É um desafiador objeto para ser
percebido a olho nu e suas estrelas são um excelente teste para telescópios. Diversas
fontes (SEDS, The Messier Objects, O´Meara e cia. LTDA.) falam que o mesmo é perceptível
a olho nu em céus de cristal (O ‘Meara nos fala de um alvo fácil a partir do Havaí)
e de um esfuminho com qualquer auxilio ótico. Já com um telescópio de 100 mm
este vai apresentar um núcleo compacto e brilhante envolvido em um arredondado
e granulado e manchado brilho que desaparece lenta e uniformemente em direção a
suas bordas exteriores; este não resolve o aglomerado, mas mostra algumas de
suas estrelas mais brilhantes sob boas condições de transparência e seeing. Um
150 mm resolve os dois terços externos em fracas estrelas sobre um fundo de
membro mais tênues do aglomerado. Um 200 mm mostra estrelas através de todo
globular com exceção de seu círculo mais interno, o qual é resolvido por
aparelhos com mais de 300 mm.
M 3 é um dos mais brilhantes
aglomerados dos céus e é extremamente estudado. Para os habitantes de terras
boreais faz par com M 13 como um dos Globulares mais bacanas. Para nós austrais
ele não chega a impressionar. Um belo aglomerado, mas que em comparação a Ômega
Centauro, Tuc 47 e M 22 o mesmo fica um pouco a desejar...
Foi um dos últimos globulares do
catalogo Messier que observei. Apesar de
conhecer sua história e os elogios rasgados que são comuns a ele nos textos clássicos
(e escritos no hemisfério norte...) eu acabava sempre vencido pelo difícil starhoop
que conduz até o mesmo bem como pelas condições do horizonte norte em quase
todos os meus locais de observação mais comuns. Tanto em Búzios como na
Stonehenge dos Pobres (Rio de Janeiro) ele é bastante ofuscado pela poluição
luminosa.
Conta a lenda que M 3 foi o gatilho
para Messier realmente se empolgar e dar a partida em sua busca mais
sistemática por nebulosas que pudessem confundir-se com cometas. As datas das
observações parecem sustentar esta hipótese.
M 1 foi descoberta em 1758 e M 2
em 1760. Passaram-se 4 anos até a descoberta de M 3 no início de 1764. E até o
final do ano Messier já havia chegado até M 40. E depois disto as entradas 41,
42,43,44 e 45 eram objetos já manjados e parece que entraram para este superar
o número de entradas no catalogo organizado por Lacaille para a primeira versão
do Catalogo Messier.
Sua apresentação de M 3 também
parece dar suporte a história: “ Em maio 3, 1764, quando trabalhando sobre um catalogo de nebulosas, eu descobri uma
entre Bootes e os “Cães de Caça” (Cane Venattici) de Hevelius, o mais ao sul
dos dois, exatamente entre sua cauda e suas patas, de acordo com as cartas de
Flamsteed. (N.T. -Hevelius criou a constelação e as cartas utilizadas por
Messier foram os planisférios (verdadeiras obras de arte) desenhadas por Flamsteed.).
Eu observei esta nebulosa cruzando o meridiano & eu comparei com Mu Bootis:
Sua ascenção reta foi achada como 202o 51´19´´, & sua declinação
como 29o 32´ 57´´ norte. Esta nebulosa que examinei com um
telescópio gregoriano de 30 polegadas (76,2 cm) de distância focal e com 104
vezes de aumento, não contém nenhuma estrela; o centro é brilhante e sua luz
vai se apagando rumo ao exterior. É arredondada e pode ter 3 minutos de arco de
diâmetro. Alguém a pode ver em um bom céu com um telescópio ordinário (não acromático)
de um pé (D.F.) ”
Sem Drizzle. Visualmente ele ainda é mais discreto. Pelo menos em céus suburbanos ( bortle 6/7) |
William Herschel é o primeiro em
resolver o aglomerado em estrelas. Mas cabe ao Admiral Smyth a mais bela
descrição do período clássico de M 3 e apresentada em seu “The Bedford Catalog.
