M
20 é a Nebulosa Trífida. Uma das grandes damas da noite. Sua imagem é uma das
mais icônicas da astronomia. Ícone é algo ou alguém que se distingue ou
simboliza determinada época, cultura, área do conhecimento; imagem ou ídolo: a
Guernica é um ícone do cubismo.
M
20 é uma das representações, por excelência, de um DSO. Sua foto ilustra
centenas ou milhares de artigos, capas de revista e o imaginário de todo e
qualquer amador na astronomia. Algo
semelhante a nebulosa da águia e os pilares da criação (provavelmente a foto
mais famosa do Hubble e da história da astronomia. E assim como esta é muito melhor nas fotos do
que a vivo. Uma modelo....
No
ultimo post do Nuncius Australis falei de M 21 e expliquei que não poderia
falar de um sem falar de outro. Mas talvez pudesse até ter pulado M 21. Já a
Trífida seria imperdoável.
Missão
dada missão cumprida. Vamos falar de M 20 com toda a atenção que esta merece.
Este é um daqueles posts que foi até adiado devido a importância da moça. Algo
com M31. Já até abordei o assunto, mas acabei me concentrando mais no seu
entorno (a Nebulosa Porter-Mason) do que na sua parte mais nobre. Quem tem c...
tem medo.
Quem
leu o post anterior sabe que M 20 reside e torna (em conjunto com a obra) esta
região em Sagitário uma das mais dramáticas e lindas do céu. A Avenida Rio
Branco da Via Láctea. A olho nú (e em locais escuros) ela faz par com M 8 (A
nebulosa da Lagoa. Outra diva.) e com diversos abertos e campos estelares que
tornam até difícil saber quem é quem. Ao contrario da Lagoa M 20 é pequena. Uma
moça mais recatada. Porém de beleza muito delicada e traços incomparáveis. Uma
DSO (gênero é algo ultrapassado hoje em dia...) de vários DSO`S. E não consigo
imaginar a Trífida como algo diferente de uma musa.
Como
uma diva ela não revela seus segredos e nem seus agudos sem algum esforço. Me
lembro até hoje (vão anos) da primeira vez que a vi. Ela não me deu muita bola
e assim como Messier não percebi todos seus encantos. Ele é enganado por seu
modesto telescópio e diz apenas “Aglomerado de estrelas, logo acima da eclíptica,
entre o arco de Sagitário e pé direito de Ophiuchus.” Na sua descrição de M 21
ele fala de alguma nebulosidade envolvida.
M
20 foi, provavelmente, observada anteriormente por Le Gentil em 1747. Messier a
conheceu em uma noite especialmente feliz onde ele registrou ainda M 21, M19 e
M 22.
Sua
experiencia (quero acreditar) foi muito parecida com a minha. Partindo de Kaus
Australis fui navegando para oeste e esbarrei no caminho com M21. E
obrigatoriamente cheguei também a M 20. Eram tempos do “Galileu” (meu Celestron
70 mm). Bambo que nem bambu em uma Eq 1. Ainda bem verde já sabia onde estava e
treinei minha “averted vision”. Provavelmente influenciado pelas fotos que já
tinha visto percebi alguma nebulosidade no que mais parecia uma estrela dupla.
M 21 não me enganou e percebi apenas um aberto. Definitivamente não parecia as
fotos do Hubble. A nebulosa escura que recorta a paisagem e empresta seu nome a
dama não estava lá. Embora eu quase acredita-se nisto. Troquei a ocular pela 10
mm. Uma Kelner tabajara. Maior, mas sem nenhuma novidade. Como quem nunca comeu
melado quando come se lambuza achei a paisagem sensacional. Segui viagem e M 8 roubou o show.
Tempos
depois e já com o Newton (um refletor 150 mm) voltei a região e com os céus
mais escuros (mas nem tanto) de Búzios e maior poder de fogo consegui perceber
seu charme. Mesmo assim com muito tempo de observação e muito mais experiencia
junto a ocular. E não eram as fotos do Hubble.
