Fim de Ano. O plano é o mesmo de sempre. Ir para Búzios e
observar e fotografar o máximo possível.
Evidentemente uma das leis mais fundamentais do universo conspira contra
meus planos. Esta responsabilidade de um tal de Murphy. A Lua estará
cheia.
Outro
grande conspirador é Beaufort. Este criou uma escala para determinar a
intensidade dos ventos que se abatem sobre você. Sua escala vai de 0 a 12. 0
implica que a fumaça de uma fogueira sobe verticalmente. 12 é um furacão
causador de grandes calamidades e tragédias. Búzios é uma península e uma das
melhores raias de vela do mundo. Isto implica em ventos constantes entre 3 e 7
na escala Beufort. Como descobri a partir de 3 o meu telescópio começa a
bambear feito bambu ao vento e as rajadas atingiam facilmente 5. E devido a
outros fatores climatológicos o vento nordeste limpa os céus de Búzios . Mas
como é de se supor ele traz um grande problema diretamente associado a ele.
Trata-se de vento . E vento faz meu telescópio balançar...
Meu
interesse pela astronomia aumentou muito depois de uma loucura juvenil que me
levou a comprar um pequeno veleiro (24 pés) e desta forma não sou homem de se
abater por causa de qualquer brisa. Não será o vento que irá impedir meus
planos ( mas irá atrapalhar bastante como poderemos observar) E Murphy é uma Lei fundamental do Universo e
com isto um obstaculo que deve ser ignorado. É aquela velha história de mudar
as coisas que posso mudar , aceitar as que não posso e possuir teimosia suficiente para ignorar qual é uma e qual é
outra...
Resta
ainda eu falar de um dos maiores inimigos da astronomia .Quiçá do homem.
Trata-se do Beaujolais. Um fermentado da uva Gamay. Este desce bem mais fresco
que a média dos vinhos tintos e desce especialmente bem no fim de tarde. Desta
forma o inicio da temporada incorpora certo terroir e é feito diariamente. A Variável
Perrignon é constituinte fundamental
na equação observacional. Quanto mais tempo na garrafa menor é sua
capacidade observacional e habilidade manual.
No dia
da chegada fiz um alinhamento polar preguiçoso. O início da temporada sempre conta
com a casa cheia e muitos curiosos . Os deveres familiares também me levavam a
realizar atividades lúdico praianas como o"1o Festival de
Zabelocas da Praia Brava" e dirigir um bugre velho alugado e com uma caixa
de marchas com engrenagens banguelas. Tudo isto me mantinha com os pés mais em
terra que no céu.
Zabelocas são pilhas de pedras que se utilizam para marcar trilhas para caminhantes pelo mundo todo. |
A astronomia e a astro fotografia é melhor
praticada em solitário. Fiz diversos
registros descompromissados durante este período. Creio que a única novidade
foi Ngc 2669 no falso Cruzeiro.
Ngc 2669 |
Jogar para platéia sempre implica em lua e
planetas. M42 e alguns outros DSO´s mais brilhantes também são abatidos
M42 e o poste... |
Não sou
muito afeito a astro fotos planetárias mas Júpiter esta convidativo e brinco com
ele. Pretendo me entender com o Registax e faço dois filmes com a barlow 2x. Em um balneário superlotado eu só conseguirei
baixar o programa quando voltar para a Stonehenge dos pobres( como podem ver ainda não me entendi com o mesmo após 1 dia... Vou procurar um tutorial.). A vida sem a web é curiosa. Há menos
informação mas também se houve muito menos besteiras. Na pior das hipóteses a
irmã da cunhada vai pregar que existe vida na lua ,Júpiter e Marte. Mas não
estamos preparados para vê-la. Parece até com o extinto ORKUT.
Registax 10 x Nuncius 0 |
Alguns
DSO´s e fogos de artificio serão visitados na noite do réveillon. A variável
Perrignon pode apresentar valores entre 0 e >1. Nesta noite o calculo nos
dava um valor superior a 10.
É bom
variar os hábitos e durante o período mais festivo da estada dedico-me a
Planetas e a Lua. É divertido fotografa a lua e fiz algumas experiências com o
uso de barlow e mosaicos lunares.
Estudar a lua e a selenografia me recorda Humboldt e uma ciência de
outros tempos. Adoro textos descritivos.
Finalmente
chega 7 de setembro e resta só o núcleo familiar que convive na Stonehenge dos
Pobres e que não quer saber de olhar o céu. Também respeita as normas sobre iluminação depois do
anoitecer. Ficou ainda mais uma sobrinha que foi rapidamente abduzida as normas
da casa.
Esta
noite pretendia-se mais séria mas o vento e a escala de Beaufort atrapalharam bastante. Acabei por reduzir o
tempo de exposição e aumentando a ASA nas fotos. Mas houveram momentos de
calmaria. Infelizmente fracassei novamente com M1. Observei ao cadáver da
estrela visualmente . Mas tratando-se de um DSO mais tênue suas fotos foram
desastrosas. Um tempo de exposição maior é necessário e Beaufort resolveu sacanear.
Na janela que tinha para fotografar M1 ventou muito mesmo. Beaufort mandou rajadas
força 6...Só rabiscos e nem sinal da Nebulosa de Caranguejo . Outro que se
recusou a apresentar-se foi C85 em Musca. Mas este por ainda estar baixo no horizonte e
lutar contra um poste mau projetado.
Mas houve
bons momentos e o que imaginei ser do
Aglomerado de Caroline(Ngc 2360) foi um deles . Há tempos em sua busca trata-se
de um Starhooping difícil. De Sirius até Muliphein e depois além. Mas desta vez fui enganado fotografei um
asterismo a cerca de 30 min do meu alvo real.
