Ngc 7331é uma das mais
interessantes e desafiantes galáxias ao alcance de pequenos telescópios. Na verdade, é um desafio apresentado no “Cosmic
Challenge- The Ultimate Observing List for Amateurs” de Philip S. Harrington (2011) para possuidores de
telescópios de médio porte (entre 6 e 9,25 polegadas). Mas o próprio admite que,
em locais muito escuros, é possível vislumbra-la (ainda que de forma muito
modesta) com binóculos 10X50. A observei
pela primeira vez com o “Galileo” (meu refrator de 70 mm f 13) a partir de Búzios.
Um exercício exaustivo e de resultados pouco expressivos. A navegação até um
alvo que se apresenta de forma tão discreta foi muito difícil e mesmo com a
certeza de ter percebido algo com muito pouca substancia sempre restava a
sensação de estar me enganando.
Ngc
7331 é uma descoberta de William Herschel. Ele a observou 5 de setembro de
1784:
“Muito brilhante, consideravelmente
grande, muito extensa, muito mais brilhante no centro. Resolvível. ”
É
curioso Herschel ter achado que resolvia estrelas em 7331. Mas Herschel e seus contemporâneos
suspeitavam que todas as nébulas poderiam ser resolvidas e m aglomerados
estelares, desde que telescópios suficientemente grandes estivessem disponíveis.
Larry Mitchell nos diz que esta crença é resultado da análise de Herschel de
todos os objetos no catalogo Messier os quais ele achou ou serem feitos de nada
além de estrelas ou a menos de conter estrelas e de “darem todas as indicações
de consistirem inteiramente de estrelas”.
.
Com
o “Newton” (meu refletor de 150 mm f8) não chego a ter a impressão de resolução
imaginada por Herschel. Mas seu núcleo de caráter estelar e alguma
granulosidade discreta em seus braços me permitem se não endossar as palavras
do maior observador visual de todos os tempos pelo menos entender sua causa. Herschel possuía telescópios muito mais
poderosos que o Newton que mesmo com espelhos anteriores ao alumínio resolviam
muitos mais detalhes que qualquer telescópio de 150 mm atual. No período da descoberta de Ngc 7331 Herschel
utilizava um telescópio com o espelho primário de 475 mm. Utilizando -se a
formula apresentada por Cozens em seu trabalho sobre Dunlop e que na composição
do revestimento dos espelhos de Herschel tenha sido utilizada uma mistura de
55% cobre e 45% de latão pode-se dar um “chute culto” que este seria o
equivalente a um espelho moderno (recoberto com alumínio) de aproximadamente
250 mm.
Ngc 7331 é uma
galáxia de grande interesse cosmológico. É uma das poucas galáxias conhecidas
em que a região central (o bojo galáctico) gira em um sentido e os braços em
outro... As causas para tamanha
estranheza são controversas. Em Estudo realizado por F. Prada, C. M. Gutierrez,
R.F. Peletier e C.D. McKeith (1996) são apresentadas duas hipóteses (e nenhuma
certeza) sobre o que acontece em Ngc 7331. A primeira hipótese (e mais aceita
pela comunidade...) é que o componente central da galáxia seja externo a
própria galáxia. A estrutura final é resultado de um processo de integração
entre duas galáxias. Mas os mesmos, embora não apresentem os processos
envolvidos e nem a mecânica da coisa, não descartam a possibilidade de nossa “
cuckoos nest” ter surgido de uma única nuvem protogalactica onde o momento
angular tenha mudado tão drasticamente em função de seu raio.
Existem ainda
alguns indícios que parecem fazer as apostas penderem a favor de um choque ou
absorção galáctica. Dados espectrográficos indicam que houve um “baby-boom”
estelar na região nuclear de nossa galáxia. As estrelas nos 3´´ centrais (650
anos luz) do disco galáctico enquanto relativamente jovens (cerca de 2 bilhões
de anos) são muito ricas em metais (qualquer coisa além de hélio na tabela
periódica...) e formam algo como um anel circumnuclear formado no “baby boom”.
Outras estrelas na região central também parecem fruto de um outro carnaval. Este
mais antigo, por volta de 5 bilhões de anos. Estes episódios de explosão “demográfica”
entre estrelas são comumente associados a processos de fusão e canibalismo galáctico...
