M
71 é um dos globulares Messier menos densos. Dependendo da fonte ele é um
globular classe X (escala Shapley). E assim mais denso que M 55. Em outras
fontes ambos dividem a classe XI. Da mesma forma que M 55 sua aparência recorda
em muito aglomerados abertos extremamente densos com M 11 ou Ngc 2477. Quando
comparo sua imagem com estes me inclino mais para a classe X. Cada um com seu cada um. M 71 e M55 não poderiam ser visualmente mais diferentes do que são.
Na verdade, sua classificação como
aglomerado globular é controversa. O
próprio Shapley o classificou como um aglomerado do tipo “g” (sua categoria
para abertos superdensos). Shapley criou escalas tanto para aglomerados
globulares como para abertos. A dúvida se arrastou por várias décadas.
Em 1943 James Cuffey, do Observatório
Kirkwood, chegou à conclusão que este pendia mais par um frouxo aglomerado
globular. Posteriormente, em 1959, o mesmo Cuffey obteve um diagrama de
Cor-magnitude que retornou M 71 para a seara dos abertos.
Atualmente M 71 é considerado
novamente um globular. Mas um “todo estranho”. Sua metalicidade é extremamente
elevada (17% dos elementos pesados presentes no sol). Não possui nenhuma
variável do tipo RR Lyrae, que são típicas de globs e não bastasse isto tem uma
velocidade radial que embora controversa é muito baixa. E ainda por cima possui
uma estrela, Z Sagittae, que é uma das poucas gigantes do tipo M conhecida. Até
o momento existem apenas mais 5...
Só por isto ele já seria um alvo de
grande interesse. Mas tem mais. Ele é extremamente jovem para um glob. Com apenas 9 ou 10 bilhões de anos.
Com a evolução do nosso conhecimento
das estruturas estelares no universo o modelo paleolítico de que globulares se
formaram nos primórdios do universo e são habitantes exclusivos do halo das
galáxias se tornou um pouco duvidoso. Hoje acha-se que a maior parte destes se
formou naqueles tempos. Mas acredita-se que imensos aglomerados abertos muito
jovens podem vir a tornar-se estruturas semelhante a globulares no futuro. O
aglomerado que habita o coração da Nebulosa da Tarântula na Grande Nuvem de
Magalhães e Westerlund 2 na nossa galáxia são candidatos ao processo. M 71 é uma espécie de elo intermediário.
M 71 é facilmente localizável. Ele
habita no centro da linha que liga Gamma Sagittae e Delta Sagittae na discreta,
porém obvia constelação de Sagitta. Esta é perceptível mesmo em céus suburbanos
encravada no famoso “Triangulo de Verão” (aqui de inverno.Quase primaveril.) que é formado pelas Brilhantes estrelas,
Deneb, Vega e Altair.
Pela buscadora ele é pouco mais que
um esfuminho e não o considero um alvo fácil binocular. Diversos autores o
consideram obvio. Céus escuros devem ajudar muito neste caso. Como é um
aglomerado pouco denso seu brilho de superfície é baixo e seu núcleo é a única
parte que percebo claramente com minha buscadora 8X50 mm. Utilizando um
refrator de 70 mm não chego a resolver estrelas. Mesmo com o “Newton” (150 mm
f8) é necessário o uso de visão periférica. Embora não o tenha observado alto
no céu e o horizonte norte me ser desvantajoso.
M 71 é uma descoberta de Philippe
Lois de Chéseaux em 1746. Mas com seu trabalho levantamento de nebulosa não foi
publicado até o trabalho de Bigourdan o tenha feito público em 1892 o objeto
foi redescoberto de forma independente por Johann Gottfried Koehler em algum
momento entre 1772 e 1779, em 28 de junho de 1780 por Méchain (“sócio de
Messier) e finalmente observado por Messier em 4 de outubro de 1780.