Houveram outra vitimas...
Dia
seguinte e o vento continua assim como o céu limpo. Planejo afinar o
alinhamento polar. Talvez até ensaiar o Método do Drift. E seguindo as normas
da casa uma atividade de precisão demanda uma variável de Perrignon >1. Como
a temporada já vai avançada e estou alugando um bugre é necessário fermentados
mais baratos do que o Beujolais. E assim depois de uma anchova na brasa , uma
garrafa de Cote du Rhone e outra de um Trapiche Pinot Noir vou montar o
telescópio.
Gostaria
antes de abrir um parenteses para falar
a respeito do Trapiche. Este vinho deve ser evitado. Tivesse ele bem
menos álcool e só um pouquinho mais de
acidez seria classificado como vinagre.
Para garantir Perrignon ainda volto ao mercado
e compro um Concha e Toro Malbec e outro Carmenere antes do anoitecer. O resultado é que a noite não rende quase
nada. Fico observando visualmente pelas
cercanias de Carina . Sempre em aguas bem conhecidas. Passeio pela cauda do Cão Maior e ensaio
alguns mosaicos. Os resultados são sofríveis . Prefiro culpar o vento em vez de
Perrignon. Pego o binóculo e vou visitar Lovejoy. O cometa se aproxima de seu
máximo brilho. Não chega a ser nada de tirar o folego pelo 15X70 mas é
evidente.
A noite se encerra bem mais cedo que o
planejado. Desta vez não registrei nem a lua que já nasce mais tarde...
Dia 9
começo processando muito do material já acumulado. Descubro que fui enganado e
assim já sei que voltarei a busca por Ngc 2360 no inicio da noite. Depois de
me livrar da função "Churrasco de Frutos do Mar". Anchova, Dourado,
lulas e camarões... A brincadeira
buziana vai ficando cara.
Ngc 2360 |
A noite é perfeita. Em um tour de force localizo Caroline e levo de lambuja Ngc 5617
em Centauro. Há anos sou enganado por este . Conheci Lynga 4 em seu caminho. E
agora este não mais me engana. A Partir de Lynga a navegação é fácil.
Finalmente este aglomerado ao lado de Alfa Cen se rende. Em tese um aglomerado
fácil de se localizar. Mas nem tudo e o que parece ser. O pequeno aglomerado , com 10´ de diâmetro,
reside a pouco mais de 1o Alpha Cen. Apesar disto não é uma presa simples.
Devido a seu pequeno tamanho ele não se apresenta claramente para binóculos.
Ngc 5617 |
Descobri nesta temporada a dar mais valor a
magnificação . Aglomerados com menos de 15´ e de magnitude ao redor de 8
ou mais não se apresentam claramente nem com aumentos em torno de 50X . Minha
ocular 26 mm é uma ótima "buscadora". Mas quando em busca de alvos
mais obscuros a 17 mm faz mais bonito.
Dois
aglomerados difíceis . Um pela discrição
e outro pela navegação. Aglomerados abertos sempre soam fáceis. Sempre são
associados as Plêiades e Híades. Todas
filhas de Atlas ( O cara era pegador...)
. Faço dezenas de exposições de ambos.
Mas Beaufort só permite aproveitar algumas unidades.. Ngc 5617 só foi
localizado depois que Perrignon alcançou valor > 9. Depois das 4:00 da
manhã. Ainda fiz algumas imagens de um velho conhecido: Omega Centauro.
Para
finalizar a noite e o Carmenere faço
mais fotos de Selene. Desta vez me concentro no "terminator" . É a
região que divide a luz das trevas na superfície lunar e assim apresenta o
maior nível de detalhe sobre suas estruturas.
Finalmente
chega o dia 10 e será a ultima noite de observação desta temporada. Meu irmão
já retornara para Búzios e pretendia aproveitar a carona no seu retorno para o
Rio de Janeiro e assim economizar algum dinheiro despachando a família com ele.
Cão
Maior foi meu companheiro nesta temporada e como não poderia deixar de ser
novamente escolhi alvos que recomendavam iniciar o "star hooping" a
partir de Sirius. M 47 e M46.
M47 |
Meu
corpo antigo e já cansado deste viver buziano me diz que dois DSO´s seriam mais
que o suficiente para encerrar a temporada. Mesmo com o alinhamento polar já
todo sambado eu já não tenho mais o mesmo impeto e determino que vai ser assim
mesmo...
A
navegação hoje é mais fácil e pela buscadora mesmo chego até M47. E deste para
M 46 é só um pulo... A grande surpresa da noite foi perceber Ngc 2438 . Uma
nebulosa planetária que reside no mesmo campo que M46. E este foi também uma
grata surpresa sendo muito mais interessante que seu irmão mais brilhante M47. As fotos apresentam bastante drift . Mas
representam bem o que vo^ce verá na ocular. Na verdade não percebi nem sinal de
2438 observando visualmente. Me parece ser
um alvo fotográfico embora não tenha tentado diversas combinações de
oculares . Talvez com mais aumento ela se apresenta-se . Mas duvido.
M46 e Ngc 2438 |
Devido
ao fraco alinhamento polar as fotos destes dois DSO´s saideiros tiveram que ser
alinhadas no Rot n´ Stack já que os
resultados do DSS ficaram péssimos. Há males que vem para bem e a pirotecnia do
RnS acaba servindo para destacar Ngc 2438.
Foi uma
longa temporada marcada por fortes ventos. Mas mesmo assim os resultados foram
bastante satisfatórios e observei diversos novos DSO e consegui alguns
registros fotográficos decentes de varios velhos conhecidos.
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