” Bedford foi o local de onde Smyth observou (com um refrator de 150 mm) todos
os objetos que estão no catalogo Bedford e que compõe o segundo volume de seu "The
Cycles of Celestial Objects”. Como quase
todos os guias observacionais clássicos ou modernos nunca foi traduzido para a língua
de Camões. E assim espero não assassinar o texto em um inglês Vitoriano:
“ Um
brilhante e lindo globular congregando não menos que 1000 pequenas estrelas,
entre o Cão Austral e o Joelho do Boieiro; este brilha esplendidamente em
direção ao centro e possui anexos (outliers) em todas as direções, exceto a sf (South following. Sudeste), onde é
tão comprimido que com suas retardatárias, possui um que da figura da luminosa
criatura oceânica chamada de Medusa pellucens. Este nobre objeto é situado em
um triangulo formado por três pequenas nos quadrantes n.p. (North preceding,
Noroeste), nf (north following, NE. e sf (South following, SE) as quais por seu
brilho comparativo acrescentam ainda mais beleza ao campo. É próxima a distância
central entre Arcturus e Cor Caroli, a 11o noroeste da última
estrela. Esta massa é uma daquelas bolas de compactas e cunhadas estrelas cuja
as leis de agregação são impossíveis de determinar; mas que a rotundicidade de
sua figura nos dá uma completa indicação de um vínculo geral de atração. Foi descoberto
em 1764 por Messier que a descreveu como uma “ nébula sem estrelas brilhante e
arredondada”. Seu instrumento deve ter sido bastante modesto para não resolver
este objeto, e a matéria de arrependimento que os esforços de tal homem terem
sido restringidos por seus meios. Posteriormente foi descrita como uma Nebulosa
granulada. Mas em 1784, Sir W. Herschel atacou com seu refletor de 20 pés a
resolveu “um lindo aglomerado de estrelas, de 5´ou 6´em diâmetro”. Pelo
processo de calibração, o qual ele descreveu na integra, ele estimou a sua profundidade
como de 243a ordem. ”
O sistema de calibragem de Herschel
tem hoje caráter puramente histórico, mas o significado das palavras é de que M
3 se encontraria 243 vezes mais distante que Sirius.
Observei M3 em condições bem abaixo
do ideal. Já baixa no horizonte noroeste e sob um céu suburbano. Com o “Newton”
(um refletor de 150 mm) devo concordar com as possibilidades descritas por
quase todos. Sou capaz de perceber um núcleo bem brilhante e algumas estrelas
no entorno. Poucas. Com visão direta nenhuma... isto com 120 x de Aumento. Com
o auxílio luxuoso da tecnologia e de uma Canon T3 resolvo o objeto como um 200
mm. Creio eu...
M3 é um belo aglomerado e um belo
desafio para observadores no tropico de Capricórnio. Sempre tentei realizar o
star hoop utilizando um caminho semelhante ao descrito por Smyth. Um chute
culto entre Arcturus e Cor Caroli. Mas só acabei chegando até ele com o a ajuda
de Mlle. Herschel (Uma cabeça equatorial HEQ 5 pro) que fez o serviço sozinha.
As fotos aqui realizadas são
resultado do empilhamento de 12 frames de 30 segundos (captura em RAW) mais o
uso de 12 darks para calibrar o fundo. O stacking foi realizado no DSS e
utilizei o Fits para melhorar o gradiente de fundo. Posteriormente ajustes no
Photoshop CS. A foto que atualmente abre o post é resultado de um pós processamento realizado com o DSS +PixInsight+ PhotoShop.
M 3 é um dos mais estudados
aglomerados da galáxia. Localizado a 38.800 anos luz do centro galáctico e em
direção oposta ao centro galáctico foge um pouco do esquadro. Possui uma rota
bastante eclíptica e inclinada em relação ao plano galáctico. Mesmo distante brilha com magnitude 6.2.
Aceitando-se um diâmetro de 18 ´ ele se espalha por uma distância linear de 180
anos luz. Mas seus “braços gravitacionais”
podem se estender por 760 anos luz de diâmetro.
M 3 possui também uma diversidade incrível
de tipos e gêneros estelares. São conhecidas 235 variáveis. 187 RR Lyras (muito
comuns a globulares), muitas Blue Stragglers (Gigantes azuis que há muito
deveriam ter deixado de existir e que são fruto da interação de 2 ou mais
estrelas na história do globular e que assim parecem ter bebido do elixir da
juventude, e mais dezenas de outros tipos de variáveis... um rico campo de
prova e que assim tem sua idade bastante discutida. As apostas vão de 8 a 20
bilhões de anos. Muito rico em metais (para um globular) M 3 serve como protótipo para
os aglomerados do tipo Oosterhoff I. A
classificação Oosterhooff é uma dicotomia entre globulares e um tópico recente
na cosmologia destes DSO´s
M 3 é um belo alvo de interesse
visual, histórico, cosmológico e outras cositas más. Uma parada obrigatória...
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