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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Aglomerados Abertos e Garças Brancas

Garça Grande Branca a esquerda


Existe certo preconceito, a meu ver, em relação a aglomerados abertos. Com exceção de alguns grandes nomes como as Hiades, Plêiades, M 6 e 7 e uns poucos outros parece existir um consenso de que eles são todos a mesma coisa. 
É mais ou menos como as Garças na Lagoa. Quem já viu uma Garça viu todas as Garças. É um equivoco comum.
Recentemente dei uma função a meu Zenith 20X50. 
Como já tinha ouvido de um amigo em um fórum na web ele era bom mesmo para observar a vida selvagem.
 Não é de fato muito afeito a viagens estelares e locais muito escuros.
 Este outro amigo parece gostar de usar o seu na observação de baleias pelo litoral sul brasileiro.
Este fim de semana foi bem longo. Com feriados na quinta e na terça a cidade parou por quase uma semana. 
Não que isto faça diferença para minha pessoa que trabalha como freelancer e assim não respeita o calendário terrestre. 
Mas...
Saí com minha filha e esposa em uma missão “fotográfico ornitológica” pela Lagoa Rodrigo de Freitas. E assim depois de fotografar diversos pássaros vinha à segunda parte da brincadeira. Descobrir que pássaro era que pássaro.
Nunca tinha brincado disto e apesar do que possa parecer eu não distingo bem um Tico-Tico de um Quero- Quero (bem, nem tanto...).
Por sorte ao voltar do passeio sentei em um botequim próximo de casa.
 Ali encontrei um grande amigo. Biólogo.
Rapidamente ele identificou todos os pássaros. E logo deu seu parecer:
- Nuncius, tratam-sede  uma Garça Grande branca, Uma Garça Pequena branca, uma Rolinha, um Pássaro – preto , dois Pardais , um bem-te-vi  e um Sabiá Laranjeira.
 - Ahh! E o preto de bico vermelho é um Frango da Água, Gallinula Galeata.

Este ultimo em latim me deixou doido.
 Ao chegar a casa fiz uma rápida pesquisa e descobri os nomes científicos deles todos. E no processo aprendi que nem todas as Garças nascem iguais.
Sempre vi Garças maiores e menores em meus passeios por aí. São aves bem comuns.
E sempre pensei que as menores fossem exemplares jovens das maiores. Afinal Garças são como Aglomerados Abertos. Quem viu um viu todos.
Nada como estar errado duas vezes...
A Garça Branca Pequena é uma espécie.  Egretta Thula. E a Garça Branca Grande é outra.  Ardea Alba.
Se você repara bem na foto que abre este post você vai perceber claramente a diferença. Além do obvio tamanho você perceberá que a Garça menor tem o bico preto e os pés amarelos. Já a maior tem o bico amarelo e os pés pretos...
Depois desta ornitologia toda (e de ter ficado usando o Zenith uma tarde inteira) eu não poderia estar deixando de sentir saudades de meu querido telescópio.
Não tinha nenhum plano para observar algo em especial. E meio que ao deus dará eu apontei o Newton na direção do horizonte leste.  E desta forma em direção a Popa do navio.
Como eu ia dizendo aglomerados abertos são que nem as garças. Em uma analise atenta eles são completamente diferente um dos outros embora o embrulho seja semelhante.
E desta forma localizei vários aglomerados que residem muito perto um dos outros e que deveriam ser lembrados com mais frequência. Cada um de seu jeito, mas todos deslumbrantes.
O meu bom telescópio me levou sozinho ao primeiro alvo.   Ou melhor, Pi Puppis fez isto. Ela é uma estrela brilhante e facilmente percebida a olho nu.
É como que a Capital de Cr 135. 
Cr 135
O aglomerado de Pi Puppis se apresenta de forma elegante mesmo com a forte poluição luminosa e ainda baixo no horizonte.  Precisei usar minha 25 mm para englobar todo o aglomerado que se espalha por cerca de 1º.  As quatro estrelas mais brilhantes formam um triangulo quase equilátero. Pi Puppis se apresenta bem avermelhada. Possivelmente devido a estar tão baixa no horizonte. Me lembro dela mais amarelada.  Percebo mais cerca de uma dúzia de estrelas pontilhando a paisagem...
Cr 135 pode ser um asterismo e não possuir suas estrelas relacionadas. Mas vale a visita. E é um excelente começo para o tour de hoje...
A partir de Cr 135 você navegará facilmente até Ngc 2451 utilizando uma buscadora de pelo menos 8X50. Ele se apresentará para ela facilmente. Até mesmo resolvendo-se. Foi , creio, registrado pela primeira vez por John Herschel (o filho). 
Ngc 2451 E 2477

Ele inclui a estrela avermelhada c Puppis de 3.6 mag. E se apresenta bem mais comprimido que Cr 135. Já mostrando claramente que cada aglomerado aberto é único. Dos aglomerados aqui apresentados é meu favorito e deveria ter um lugar de destaque entre aqueles grandes nomes que falei. Com certeza é uma parada obrigatório para qualquer astrônomo amador. E fácil de ser localizado.
Seguindo o curso natural das coisas você irá achar Ngc 2477. Uma descoberta do Abbe Lacaille e incluiddo em seu catalogo entre 1751-52.É a entrad Lac I.3.
Este ainda mais baixo no horizonte e brilhando em modesta 6ª mag. é o mais delicado dos visitados de hoje à noite. E com apenas 20´ (tamanho) ele requer mais atenção junto à buscadora. É mais compacto e suas estrelas mais comprimidas.
Na verdade costumo chegar a ele usando a 25 mm e navegando pelo telescópio. É só seguir uma trilha de estrela. É fácil e sempre chego a ele “meio que” por instinto.  O achei pela primeira vez desta forma...

Daqui volto a Cr 135 e em um rápido pulo chego a outro aglomerado do catalogo Cr.
Collinder 140 é um aglomerado do tipo Plêiades segundo seu descobridor. E é facilmente percebido mesmo a olho nu em locais mais escuros que minha janela. Aqui ele é vitima recorrente da buscadora...

Ele carrega consigo uma história interessante. Seria Cr 140 um dos “objetos perdidos” de Lacaille? A entrada Lac II. 2 de catalogo do Abbe não bate com a posição . Mas a descrição, as circunstancias e outras entradas no antigo catalogo levantam fortes suspeitas. Eu, particularmente, acredito que Cr 140 e Lac II.2 são a mesma pessoa...   

Cr 140 ( Sketch)

Este é semelhante a  Cr135. Um perfeito contraponto para demonstrar que assim como as Garças são os detalhes que contam. Compare os dois e conte as diferenças... Depois me diga.

Apesar da forma , do tamanho e até mesmo a coloração de suas estrelas serem semelhantes eles não podem ser mais diferentes.



Encerrando o um passeio que escapa de figurinhas muito repetidas e que ha muito  não fazia eu visito Cr 132. Este é enorme e me faz passear por ele com a 25 mm calçada no telescópio. Um aglomerado grande... E um grande aglomerado. Outro que deveria ser mais cantando em prosa e verso.


Cr 132 . Um caso raro que é melhor "ao vivo" que em fotografia...


Assim sendo olhe para as coisas com atenção e perceba as diferenças.
Alguém uma vez me disse:
- Devil is on the details.
Com a Beleza também é assim.

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