Noultimo post apresentei o primeiro encontro com a Canon T3. Eu planejara fotografar
IC 2602. As Plêiades Austrais. Não aconteceu e numa sessão afobada, como em
geral são primeiros encontros, fiz algumas imagens estabanadas de Ngc 4755. A
Caixa de Joias de J. Herschel.
Na
noite seguinte a lua se encontrava ainda mais brilhante, mas não me intimidou.
Aproveitando o “desalinhamento polar” do primeiro encontro eu consigo melhorar as
coisas. Com o auxilio de minha pequena 6X30 mm eu improviso uma buscadora polar
e quando consigo ter Sigma, Chi, Nu e Tau Octans do lado certo e com Sigma bem próxima
de onde deveria estar eu me dou por satisfeito. O alinhamento polar estava
feito. E ficou bem razoável. Embora a lenda conte que Sigma é uma estrela muito apagada ela é facilmente visivel com uma buscadora. E o triangulo formado com as outras duas é caracteristico.
"Buscadora Polar" |
Este método
de utilizar uma buscadora polar improvisada é rápido e indolor. E em locais que
o método do drift é impraticável permite alguma dignidade. É claro requer atenção
e um programa planetário já que vendo tudo de “cabeça para baixo” e espelhado pela
pequena buscadora colocar Sigma Octans no lugar certo (ela fica a 1º 5´do polo)
é muito parecido com um exercício de Ioga. A direção que ela deve estar
deslocada do eixo polar depende do horário. Por isso o programa planetário.
Eu
continuo insistindo em utilizar o pequeno “Galileu”. Meu refrator barato de 70
mm. IC 2602 cobre uma área do céu de
quase 1º . Ou seja, duas Luas cheias. E desta forma o 150 com seus 1200 mm de
distancia focal iria ter um inverno longo e duro para enquadrar tudo isto.
As Plêiades
Austrais são facilmente localizadas mesmo a olho nu e em locais de forte
poluição luminosa. Em uma noite de Lua cheia fica um pouco mais difícil, mas
mesmo assim é bastante simples de localiza-las pela buscadora 10X50 mm. Theta Carina, que é membro do aglomerado,
brilha com magnitude 2,7 e não é nenhum problema avista-la. Eu percebo
claramente alguma “nebulosidade” ao redor das mesmas. Esta se resolve com
qualquer auxilio óptico em dezenas de estrelas. É um daqueles aglomerados que
combinam muito com binóculos...
IC 2602
é uma descoberta original do Abbe Lacaille de 1751 realizada durante sua viagem
a Cidade do Cabo para mapear os céus austrais. É a entrada II. 9 de seu
catalogo. O próprio Lacaille percebeu sua semelhança com suas irmãs boreais, as
Plêiades originais.
É um
aglomerado relativamente jovem com 50.000.000 de anos estimados. E se encontra
a 479 anos luz de nós segundo o satélite Hipparchos. Possui aproximadamente 60
membros. Theta é o único acima de 5ª magnitude.
Com o
DSO enquadrado eu começo o meu segundo “tête-à-tête” com minha nova Canon T3. Rapidamente
descubro que Theta se apresenta no LCD. Isto é um maná para se focar o objeto.
A câmera oferece o recurso de se selecionar uma parte do LCD e ampliar a imagem.
Então centralizo a janela em Theta e amplio a imagem. Fazer o foco se torna bem
fácil e não preciso mais ficar caçando algo para ver através de um Viewfinder
espremido e em uma posição difícil.
Janelado Auto focus e " Guider"... Perceba Theta Carina. |
Depois disto
ainda descubro mais uma utilidade para esta janela. Com a imagem já em tamanho
normal eu centralizo o quadrado em Theta e com isto poso ter uma boa ideia
sobre a qualidade do alinhamento polar. A estrela deve se manter centralizada
na janela. E serve até como uma espécie de “auto guider”. Bem, nem tão “auto” assim...
Com
tudo transcorrendo bem o meu encontro parece que vai ser feliz. Lógico que não
pode dar tudo tão certo e apanho um pouco para ajustar a buscadora depois de um
esbarrão. Mas depois de alguns ajustes esta tudo de volta no esquadro e Theta
Carina de volta ao centro da janela do Auto focus.
Fotografando
com ASA 3200 faço algumas experiências. E descubro algo interessante. Em
primeiro lugar que as exposições que eu fazia na antiga 350 D (geralmente em
800 ASA e às vezes em 1600 apesar do ruído) podiam ser reduzidas a metade. E
que com o advento da obra do metro a poluição luminosa aumentou mais ainda na
fronteira da Republica do Leblon com Reino Unido de Ipanema. E assim as
exposições de 30 segundos são exageradas e sofrem barbaramente com a bela
iluminação com lâmpadas de Vapor de Sódio. Com a câmera regulada para “daylight”
(5200 k) o bafo laranja é evidente.
