Com
o projeto “Sul Profundo” (um livro sobre a obra de Lacaille e seu Catalogo de
Nebulosas) em seus retoques finais tenho me dedicado muito em organizar minhas
observações e fotos do Catalogo Messier. Com quase todos os globulares deste já
fotografados me deparei com uma foto perdida em meu HD de M 23. Fiquei feliz em
poder mudar um pouco de espécie. Um
belíssimo aberto em Sagitário. A primeira coisa que me ocorreu é como este DSO
escapou do escrutínio do Abbe Lacaille em seu pioneiro trabalho realizado em
1751/52. É um alvo evidente com qualquer auxílio ótico e perceptível mesmo a
olho nu em céus bem escuros. Tudo bem que habita uma região tão rica da Via Láctea
que pode ser considerado uma espécie de primo pobre. Fosse este encravado em
quase qualquer outra região do céu e seria cantado em prosa e verso. Se localiza próximo demais das famosas
Nebulosa da Lagoa (M8) e da Nebulosa Trífida (M20) mas, ao contrário de M 21 (que
reside bem ao lado destas), longe demais... E desta forma muito vezes é
relegado ao esquecimento.
M 23 (Ngc 6494) se localiza a noroeste
do asterismo do “Bule” que é formado pelas estrelas mais brilhantes de
Sagitário. Mais precisamente a 2,5o norte e 3,5o oeste do
belo sistema múltiplo formado por Mu Sagittarii.
Messier descobriu esta joia e a
inclui já na primeira versão de seu catalogo de nebulosas publicado em 1771:
“ Na noite de 20 para 21 de Junho de
1764 , eu determinei a posição de um
aglomerado de pequenas estrelas o qual é situado entre a extremidade norte do
arco de Sagitário e do pé direito de Ophiuchus , muito próximo de uma estrela
de 6a magnitude , a sexagésima quinta da última constelação ( Oph)
segundo o Catalogo de Flamsteed: Estas estrelas são muito próximas umas das outras
e não há nenhuma que possa ser vista facilmente com um refrator comum ( não
acromático) de três pés e meio (distância focal) e que foi utilizado para estas
pequenas estrelas. O diâmetro geral é de cerca de 15 minutos de arco. Eu
determinei sua posição comparando o centro com a estrela Mu Sagitarii: Eu achei
a ascenção reta de 265o 44´50´´ e sua declinação de 18o45´55´´
sul. ”
Conforme passou-se o tempo e
melhores telescópios foram apontados para M 23 o aglomerado cresceu. Ainda no
séc. XVII Herschel já nos fala em “ ... um aglomerado de lindas e esparsas
estrelas de magnitudes quase iguais (visível em minha buscadora), se estende por
muito além do campo que o telescópio abarca, e que pela buscadora parece se estender
por cerca de meio grau. ”
Flammarion , o astrônomo espirita
que psicografou algumas entradas póstumas para o Catalogo Messier, destaca um círculo de seis estrelas junto a seu
centro com “nove estrelas em arco” na porção NE do aglomerado.
Burnham já no século XX nos fala em
25´e apresenta as observações de K.G. Jones (1968) onde este vê “três ou mais”
das cadeias de estrelas parecem ser porções de arcos concêntricos os quais
parecem focalizar a brilhante estrela (mag. 8.23) no lado NE do aglomerado.
Dados ainda mais atuais nos dizer
que M 23 possui 27´. Classificado como um aglomerado I 2 r na escala Trumpler
implica que este possui uma forte concentração central, se destaca das estrelas
do campo a seu redor (I), suas estrelas possuem uma moderada variação de brilho
(2) e é um aglomerado rico com mais de 100 membros (r).
M 23 possui 176 membros confirmados.
A maioria de suas estrelas encontra-se 10a e 13a magnitude
e mais de 100 de sus membros estão acima de 13a. Seu raio é algo entre
15 e 20 anos luz e com no mínimo de 220 milhões de anos pode ser um aberto “antigo”.
Quando observado com binóculos (10x50
mm) percebo o aglomerado como uma condensação de luz com algumas estrelas no
limite da resolução. Uma brilhante estrela de magnitude 6,5 9 (HR 6679 ou HIP
87782 ou HD163245) vai se destacar no canto noroeste. Não é um membro verdadeiro do
aglomerado. Está a apenas 320 anos luz de nós enquanto M 23 esta a mais de
2100. Com meu 15X70 mm algumas estrelas do aglomerado se resolvem com mais
dignidade. Com o “Newton” (um refletor de 150 mm f8) com 60X de aumento
diversas dúzias de estrelas se resolvem e o aglomerado começa a ser
espetacular.
Como localizei a foto perdida de M 23
poucos minutos depois de saber da morte do meu querido sambista “bluseiro” e
devido a elegância discreta , poética e com um que de maldito deste DSO não resisti e tive de apelida-lo
como o “Aglomerado Pérola Negra”.
bacana o relato e bonita homenagem
ResponderExcluirgrande abraço
Fabio