A paisagem... |
Apesar
do que sugere a paisagem, as belas fantasias “herschelianas” se desfazem
perante um quadro tridimensional. Enquanto Antares repousa a apenas 150 anos “atrás”
do véu de poeira de Rho Ophiuchi, M 4 é um dos globulares mais próximos da
terra a modestos 6650 anos luz de nós enquanto 6144 viaja distante a 21.000 anos
luz de nós e a meros 8.500 anos do centro galáctico.
Herschel
descobriu Ngc 6144. É a entrada H 10 .VI de seu catalogo. A categoria VI de
Herschel engloba “muito comprimidos e ricos aglomerados de estrelas”. Nesta categoria de seu catalogo encontram-se
muito aglomerados abertos brilhantes e muito ricos e brilhantes aglomerados
globulares que Herschel considerava resolvidos. Ele descreve: “um muito condensado
e consideravelmente grande aglomerado das mais tênues estrelas imagináveis,
todas de uma cor “vermelho empoeirado” (dusky red color). A um passo de uma nébula
resolvível.”
Apesar
da imensa extinção da região o globular brilha com magnitude 9.0. Mais
brilhante que M 72 em Aquários e o mais tênue dos Globs Messier. Isto indica que o brilho de Antares e “a
poeirada” na região escondeu este de Messier e seus contemporâneos.
Ngc 6144 é
cheio de antíteses. Ele se acende em
meio a poeira de Rho Ophiuchi e se “apaga” nas luzes de uma estrela gigantesca.
Mas é uma figura poética e que que “explica” bem o caso. Eu, mesmo sabendo onde ele se encontrava e
existia, demorei anos para observa-lo de fato. Embora não seja difícil demanda
alguma técnica e vontade. É um daqueles casos que de tão a vista está muito bem
escondido. Mas como um aumento razoável e isolando o mesmo de Antares o
aglomerado se revela e ensaia alguma resolução no Newton (meu telescópio
newtoniano 150 mm f8). Nunca tentei um ataque a sério com o Galileu (meu
refrator acro 900 mm f13).
Com
um tamanho real de 70 mil anos luz é um aglomerado pequeno e um exemplar dos
chamados aglomerados do disco. Um pouco mais ricos em metais e mais jovens que
os de halo. Mas não se emocione. Ngc tem cerca de 10 bilhões de anos (parece
ser a idade mínima para globulares...) e
1/56 do Fe presente no sol. Muito
semelhante a o mais conhecido M 80 que também habita por Escorpião.
O
Chandra X-Ray Observatory localizou duas intensas fontes no aglomerado.
Provavelmente variáveis cataclísmicas. Provavelmente dois sistemas compostos
por uma anã branca primaria e uma estrela laranja gigante da sequência
principal secundaria. Um dos sistemas foi confirmado pelo HST e pelo Chandra trabalhando
em conjunto. Nestes casos a anã branca vai acretando material do disco da
gigante laranja até o limite e explode (emitindo em Raio -X). A secundária, ao
ter suas camadas mais externas “estripadas,” sobe de brilho. Uma vez ocorrida a
explosão se reinicia o ciclo. Mas não
destroem as envolvidas como em uma supernova.
Ngc
6144 é um bastardo. Nenhum dos guias observacionais clássicos o cita. Smith,
Weeb, Olcoot e mesmo Burnham não apresentam o aglomerado (Burnham apenas o
inclui no apêndice que abre cada entrada de constelações em seu Celestial Handbook
e apresenta todas as estrelas (dignas de nota) e DSO´s contidos nesta). Bayer é
o único dos observadores clássicos a descrever o aglomerado durante a
elaboração do NGC. Tenho duvidas se mesmo John Herschel tenha observado de fato
o aglomerado. Ele era um daqueles objetos sob medida para o “Projeto Tudo que Existe”.
O globular se tornou mais popular em guias observacionais mais atuais. O´Meara
o apresenta em seu “Deep Sky Companions: The Secret Deep”. Neste ele nos diz que considera “bem visível com
Antares em campo com um 5 polegadas a meros 33 X. E aparece como um bonito e
uniforme brilho com cerca de 5´de diâmetro. Com visão periférica posso sentir
uma irregularidade em sua forma e alguma granulosidade através de sua face, mas
estes vislumbres são corrompidos pela luz de Antares.” Mark Bratton em seu “The Complete Guide to the
Herschel Objects” nos conta (e discorda de O´Meara) que o aglomerado está a 31.000
anos luz. E diz que “visualmente” é um objeto tênue e difuso localizado a leste
de uma estrela de campo de 10a magnitude. Enevoado e mal definido
este aglomerado globular é mais brilhante em direção ao centro. Levemente oval
e alongado no sentido Norte-Sul. Algumas estrelas mais brilhantes se resolvem
contra um fundo nebuloso”. No super
completo Catalogo do Lunginbuhl & Skiff a descrição é bem honesta. Especialmente
para aqueles que observam mais ao norte do equador (para nós as coisas são um
pouco melhores..) : “ Em um 150 mm este aglomerado é bem tênue. Um brilho pobremente
concentrado 40´ a NW de Antares. Com 250 mm o aglomerado comece a se resolver
parcialmente com 150 X. Estrelas de 13a magnitude começam a “piscar”
sobre um fundo enevoado. Com 300 mm se resolve parcialmente. Uma faixa de estrelas
alinhadas N-S se destaca do fundo.”
Localizar
Ngc 6144 é tão fácil como localizar Antares. Uma vez isolando este da gigante
vermelha e com mais de 120 X de aumento o aglomerado começa a revelar algumas
estrelas. Um grupo mais brilhante parece cortar o globular na sua região central
e se apresenta fotograficamente com um telescópio de 150 mm (como descrito para
um 300 mm na descrição de Luginbuhl). Esta barra remonta a uma mini versão de M
4 . Seu vizinho mais famoso.
Um
belo desafio para possuidores de telescópios de qualquer tamanho.