O
Catalogo Messier possui 29 aglomerados globulares. Há anos venho buscando
fotografa-los. Devido a aquelas coincidências que nada tem com as leis
fundamentais do universo (coincidências de Adams) M 68 acabou sendo o antepenúltimo
destes que fotografei. Curiosamente foi um dos primeiros que observei. Ao
contrario do que Messier nos diz em seu catalogo eu acho M 68 facilmente visível
e graças a sua posição em relação as estrelas de Corvus facilmente localizável.
Mas o tendo observado diversas vezes tinha como certo que já deveria ter
fotografado o mesmo. Ao organizar minhas fotos descubro que não era verdade. E
desta forma este que é um fácil aglomerado globular acabou sendo capturado em
uma noite fria e nebulosa onde quase tudo deu errado. Mas como aqui no Nuncius Australis mais vale a captura que a foto propriamente dita chegamos ao ponto onde nos
encontramos agora.
M 68 carrega ainda uma outra coincidência
consigo. Ele é o último objeto incluído na segunda parte do catalogo Messier. Este
na forma que foi publicado possui 103 entradas e dividiu-se em 3 fases. Sua
primeira versão (da qual sou o orgulhoso proprietário de uma cópia digitalizada)
é de 1771 e foi publicada nas Memoires de
l´Académie de Sciences de 1774. (Objetos de 1 até 45). A segunda parte é de
1780 e foi publicada no mesmo Memoires só
que desta vez na sua edição para o ano de 1783. Incluindo aí as entradas de 46
até nosso querido M 68. Sua ultima etapa
foi publicada no Memoires de 1784.
Que acaba em M 103. Postumamente foram incluídas as entradas de M 104 até M
110.
Como disse Messier o considerava um
alvo difícil: “9 de abril 1780 – Nebulosa sem estrelas abaixo do Corvo e da Hidra.
É muito tênue e difícil de se perceber com os refratores; próximo a uma estrela
de 6a magnitude.”
A primeira vez que observei M 68 foi
com o “Galileu” (um refrator de 70 mm f13). Estava na Armação dos Búzios. Embora
não se resolva e seja apenas um esfuminho é bastante evidente e revela sua
identidade mesmo para uma buscadora 8X50mm.
A “paternidade” de M 68 é alvo de
alguma disputa. Glyn Jones nos diz que foi Méchain seu descobridor. O´Meara também assim o diz em seu "Deep Sky Companions: The Messier Objects" Mas a
maioria dos autores garante ser este um “Messier Original”. Este sempre deu os
créditos nas descobertas de seu grande colaborador.
Herschel Pai (William) fala
de um aglomerado bem concentrado sendo como sempre o primeiro a resolver os globulares
de Messier. Já Herschel Filho (John) diz resolver este facilmente. Entre os guias
mais clássicos de todos (Smith e Webb) também há conflito. Enquanto Smith parece
apanhar do clima inglês e nos dizer que só percebe “uma nebulosa grande,
arredondada e muito pálida” seu conterrâneo e contemporâneo e em geral mais
modesto reverendo Webb fala em “bem resolvido” e de uma estrela rubi... M 68 pertence
a classe X de concentração de globulares. Portanto mais para um aglomerado
pouco concentrado do que para um muito e insolúvel grupo de estrelas muito
espremidas.
Drizzle. |
Observado com o Newton (me refletor
de 150 mm f8) com 120 vezes de aumento eu pendo para o lado de Webb. Mas não
resolve sua parte mais nuclear. Percebo estrelas no terço exterior do mesmo e
nenhuma cor. Na noite que este foi fotografado as coisas estavam bem ruins e
neste caso a descrição de Smith seria mais apropriada.
M 68 é um aglomerado típico do halo galáctico.
Possui uma orbita bem excêntrica, não habita perto do núcleo (entenda Ophiucus,
Sagitário e Escorpião), sua orbita leva mais de 500 milhões de anos e pode
estar a mais de 100.000 anos luz do núcleo galáctico. Segundo Stoyan tem mais e
10 bilhões de anos (o que me parece pouco...) e baixa metalicidade. Possui 42 estrelas variáveis conhecidas sendo
40 destas do tipo RR Lyrae tão típicas de globulares. Atualmente se encontra a 36.000 anos luz de (e
se aproximando) e possui um tamanho físico de aproximadamente 120 anos luz.
O biônico O´Meara acha que M 68 é um
belo desafio para vista desarmada. Talvez no Atacama... Sendo um globular bem
austral para o catalogo Messier é compreensível que este o considerasse difícil,
mas de latitudes mais austrais é alvo fácil para binóculos 10X50 mm. Com
grandes telescópios é fácil se perceber a estrela avermelhada citada por Webb. Localiza-se
5´ a noroeste do núcleo de M 68.
Navegar até este é fácil. Considerando
a linha que liga Algorab (Delta Corvus) até Kraz um passo siga aproximadamente
mais meio passo e chegue até seu objetivo.
As fotos aqui apresentadas foram
realizadas em noite muito enevoada e o alinhamento polar feito "de ouvido". O material capturado em RAW não rendeu.
Fui obrigado a converter tudo em JPEG e empilhar as poucas fotos obtidas no Rot
n Stack. O Resultado final foi muito ruido e algum verde... A fim de me livrar do verde que vemos na foto logo acima foi fácil . O Photoshop transforma tudo em uma escala de cinza com um único click... Astrofotografia é a maior diversão.
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