Ngc 7331 faz parte
do Esporão de Galáxias de Pégaso. Uma reunião de 35 sistemas que inclui uma das
galáxias do famoso Quinteto de Stephan.
Em uma
daquelas raras coincidências que talvez tenham algo a ver com as leis fundamentais
do universo Stephan nos diz em 1884 que “ não seria exagero dizer que depois d
ter observado mais de 6000 nébulas nós sabemos (ele pelo menos...) que a nebulosas
não se encontram distribuídas de forma homogênea pelos céus e muitas delas
estão reunidas em grupos mais ou menos numerosos e mais ou menos próximos...
Das 420 nebulosas publicadas 171 (um número “cabalístico”...) pertencem a 65 grupos.
Ngc 7331 e
suas associadas formam o primeiro grupo compacto de galáxias registrados. Ainda
que sua verdadeira estrutura como um grupo seja discutível.
Ngc 7331 faz
parte do atualmente chamado “The Deer Lick Group”. Por isto é, as vezes,
chamada de “A Galáxia do Cervo”. Mas a origem deste nome é muito recente e nada
tem em comum com as leis fundamentais.
O amador Tomm
Lorezin ficou fascinado com o conjunto da obra ao observar este dos céus de
cristal na Deer Lick Gap, na Carolina do Norte.
Ngc 7331 é a galáxia
mais brilhante no Deer Lick Group. Este é formado por ela, Ngc 7335, 7336, 7337
e 7340. Apesar de parecer pequena Ngc 7331 é uma galáxia enorme. Estando entre
47 e 50 milhões de anos luz de nós ela se esparrama por cerca de 135.000 anos
luz e possui uma massa de 300 bilhões de sóis. Um tamanho semelhante a Galáxia de
Andrômeda e superior à nossa Via Láctea.
Apesar do nome as outras galáxias no grupo são objetos muito mais
distantes e se encontram a uma distância média incrível. 300.000.000 de anos
luz. Elas podem parecer pequenas e modestas satélites de 7331. Mas possuem
tamanhos semelhantes.
No universo
coisas interessantes acontecem. Da mesma forma, o vizinho Quinteto de Stephan
parece ser composto de 5 galáxias a distância de uma delas (Ngc 7320) a coloca
junto com Ngc 7331. Elas são galáxias de um mesmo grupo. E as outras quatro galáxias
de Stephan são mais distantes e não interagem com a primeira. Apesar das
evidências existe uma minoria que discorda disto e atribui a diferença do
redshift destas a fenômenos não muito bem explicados. Embora uma minoria é uma
minoria bem barulhenta.
Para chegar-se
até Ngc 7331 é necessário primeiro localizar o “Quadrado de Pégaso”. Um asterismo
formado por quatro estrelas que domina o início da noite nos meses outubro e
novembro. Embora fracas elas comparecem mesmo em condições bem extremas de
poluição luminosa. A Estrela mais a
noroeste do quadrado é Scheat (b Peg
Mag ~2,7) . A noroeste desta esta Matar (h
Peg Mag 2,93). Este é seu último porto seguro. Crave a buscadora sobre ela e
sabendo que Ngc 7331 está a quase exatamente 40 ½ ao norte de Matar
calcule um campo de buscadora (10X50) e você vai estar muito próximo. A região
é bem pobre em estrelas. Em locais muito escuros você irá suspeitar de sua
presença na buscadora. Mas não conte com isto...
Utilizando 70X
de aumento percebo a estrutura espiral de Ngc 7331. Surgem diversas estrelas fracas em campo. Com muita visão
periférica, hiperventilação e persistência Ngc 7335 e Ngc 7337 acham seu lugar
na existência sem ser necessário convocar uma mesa branca...
Nas fotos realizadas
(20 exposições de 30 segundos ASA 3200) alguns outros membros se apresentam de
forma discreta. Importante ressaltar que
as entradas Ngc 7327, 7326, 7325, 7333 que aparecem listadas na foto são, na verdade,
estrelas binárias muito tênues e que enganaram a seus descobridores.
Ngc 7331 é um
alvo interessantíssimo que envolve um grande desafio de navegação e que em
telescópios médios revela detalhes bastante interessantes para aqueles que se
dispuserem a extrai-los. E os outros membros do Deer Lick group são algumas das
galáxias mais distantes que já observei.
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