10 seg. 30seg. |
Quando fotografando aqui no Rio eu raramente
faço exposições superiores a 15 seg. Eu prefiro fazer mais exposições em vez de
exposições mais longas. Acredito que
assim consigo reduzir o efeito de Poluição Luminosa (PL daqui para frente).
Agora
com o auxilio luxuoso da ASA mais alta eu pude reduzir as exposições para 10
segundos. Seria o equivalente a exposições de 20 seg. em 1600 ASA. E as Plêiades
Austrais são um DSO muito brilhante e assim não necessitam de exposições muito
longas para registrar até seus mais tênues membros. E as fotos não acusam (tanto) a presença do
canteiro de obras...
Decido
capturar em JPEG. Eu sei que deveria usar RAW. Mas prefiro aguardar isto para
uma noite mais escura e mais digna. Continuo em modo teste...
Faço 43
fotos de IC 2602. Isto vai nos dar mais de 7 minutos de exposição somada.
Depois
faço ainda 27 Dark frames.
Agora
chegou a hora de visitar o DSS. Deep Sky Stacker.
Um
colega astrônomo que frequenta o “Cosmoforum” certa vez colocou que o DSS é um
programa meio temperamental. E que depois que você selecionou as fotos que quer
empilhar deve, antes de dar “enter” no processo, providenciar uma galinha
preta, Cidra e charutos “dos bons” e levar tudo até a encruzilhada mais
próxima.
Parece
que o programa esta de bom humor. O DSS seleciona 39 das 41 fotos para
empilhar.
O
resultado me deixa satisfeito. Embora fotografar através da tela da janela não
ajude o registro fica bem fiel. E revela também algumas deficiências do telescópio
que eu já havia notado no primeiro encontro.
Percebo
uma forte vinheta nesta imagem e assim resolvo fazer alguns Flat frames para
ver se melhoro a situação. Abaixo apresento
duas versões deste stacking. Sem flats. Utilizando a ferramenta Levels no Photo
shop eu acho que consegui reduzir a vinheta em uma das fotos. Mas à custa de
contraste. E não foi uma solução definitiva.
39 Lights, 24 darks. Sem Photo Shop |
Levels no Photo Shop + Noiseware |
Astrofotografia
pode se tornar um eterno processamento. Não é exatamente a minha parte
favorita, mas acredito que com a nova câmera eu acabe estudando mais as
possibilidades de diversos softwares. Tanto para a captura como para o
processamento das imagens.
Para
realizar os flats eu utilizei um método descrito pelo astro fotografo Fabrício Siqueira.
Não me lembro de exatamente aonde. Mas é bem simples. Com o telescópio na mesma
posição e mesmo foco e a câmera com os mesmo parâmetros utilizados no Light
frames você cobre a objetiva do telescópio com uma camiseta branca, coloca um
computador com a tela toda branca colada à camiseta e captura esta imagem. Via
ficar tudo branco.
Em tese
estes flat frames vão ajudar a me livrar da vinheta.
Não tenho certeza se fez muita diferença...
39 Light, 24 darks , 16 flats- DSS + Photoshop Levels +Noiseware |
O DSS
oferece diversas formas de se realizar o Stacking. Nesta foto, especialmente,
eu utilizei o método por eles chamado de Kappa Sigma Clipping. É mais pesado do
que o Average que em geral uso. Mas me parece um pouco mais eficiente.
Depois as
fotos visitaram também o Noiseware...
Este é post scriptum: \DSS+PS+IRIS+Noiseware. Melhorou o "vignetting"... |
Mesmo
antes do Noiseware pude perceber claramente que o nível de ruído da T3 é muito
mais baixo que da antiga câmera. Fiz um
stacking somente de Light frames (sem darks) que demonstra bem isto. Mesmo em
3200 asa o ruído é aceitável. A vinheta é barabara...
39 Lights - DSS |
E também
aprendi que os arquivos da T3 são muito maiores. E com as fotos tem 4272 por
2848 pixels o DSS vai bem. Mas o Rot n´Stack tem dificuldade para manipular estes
arquivos. Se faz necessário reduzir o tamanho das fotos no Photo Shop para que
o RnS conseguisse empilhar algumas fotos de NGC 3532 que embora fora de foco (
e, portanto não aceitas pelo DSS nem com “reza braba”) serviram para fazer
algumas experiências sobre processamento. Eu gosto de utilizar o Rot n´Stack,
pois ele empilha qualquer coisa e apesar de mais mambembe que o DSS é uma
ferramenta útil. É uma pena que ele não suporte os arquivos maiores da T3. É um
saco ter de reduzir dezenas de fotos... De
qualquer maneira utilizei o aglomerado para ajustar o alinhamento polar e
sobraram umas fotos, meio toscas e disfarçadas de desenho, deste belo aglomerado.
Será provavelmente o local que levarei a T3 no
nosso próximo encontro astronômico...
Nenhum comentário:
Postar um comentário