A descrição de Chéseaux é bastante
completa e interessante: “ Finalmente uma outra nebulosa que nunca foi
observada anteriormente. É de uma forma completamente diferente das outras.
Tema forma perfeita de um raio, ou de uma cauda de cometa. Com 7´ de
comprimento com 2´ de largura. Seus lados são exatamente paralelos assim como
seus dois extremos. O centro é mais esbranquiçado que as bordas...”
Messier por sua vez diz: ” Nebulosa
descoberta por Méchain em 28 de junho 1780, entre Gamma e Delta Sagittae ...
Sua luz é bem fraca e não contém nenhuma estrela. Qualquer luz a faz desaparecer
...” Sua descrição me leva a crer que
ele não tenha utilizado seu melhor telescópio na observação (Um Dollond 90 mm).
A ciência (de fato) tem uma
qualidade fundamental. Um dogma que é o contrário do dogma. Ela não é estática.
Suas verdades podem mudar. Seja por observações, experimentos, tecnologia e/ou
todos acima e mais alguns... A definição de aglomerados globulares está em
constante evolução. Bem como o que se supõe serem suas origens. Atualmente sabe-se
(ou achamos saber) que diferentes globulares podem ter histórias cosmológicas distintas.
O que os separa de galáxias destripadas ou de abertos vai variar de globular
para globular. Parâmetros são parâmetros e só.
M 71 é um excelente exemplo disto. Mesmo
hoje ainda cabe uma dúvida (o motor da ciência) se este se encaixa melhor em um
aberto denso e antigo ou em um globular frouxo e jovem. Diversos parâmetros indicam
para um lado. E outros para o outro. Embora minha opinião não importe em nada
(opiniões não fazem parte da ciência) eu acredito que trate-se de um Globular.
Burnham no seu mais que clássico “Celestial Handbook” toma uma acertada decisão,
quando o apresenta na tabela que inicia a apresentação dos diversos objetos que
ele considera cosmologicamente significativos em cada constelação, de dizer que
M 71 não possui uma classificação definida. (Class not Certain). Seu livro é de
1978.
Burnham Celestial Handbook. |
Ele nos diz que “M 71 é um
daqueles incomuns aglomerados cuja a classificação é alvo de dúvida”. Levanta
ainda a dúvida se este foi, de fato, observado por Chéseaux e nos diz que a
primeira observação deste é provavelmente a realizada por Koheler.
Coube (como quase sempre) a Herschel
resolver o aglomerado em estrelas. “Muito
grande... um rico aglomerado, com estrelas de 11... 16a magnitude.
Caminha a ciência e Stoyan em seu
também clássico “Atlas of the Messier Objects” (2008) assina ‘ Aglomerado
globular”. E associa algumas características deste não só a M 68 (um frouxo
globular “strictu sensu”) como também a Ngc 104 (Tuc 47). Curiosamente M 104 é
muito mais denso e poderia ter como origem uma galáxia destripada. E espertamente
nos diz que o objeto embora seja considerado atualmente um globular bonne fide
é ainda alvo de alguma discussão.
M 71 foi um dos globulares Messier
que mais resistiram a minhas investidas. Diversas vezes fracassei em sua busca.
Embora , teoricamente, seja um fácil “Starhoop”. É , sem dúvida, um DSO digno
de nota e visita.
Em céus poluídos é um alvo que
considero difícil e por isto mesmo alvo digno de caça.
2 X Drizzle no DSS + Gradiente no PixInsight+ Photoshop CS 6 |
Suas fotos revelam muito mais que o
que observo na ocular. A que abre este post foi resultado de 19 frames com 30
segundos de exposição utilizando ASA 1600. A foto acima é resultado da mesma captura. A câmera utilizada foi uma Canon T3
sem modificação e o Telescópio foi o Newton (refletor 150 mm f8) montado sobre
Mlle Herschel. (Uma equatorial HEQ 5 pro).
Um globular “aberto”...
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