M 93 é o palco onde se desenrola
uma daquelas histórias cômicas e venenosa que costumam permear a existência
humana. Sendo uma das entradas mais austrais do Catalogo Messier não é lá muito
lembrado nos livros clássicos por sua aparência. O que é já é, por si só, uma
grande bobagem. É um belíssimo e rico aglomerado aberto em Puppis. Especialmente
para os felizardos que habitam ao sul da Nova Inglaterra...
Carrega
o karma de ser sempre lembrado não pela modesta descrição feita deste por Smith
no “The Bedford Catalogue” no segundo volume de seu maravilhoso “Cycles of
Celestial Objects”. Na verdade, é mais lembrado pela indiscrição e certa
maldade do geralmente politicamente correto Admiral Smith. Neste ele nos conta da proeza do Chevalier
d´Anglos.
Besteira
é uma palavra com vários sinônimos: absurdo, bestice, bobagem, asnada, asneira,
asneirada, asnice, baboseira, bestagem, burrice, calinada, despautério,
despropósito, dislate, disparate, estultice, estultícia, estupidez, idiotice,
imbecilidade, insânia, necedade, nescidade, pachouchada, palermice, parvoíce,
patetice, sandice, toleima, tolice, tontice.
Smith
inclui mais um: “Angosiades”. Depois veio a se referir a todas as gafes
astronômicas como uma “Angosiade”. Em uma adaptação livre cometerei um barbarismo
e utilizarei o termo “angosiada”. Nos tempos de Smith o francês era a língua
mais prestigiada e os galicismos eram mais comuns que os anglicismos atuais...
Chevalier Dangos |
O
Chevalier d´Angos ( Jean Auguste D´Angos
– 1744-1833) foi um dublê de químico e astrônomo obtendo resultado desastrosos
em ambas as ciências. Cavalheiro de Malta (assim como Villegagnon)
primeiramente colocou fogo no Observatório no `Palácio de Valetta realizando um
experimento com fosforo. E posteriormente fez má fama descobrindo cometas inexistentes
e/ou confundindo DSO`s com estes. M 93
foi um desses casos e o erro foi divulgado amplamente por Smith. Encke,
particularmente, o perseguia ferozmente.
Sua última “angosiada” antes de cair no ridículo total foi descobrir o
planeta Vulcano. Este orbitaria mais perto do Sol que Mercúrio.
M
93 carrega ainda a honra dúbia te ter sido a ultima entrada do Catalogo Messier
descoberta pelo “Eu Profundo” de Messier. Daí para frente todas as entradas
originais foram obras de “outros eus”. Especialmente Méchain.
Messier
descobre o aglomerado em 20 de março de 1781 e o apresenta de forma breve: “Aglomerado
de pequenas estrelas sem nebulosidade”.
Smith
depois de destilar seu veneno contra o picareta D´Angos nos diz “um elegante
grupo na forma de uma estrela do mar”. E
Webb é ainda mais conciso: “um brilhante aglomerado em uma rica vizinhança.”
Burnham
tem uma impressão muito semelhante à minha e percebe uma massa central
evidentemente triangular ou em forma de cunha com estrelas se espraiando por um
diâmetro aparente de cerca de 25´. Ressalta ainda que K.G. Jones percebe uma
borboleta de asas abertas. Posso até conseguir perceber isto também...
Algo
que adoro no Burnham´s Celestial Handbook (além do livro todo...) é que as
fotos que o ilustram não são tão melhores que as que consigo realizar por aqui.
E M 93 especialmente elas são tão ruins quanto.
Quiçá piores. Deveria ser um hobby ingrato fazer astrofotografia amadora
( e mesmo profissional) nos anos 60.
M
93 habita o lado oposto do braço de Orion habitando a 3400 anos luz de nós.
Bonnato calculou que este se espalha por 23 anos luz e seu núcleo possui cerca
de 2. 3 anos luz. Sua massa é calculada em 1700 massas solares e sua idade já
vai na casa de 400 milhões de anos.
Duas
estrelas alaranjadas se sobressaem na paisagem. são membro reais do grupo e duplas.
Fazem parte do catalogo Aravamudam e são Ara 2066 e Ara 2064. Como quase sempre sua cor é alvo de controvérsias...
Scott Houston nos afirma que M 93
é perceptível a olho nu a partir de sua residência na Nova Inglaterra. Logo, aqui do Tropico de Capricórnio, deveria ser tarefa fácil. Sabendo onde olhar e
em local bem escuro é factível... Facilmente
localizável a partir de Asmidiske ( Xi Puppis) e utilizando Aludra ( Eta Canis
Maj) como apoio. Facilmente notado na buscadora
O´Meara
em seu “Deep Sky Companions: The Messier Objects” chama atenção para um
interessante padrão que posteriormente a leitura percebi. M 93, especialmente
pela buscadora, possui um padrão assimétrico que recorda um olho de gato.
Recordando assim o globular M 4.
M
93 é um belíssimo alvo visual onde se percebem estrelas de diversas magnitudes
compondo um quadro com mais de 50 estrelas facilmente percebidas. Eu o
enquadraria na classificação Trumpler como I 3 m.
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