M
67 é aquele outro aglomerado aberto em Câncer. Dividindo a constelação com M 44,O Aglomerado do Presépio, que é facilmente percebido a olho nu este mais
discreto e nem por isto menos belo aglomerado é menos visitado. As apagadas
estrelas do caranguejo celestial não facilitam a navegação até o mesmo em
locais de poluição luminosa. E assim M
67 sofre uma daquelas injustiças celestiais comuns a vizinhos de grandes e
brilhantes aglomerados.
O Aglomerado foi descoberto por
Johann Gottfried Köhler em Dresden, Alemanha, antes de 1779. “ Uma nebulosa
bastante proeminente com um formato alongado”. Como seu registro nunca foi publicado
Messier redescobre M 67 de forma independente em 6 de abril de 1780. Este o
resolve parcialmente. Um aglomerado de pequenas estrelas com nebulosidade”.
Ambas as descrições demonstram como o equipamento destes pioneiros era modesto. Já observei M 67 com o “Galileo” (um refrator de 70 mm) e o resolvi
totalmente. Nada de nebulosidade envolvida.
William Herschel é o primeiro a
resolve-lo. Ele o descreve assim:
“Um lindo e muito comprimido
aglomerado de estrelas, facilmente observável com qualquer bom telescópio e
onde observei mais de 200 estrelas no campo de meu grande refletor, com um
aumento de 157X”.
Leo Brenner (um controverso e muito “criativo”
observador alemão do final do século XIX e início do sec. XX. Autor do primeiro
Guia observacional de Céu Profundo em língua alemã (1902)) também deixa claro como
eram simples os telescópios utilizados por seus descobridores: “ Na buscadora
aparenta ser um retalho nebuloso, mas já com pequenos aumentos é reconhecido
como um aglomerado estelar e esplendido objeto. Cercado por um semicírculo de
estrelas mais brilhantes repousam 230 estrelas de magnitude 9 a 12. ”
O Admiral Smyth é que associa M 67
ao formato que hoje leva a seu apelido: O Barrete Frígio. Quase um século depois
O ‘Meara nos conta que muitos discordam da semelhança apresentada por Smyth. Ele
mesmo acha que o aglomerado lembra um Cobra-Rei pronta para o bote e destaca
que Flamarion acredita que o aglomerado recorda a uma espiga de milho e que
Luginbuhl e Skiff criam sua própria metáfora e associam o mesmo a “uma arvore
de fibras óticas”.
Brasão da Cidade do Rio |
Somente para esclarecer: O chapéu frígio
recorda uma mitra (aquele chapéu de bispo) e é também conhecido como o Barrete
de Liberdade por ter sido utilizado pelos revolucionários franceses. O mesmo está
presente no brasão da cidade do Rio de Janeiro.
M 67 é um dos mais antigos aglomerados
abertos conhecidos e estudo recente (Michaud e colegas, 2004) estima uma idade
de 3.7 bilhões de anos o que é quase tão antigo quanto o sistema solar. O mesmo
estudo acredita que ele manterá sua dinâmica de aglomerado por mais 5 bilhões
de anos. Muitos poucos aglomerados
abertos atingem idades sequer próximas a isto. Ngc 188 é o único aglomerado
aberto conhecido que (sem controvérsias...) é mais antigo que nosso convidado. A
razão desta longevidade esta associada a sua riqueza e a sua grande distância
do plano e do centro galáctico; o que evita interações gravitacionais destrutivas.
A idade de M 67 nos permite ver neste um
grande número de estrelas altamente desenvolvidas. É rico em gigantes vermelhas,
com pelo menos 20 confirmadas. Possui também um grande número de anãs brancas (150).
Foram descobertas também 23 “Blue stragglers” que são mais típicas em
aglomerados globulares mais densos e antigos que os tradicionais aglomerados galácticos.
Localizada a 3000 anos luz de nós
pode-se derivar um tamanho de 21 anos luz para M 67.
Observar M 67 em locais escuros não
chega a ser difícil. O´Meara nos diz que em uma noite perfeita ele é visível a
olho nu. Eu duvido.... Com meu binóculo 10X50 mm em céus Bortle 6 ele é perceptível
como uma pequena mancha enevoada. Com meu 15X70 ele começa a se resolver. Com o Galileo ele se resolve e conforme
aumenta-se o poder de fogo mais estrelas irão comparecer.
Stoyan nos diz que o equipamento mínimo
para resolve-lo é um telescópio de cerca de 60 mm.
Com o Newton (um refletor de 150 mm
f8) consigo perceber várias dezenas de estrelas. Em céus muito escuros podemos
checar a uma centena com 120X de aumento. M 67 é um alvo telescópico e nestes é
muito mais interessante que seu mais conhecido M 44. Este devido a sua enorme área
aparente é melhor observado com binóculos.
Para se navegar até M 67 localize
Acubens (Alfa Câncer) e navegando rumo a oeste passe por 60 Cnc (fraca e
avermelhada). O aglomerado se apresentará discreto na buscadora em locais de
poluição luminosa intensa...
A foto que abre o post é resultado
de cerca de 1 dezena de exposições de 30 segundos com ASA 3200. Na verdade foi
um aquecimento na noite em que me dediquei a fotografar M 66 e M 65. Foi utilizado o Newton montado sobre a Mdme.
Herschel (uma montagem HEQ 5 pro) e uma câmera Canon T3 sem modificação. Foram feitos
uns poucos “dark frames”. A imagem foi processada no Deep Sky Stacker.
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