Com o
país a beira do colapso, minha conta bancaria solidária a nação, o carro sem
gasolina e a lua quase cheia não me vejo observando tão em breve. Que fique
registrado que este post foi realizado durante aquela que será lembrada como a “Grande
Greve de Caminhoneiros de 2018”. Uma versão menos romântica e menos trágica que
a “Grande Fome da Irlanda”. A última foi causada com a ajuda da Phytophtora
Infestans. Ambas compartilham a pouca vergonha dos governantes.
Desta forma me resta caçar DSO´ que tenha
fotografado e que tenham acabado relegados devido a outros objetos mais
interessantes ou a capturas abaixo da média. M 50 é um destes casos.
Mas engatinhando no PixInSight 1.8
(uma espécie de Ferrari dos programas de processamento de fotos astronômicas)
achei que deveria dar as fotos de M 50 realizadas durante a Aporema (uma festa
que remonta ao período pré-colombiano aqui na Pindorama) de janeiro uma nova
chance. É impressionante o que se pode fazer com o bichinho. Especialmente se
usar um coquetel de 1 parte Photshop e 1 parte PixInSight. É um caso típico de “O
impossível a gente faz agora. Milagre demora um pouco...”.
Não é nenhuma Brastemp. Mas é M 50 "cuspido e escarrado"... |
Primeiro M 50.
Trata-se de um belo aglomerado aberto. Acho estranho que não seja mais cantado em
prosa e verso. Embora, seja dito, que na língua de Camões exista pouca
literatura sobre o céus... Nenhum guia observacional clássico foi jamais
traduzido para o português.
O grande aglomerado em forma de
coração habita a constelação de Monoceros (Unicórnio). Sua paternidade é alvo de interessantes
histórias envolvendo os tais guias observacionais clássicos. Smith em seu “The Bedford
Catalogue” (que é como ele batizou o segundo volume do seu livro e guia “Cycles
of Celestial Objects”. Como seria de se supor o Observatório de Smith se
localizou em Bedford.) fala que M 50 é uma interessante dupla. O evidente
aglomerado em sua volta era apenas um “plus”. E ele nos diz que Messier descobriu o aglomerado
em 1771 e o descreveu como “uma massa de estrelas mais ou menos brilhantes”. Seu contemporâneo Reverendo Webb parece ter se
impressionado mais... Se refere ao grupo como - Um Brilhante aglomerado, h (John
Herschel) nos diz que com 30´. Com uma estrela vermelha. Entre Sirius e Procyon;
1/3 mais próximo da última. Em uma soberba vizinhança aonde o Criador teria “Semeado
de estrelas, o céu é denso como um campo.”
O guia de Webb foi substituído quase
um século depois pelo hoje já histórico “Burnham´s Celestial Handbook”. Neste
Burnham atribui a descoberta de M 50 a Cassini antes de 1771. Depois desmente
Smith e nos conta que Messier descobre o mesmo de forma independente apenas em
1772 (é verdade. Messier observou M 50 em 5 de abril de 1772). Para alimentar
nossa curiosidade acrescenta que Bode também o registra em 1774 procurando por
um objeto reportado por Cassini. Importante frisar que estamos falando de Giovani
Domenico Cassini (descobridor da Divisão Cassini nos anéis de Saturno). E que a
descrição que leva a isto está no livro “Elementos de Astronomia” de seu filho
Jacques Cassini (escrito em 1740).
Tratando-se de DSO´s do Catalogo
Messier costumo utilizar 3 fontes mais atuais para checar os fatos. A primeira
é o Guia do Stoyan para os Objetos Messier (“Atlas of the Messier Objects; High
Lights of the Deep Sky”). Este nos diz que é quase certo que M 50 foi uma
descoberta de Cassini. Depois deste a próxima parada é o “Deep Sky Companions;
The Messier Objects” do O´Meara. Este
também nos diz ser “possível” que M 50 seja uma descoberta de Cassini. Por fim gosto de olhar a pagina da SEDS para o
catalogo Messier. De novo é “possível” que Cassini tenha “furado” Messier. Na
minha modesta opinião a raiz de todo o problema está no fato que Cassini de
fato observou algo em Monóceros. Mas não marcou sua posição. Como Bode nos diz:
“Em 2 de Dezembro de 1774 eu procurei observar a “estrela nebulosa” a qual M.