Como
disse as duas grandes musas são modelos fotográficos. E finalmente eu
fotografei M 20. Continuou não sendo Hubble. Mas a Trífida se fez presente e
merecedora de tanta seda rasgada.
Visualmente
ela é pequena e em escala de cinza. E/ou meu telescópio é pequeno (ele é). Mas
é a Trífida. Percebe-se sua natureza e em céus escuros sua extensão (a Nebulosa
Porter Mason) se faz presente e por um truque de contraste percebe-se até
alguma cor...
M
20 tem paternidade discutida. A Maioria dos autores concorda que Le Gentil
observou a mesma enquanto inspecionou M8 (facilmente percebida a olho nu e um
dos pontos mais brilhantes da Via Láctea). Stoyan defende que Messier é o pai
da criança. Já sua personalidade tripla
parece ser percebida por John Herschel. Autores clássicos e habitantes do
hemisfério norte (e possuidores de acromáticos) não fala nada a respeito (Smith
e Webb). Herschel (filho) observou do hemisfério sul e com um refletor muito
maior... Ele foi quem batizou a criança.
É o padrinho da Trífida. E a descreve assim; “... consiste de 3 massas
nebulosas e irregulares gradualmente mais brilhantes em direção ao centro onde
encapsula um forcado ou uma área vazia abruptamente sem luz como um vazio na nébula....
Uma linda estrela tripla é situada exatamente na borda de uma das massas
nebulosas exatamente onde o vazio se bifurca em dois canais”.
Burnham
nos conta que sua estrutura Trífida é facilmente percebida com um telescópio de
200 mm. Com meu 150 ele é evidente com 120 X de aumento e em locais
relativamente escuros. Do Rio de Janeiro é preciso muita fé...
M
20 consiste de duas estruturas basicamente. A Trífida propriamente dita, que
brilha intensamente em Ha e é uma nebulosa de emissão e um halo azulado (a
Porter Mason) que é uma nebulosa de reflexão. A Trífida é a nebulosa de emissão
e uma parente próxima de M 42 (a Grande Nebulosa de Orion). Porém muito mais
jovem. A maior parte de suas estrelas nascituras continua escondida no escuro.
Este aglomerado secreto não possui mais de 500.000 anos. Sua área ocupa algo
como 15 anos luz e apesar de discussões parece se encontrar mais próxima que o
entorno. Mas há divergência entre as fontes. Ela não pertenceria a imensa aglomeração
OB de Sagitário. Estaria do lado oposto do braço de M 21. Em fotos do Hubble se
perceba vários EGGs. Embriões de estrelas. Um local bem animado...
Pela
buscadora M 20 é um pequeno borrão em volta de uma brilhante estrela. Mas com M
21 para indicar o caminho é um alvo fácil. Conforme se vai aumentando o poder de
fogo mais impressionante ela se torna. Céus escuros ajudam muito.
Como
modelo é uma delicia de se fotografar. Já fiz varias experiências. Atualmente
resolvi levar astrofotografia mais a sério. Será alvo de uma expedição em breve.
As fotos aqui apresentadas são fruto de algumas sessões observacionais, mas,
sem muito compromisso. Estou vivendo uma história de amor com o PixInSight e
creio que vá passar a fazer capturas mais a sério. Mesmo porque não preciso
mais observar 40 objetos por noite. O fim da infância...
Uma das grandes damas da noite mesmo sem se
apresentar. Uma diva com jeitão de Tim Maia...
- Vai
Banda Vitória Régia.
(Para quem
não teve o prazer de ver o sindico se apresentar (vi 4 vezes) em noites ruins
ele abria o show, mandava a banda arrebentar e voltava só para fechar o espetáculo.
Dos quatro, três foram a sério. O outro foi a banda que tocou. Arrebentava...)
Daora!
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