Se as estrelas pudessem aparecer uma noite a cada mil anos, como poderia o homem acreditar e adorar , e preservar por muitas gerações, a lembrança da Cidade de Deus que lhe foi mostrada"
Quem nunca leu o livro deve ler.(https://sites.uni.edu/morgans/astro/course/nightfall.pdf ) . Esse link te levará ao conto escrito por Asimov. Posteriormente ele escreveu, junto com Silverberg , (SEI QUE ESTOU ME TORNANDO REPETITIVO. MAS É IMPORTANTE) um curto romance desenvolvendo a ideia. Recomendo fortemente a leitura de ambos.
Observando M 5 com o
Newton (um refletor 150 mm) com 70X de aumento das terras de José Eustáquio (Armação
de Búzios) eu não tenho tamanha emoção. Mas como já disse a noite era longe do
ideal e o aglomerado já ia bem baixo no horizonte. Observei na mesma noite M 3
mais alto no horizonte e este me impressionou mais. Agora comparando as fotos (especialmente as sem drizzle) M5 é claramente maior. Percebi um núcleo bem brilhante com um halo aonde,
com visão periférica, piscam algumas estrelas. Estas sim como vagalumes. Um aqui,
outro ali e um outro acolá.... Tudo é relativo e o que você vai ver junto a
ocular de um telescópio é uma incerteza. Ele é percebido como uma pequena
estrela enevoada pela minha buscadora 8X50 mm.
M
5 se encontra a cerca de 25.000 anos luz de nós. Possui um grande número de variáveis,
em sua maioria as típicas, para globs, RR Lyrae (95) registradas até 1975. Seu período
médio é de 0,5 dias e a magnitude média destas é 14.9.
Harlow Shapley, em
1917, utilizou as variáveis de M 5 para testar a hipótese de que a velocidade
da luz poderia variar levemente em função de seu comprimento de onda. Medindo a
máxima tanto em estrelas amarelas como em azuis foi demonstrado que a maior
possibilidade de diferença entre estas não poderia exceder uma parte em 20.000.000.000.
É aceito hoje em dia (desde então) que não há diferença detectável e que toda
energia radiante viaja a mesma velocidade pelo espaço.
M
5 é um dos mais antigos globulares conhecidos e como a maioria destes é
originando nos mais primitivos estágios da formação de nossa galáxia. Sua idade é estimada entre 10 e 13 bilhões de
anos.
Localizar M 5 é tarefa relativamente simples. Localize Alpha Serpentis. É a estrela mais brilhante da constelação e facilmente localizável a sudeste de Arcturus. A partir dela caminho entre dois e meio e três campos oculares ( você deve conhecer sua buscadora...) rumo SSO. O aglomerado será evidente mesmo baixo no horizonte e em una noite ruim. No mesmo campo habita 5 Serpentis uma estrela dupla de 5 magnitude e visivel a olho nu em locais escuros.
Localizar M 5 é tarefa relativamente simples. Localize Alpha Serpentis. É a estrela mais brilhante da constelação e facilmente localizável a sudeste de Arcturus. A partir dela caminho entre dois e meio e três campos oculares ( você deve conhecer sua buscadora...) rumo SSO. O aglomerado será evidente mesmo baixo no horizonte e em una noite ruim. No mesmo campo habita 5 Serpentis uma estrela dupla de 5 magnitude e visivel a olho nu em locais escuros.
Espero
ter a oportunidade de observa-lo novamente de latitudes mais setentrionais em
um futuro próximo. E certamente vou dar
uma nova chance a ele em condições mais favoráveis na próxima janela de
observação....
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