Cassini diz ter visto entre o Cão Maior e Menor, e da qual não consegui
localizar em local algum a descrição de sua posição. Eventualmente localizei,
nesta região, ao norte de Theta, Um e Gamma na cabeça de CMa ou abaixo da
barriga do Unicórnio um pequeno aglomerado em superfície nebulosa.” Na região abundam abertos. Mas M 50 é um dos
mais evidentes. Logo ...
Como falei o aglomerado é pouco
cantado. O´Meara nos diz que M 50 é “um obscuro aglomerado em uma obscura
constelação”. Um objeto Messier dificilmente pode ser muito obscuro. Mas
levando-se em conta a lista ...Ok!
Localizado a 2900 anos luz de nós e
com um diâmetro aparente de aproximadamente 15´ pode-se calcular que o mesmo ocupe
cerca de 13 anos luz de galáxia. Dependendo de quem o vê sua classificaçãoTrumpler varia entre I 2 m, II 3 m até II 3 r.
Como palpitar na escala Trumpler é permitido eu aposto em II 2 r. Ou
seja um aglomerado que se destaca do fundo com leve concentração central e com
mais de 100 membros. Clarie et al. Identificou 109 membros entre 175 candidatos
no campo de M 50. Estudos mais recentes e com muito mais poder de fogo chegam a
mais de 2000 membros com magnitude limite de 23. Estudos ainda mais recentes indicam uma idade de
mais de 100 milhões de anos. E assim é pouco provável algum parentesco (outrora
suspeitado) com Ngc 2353 e a Nebulosa de Roseta.
Localizar M 50 não é difícil. Seguindo
uma linha que sai das Três Marias e segue para um local entre Sirius e Procyon vai acabar te levando até
ele. Há outros aglomerados na região para se esbarrar. Mas ele é o mais
evidente. Que o diga Bode...
Antes de "roubar" no Photoshop. Apenas 12 exposições de 30 seg 1600 ISO stacked no Rot n Stack |
De volta a nossas fotos o “Aglomerado
do Coração” foi registrado de Nova Friburgo em noite sem quase nenhum
compromisso com a astrofotografia. E com um alinhamento polar realizado apenas
para poder apresentar as crianças algumas maravilhas celestiais. O resultado
foi que com o andar da noite as crianças foram dormir e o céu acabou ficando
bem mais transparente que o esperado. E assim forcei uma barra para tirar algumas
fotos de dois abertos do catálogo Messier que nunca tinha registrado (embora já
tivesse observado ambos algumas vezes) M 50 e M 93 (do qual tinha recordações
mais exatas). M 50 me surpreendeu. Grande
brilhante e colorido. Tinha que fotografar. E assim consegui cerca de uma 10 de
imagens com bastante rastro.
Provavelmente devido a isto estas
fotos ficaram esquecidas por um bom tempo. Empilhei o lote utilizando o Rot n
Stack. Fotos muito toscas não servem para o DSS (Deep Sky Stacker). Ele se
recusa a empilhar.
Ao longo do post vocês devem
ter percebido que fotos péssimas nunca ficam muito boas. Mas quase sempre é
possível se obter um registro de DSO´s mais brilhantes sem grandes pretensões
ou tempo. Evidentemente o material não se prestará a grandes ampliações. Mas será excelente referencia para a identificação de DSO´s.
Uma técnica pouco digna, mas muito
funcional para reduzir o rastro das estrelas com o Photoshop. Duplique o layer de
fundo e “escureça” o layer duplicado. Depois corra o layer superior sobre o de
fundo e veja as coisas se ajeitando. O PixInSight resolve bem o gradiente de
fundo de fotos que foram capturadas sem a realização de darks ou flats. Venho
percebendo que em capturas realizadas com câmeras DSLRS os flats são mais
importantes que os darks ou Bias. Outra coisa é que o PixInSight é um programa
que demanda mais estudo... comecei a ler o “Inside PixInSight”. Vou estudar. E na próxima lua nova quero fazer
uma captura mais séria de alguns DSO´s para poder “brincar” mais a sério com o
novo brinquedo.... Andei testando realizar o stacking no PI. Mas é bem mais
trabalhoso que no DSS. O procedimento descrito no livro realmente pode ser que
leve a resultados superiores. Mas não sei se tanto...
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