Caroline Herschel foi a primeira astrônoma profissional da
história. Irmã do celebrado William Herschel ( descobridor de Urano e
provavelmente o maior observador visual de todos os tempos) é uma espécie de
eminencia parda. Uma gigante com cerca de 1,40 metros esta pequena grande dama
trabalhou junta a seu irmão na elaboração do catalogo que deu origem ao General Catalog. Um
titânico trabalho reunindo mais de 2500 DSO´s no qual ela trabalhou como
assistente de seu irmão e com subsidio do Rei George III. Ela recebia 50 libras
por ano como assistente de William , seu mais querido e amado irmão. (este ganhava 200 Libras como astrônomo Real.
É incrível o que a inflação pode fazer pouco mais de 200 anos...)
Caroline
nasceu em 16 de março de 1750. É a oitava de 10 irmãos. Ainda criança foi
acometida de varíola o que lhe legou sua baixíssima estatura e uma aparência
pouco atraente, Aos 11 contraiu tifo. Se tornou uma sobrevivente. Mas reza a
lenda que após isto nunca mais adoeceu. Foi infatigável assistente de seu irmão. Cuidava
da casa, das anotações , polia espelhos e tudo mais que fosse necessário para
manter seu amantíssimo irmão despreocupado dos afazeres terrenos. Conta uma
história que esta chegou a alimentar o próprio na boca enquanto este trabalhava
polindo um espelho para seu mais novo telescópio durante 16 horas.
William
a presenteou com um pequeno telescópio e a incumbiu de procurar cometas. Também
a instrui para que ela também anotasse
qualquer outro tipo de objeto interessante no seu caminho. Tratava-se de um refrator que William
considerava como uma espécie de buscadora. Com este modesto instrumento ( e
posteriormente com um refletor de 90 mm)
Caroline descobriu 11 DSO´nunca
antes observados.
Na
noite de 26 de fevereiro ,1783 ela escreveu: " Logo após Gama Canis Maj
uma nébula extremamente tênue. As
observações de meu irmão desta nébula: encontra-se aproximadamente a 3 1/2
graus de Gamma Canis Maj " Amas de
etoiles" ( como Messier referia-se a aglomerados abertos) cm cerca de 1/2 graus e próxima a uma estrela
de 7a ou 8a magnitude. om 456 (aumento) conta-se 15 ou 16
estrelas que são todas excessivamente obscuras e parecem um pouco nebulosas; mas
creio que isto se deva a sua baixa
altura e ao aumento excessivo. Com 227 ( aumento) conta-se entre 40 e 50
pequenas estrelas mais densas que em M93. Não é um Messier".
No
caderno de William Herschel encontra-se
esta versão e em seu catalogo ele atribui a descoberta da nebulosa a Caroline.
Ele a inclui como a entrada VII. 12 de seu levantamento.. Seu filho John ( que
organizou o GC [general catalog]) faz uma pequena confusão corrigida pelo
próprio William que esta descoberta de sua tia seria VIII. 8 ( atual Ngc 2358) . E desta forma
garante que a descoberta de Caroline é Ngc
2360 ( GC 1512) .
Este belo
e delicado aglomerado é a primeira descoberta original de Caroline. Como não
poderia deixar de acontecer se tornou conhecido como o "Aglomerado de
Caroline".
O
Aglomerado foi incluído por Patrick Moore em sua lista de "showpieces"
celestiais que formam o Catalogo Caldwell . É assim também C 58.
Quando
atualizei o Stellarium e este passou a incluir o Catalogo Caldwell percebi
rapidamente a existência deste aglomerado de nome sugestivo habitando na fronteira de Cão Maior e Monoceros. Não
poderia deixar de visita-lo.
Localizar
Ngc 2360 não é uma tarefa tão fácil como se pode imaginar. Localizado a cerca
de 3 1/2 graus ao leste de Muliphen (Gama Canis Maj) é um discreto esfuminho em
locais escuros junto a buscadoras. Eu não o percebi com minha 9x50 mm. Omeara considera o
aglomerado facilmente perceptível com binóculos de 7X35 mm. Ele observa de mais
de 1500 metros de altitude e com um céu bem mais escuro que de Búzios ou do Rio
de Janeiro. Muliphen em si é uma estrela
de 4.3 Magnitudes e é difícil de locais com forte poluição luminosa. Assim
inicio minha jornada em Sirius e utilizando a minha ocular de 26 mm e o
Stelarium ao meu lado faço um longo Starhopping que passa por 20 CMa dai até
Muliphen e daí no instinto até o Aglomerado. No processo acabei fotografando um
pequeno asterismo que me enganou na primeira tentativa. repetidas vezes me
deparo com o mesmo e acabo descobrindo ser formado por 4 pequenas estrelas por
volta de 9a magnitude .
Asterismo guia... |
Elas me recordam um pouco Ngc 5138 em Centauro. Com auxilio do Stelarium descubro que estou a
meno de 1/2 grau do Aglomerado de Caroline e assim acabo chegando ao meu
destino. Na verdade partindo de Sirius calcule um
salto por volta de 1 campo e meio de buscadora e "desça rumo ao horizonte
leste. Ou Usando uma ocular wide field calcule
os seus pulinhos utilizando o Stelarium ou um programa similar e depois
passeie rumo oeste só um "pouquinho". A persistência irá acabar
vencendo e você chegará lá... O Adm. William Henry Smith em seu "Cycle of Celestial Objects"
propõe um outro caminho. Imagine uma linha se estendo 8 graus a partir de Sirius
em direção ao aglomerado ( leste-Nordeste ) . Depois Imagine uma outra linha
que passe por Aldebarã e Bellatrix . Onde as linhas se interceptam esta o aglomerado.
Não é uma navegação das mais simples de
qualquer forma. Demorei dias tentando achar e fui ludibriado diversas vezes por
campos estelares e asterismos diversos. Esta região da Via Láctea é rica em
estrelas de 10a magnitude .
O
aglomerado propriamente dito é inconfundível e apresenta um núcleo mais
concentrado e fileiras de estrelas escapando do mesmo como em espiral. Cada
autor que consulto vê algo diferente. O´Meara diz nos ver um pequeno rato com
cauda e tudo. E ressalta que Barbara Wilson salienta um formato pentagonal no
mesmo.
Observei
o aglomerado com diversas oculares. Sando pequeno ele gosta de grandes aumentos
. A melhor visão do mesmo eu obtive com 120X. Utilizando minha 26 mm (46X) ele
não chega a se resolver na integra e pode até mesmo passar desapercebido por um
olhar menos atento. Com minha 17 mm ele começa a se resolver .
O
aglomerado contem 91 estrelas ( Archinal) e se espalha por 15 anos luz. Sua estrela mais brilhante possui magnitude
10.4 e seu membro mais apagado é uma discretíssima estrela de magnitude 17. Isto
faz que os limites do aglomerado sejam um pouco difíceis de se determinar em
uma área da Via Láctea , como já dito, rica em estrelas desta magnitude. Já é
um ancião em tratando-se de um
aglomerado galáctico. 2.2 bilhões de anos . diversos de seus membros caminham na
região das gigantes vermelhas de seu diagrama HR. Foram encontradas também
algumas Blue Straglers ( estrelas que consumindo outras parecem ser mais jovens
do que realmente são...) .
É um
interessante e antigo aglomerado que ainda por cima nos leva até Caroline
Herschel ." A primeira astrônoma
profissional".
E nos
lembra que astronomia é um substantivo feminino.
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