Estou lendo um livro bastante interessante.
Seu título é auto explicativo. “ Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”. Seu autor ( Yuval Noah Havari) nos conta como
nos tornamos a única espécie do gênero Homo que sobreviveu. E de como fomos, provavelmente,
os principais responsáveis pela extinção e/ou absorção de nossos parentes mais
próximos. A seu ver a principal razão de nosso “sucesso” evolutivo deu-se por
uma revolução cognitiva. Encurtando uma história longa (recomendo que leiam o livro. É bem escrito e pode ser bem mais
realista do que muitos “Sapiens” gostariam de acreditar ou até mesmo acreditam) ele nos conta que ao redor de 2,5 milhões de anos surgiram os primeiros humanos
(membros do gênero Homo) que evoluíram de um simpático grupo de primatas que
atendiam pela alcunha geral de Australopithecus (perceberam o “ Austral” no início do nome? “Os macacos
do Sul” são, de certa forma, os antepassados de todos que você conhece. Galileu,
Newton, Herschel, eu e você). Avançando o filme chegamos a 150.000 anos atrás.
Neste momento o sapiens já está estabelecido. Mas não era de forma alguma o rei
do Pedaço. Existiam pelo menos seis espécies do gênero Homo dividindo a terra
com ele. E todas elas ocupando um posto bem “mais ou menos” na cadeia
alimentar. Comíamos basicamente tutano. Os leões, hienas e afins comiam a
carne. Nós roíamos o osso. Mas como Mestre Nestor Capoeira já dizia: “Parece
que para mim osso não foi tão ruim assim”.
Pelos próximos
70 ou 80 mil anos as coisas não mudaram muito. O Homo Sapiens continuava
habitando a África oriental e só. Mas aí algo aconteceu. 70.000 anos atrás esta
espécie de humanos (sapiens) começou
a se espalhar pela Península Arábica e daí para a Eurásia. Bem rapidamente. Curiosamente
conforme estes iam se espalhando as outras espécies do gênero Homo iam
perecendo. Apesar de bases fosseis
insuficientes algo aconteceu. O Mundo seguramente era habitado por quatro ou
mais espécies do gênero Homo. Os últimos remanescentes do Homo denisova desapareceram há 50 mil anos atrás. Mais 20 mil anos
e os Neandertais se juntaram a lista dos animais extintos. E o diminuto Homo floresiensis nos abandona há 13 mil
anos atrás. Só sobramos nós, o Homo
sapiens.
O
que teria acontecido por volta de 70 mil anos atrás que levou esta espécie
especifica de humanos a proliferar enquanto as outra minguaram?
O
autor acredita que em um último ato evolutivo o nosso cérebro e as “nossas sinapses”
começaram a funcionar de forma mais eficiente. A nossa linguagem deu um salto e
isto nos fez mais eficientes fofoqueiros e mais curiosos que nossos primos. E
voilá.... Olhamos para o céu e criamos constelações e mitos. A tal da revolução
cognitiva que nos levará a topo da cadeia. Seremos os senhores das moscas....
Depois
disto, como dizem, é história. Mais alguns poucos milhares de anos e todo o
registro da humanidade (agora composta apenas por Homo sapiens) vai ser registrado de forma escrita.
Depois
disto a curiosidade do Homo sapiens nos levou até Ngc 5460.
Possuo
diversos projetos observacionais em andamento. Tendo concluído o “Projeto
Lacaille” iniciei diversos outros. O mais ambicioso destes e que habita mais o
terreno das lendas que da astronomia está o “Projeto Tudo que Existe”. Apesar do
nome ele consiste em tentar observar “apenas” todo o Catálogo NGC antes de
partir para o infinito.
Em
noite de lua (quase) cheia e sem maiores pretensões olho
para a tela de meu lap top e pinço Ngc 5460 no Stellarium. Um aglomerado aberto
perfeito para o “Projeto Tudo que Existe”. Posteriormente ele se revela também
membro do “Projeto Dunlop 100”. Este mais modesto e ao alcance do “Newton” (meu
refletor de 150 mm f8) e composto por uma lista observacional organizada por
Glen Cozens na qual se reúnem os 100 objetos mais interessantes observados por
James Dunlop durante seu pioneiro levantamento de nebulosas do céu Austral
realizado em apenas 7 meses de 1826.
Ngc
5460 é um delicado e disperso aglomerado aberto localizado a cerca de 2o
de Alnair (z Centauro). Tendo escapado de Lacaille sobrou para Dunlop esta bela presa capturada em 7 de maio de 1826. Esta
é a entrada 431 de seu catálogo:
“
Uma curiosa linha curvada de pequenas estrelas, de magnitude quase igual; duas
estrelas ao leste”.
O
próximo sapiens a vislumbrar esta
pequena joia foi John Herschel:
“
Uma região de grande, brilhantes, 8, 9 e etc.. magnitudes; um aglomerado bem
disperso. Um grupo brilhante. Uma delas uma dupla de classe III. (h3555) ”
William
Herschel (pai de John) dividia estrelas duplas em 6 classes. As estrelas duplas
de classe III apresentam uma separação entre 5´´ e 15´´ de grau.
Ngc
5460 é classificado como um aglomerado (pelo sistema Trumpler) como II3m. Ou
seja: um aglomerado que possui pouca ou nenhuma concentração central, destacado
das estrelas de fundo e moderadamente rico.
O
aglomerado é perceptível mesmo pela minha buscadora (10X50mm) mas se torna mais
charmoso conforme aumento a magnificação. Visualmente considerei o melhor
resultado obtido pela minha ocular de 17 mm (70,5 X). Assim resolvo a estrela
dupla central e ainda possuo um campo interessante emoldurando o aglomerado. Utilizando a 10 mm (120X) a estrela dupla
central é ainda mais charmosa e bem separada. Não posso deixar de recordar-me de Ngc 5281 também em Centauros. 5460 parece uma versão maior deste. É uma impressão apenas. Ngc 5281 esta quase ao dobro da distancia.
O
aglomerado reside a 2.300 anos luz e com isto podemos calcular que se espalhe por
23 anos luz. Estudos recentes apontam para uma idade intermediaria. 160.000.000
de anos.
O
aglomerado é bastante estudado especialmente porque aglomerados próximos permitem
a compreensão de mecanismos que “freiam” estrelas as quais giram muito
rapidamente já assentando na sequencia principal. Esta rápida rotação se dá
como resultado da conservação do momentum angular durante esta fase final de
contração a caminho da sequência principal. ( D.Barrado e P. B. Byrne). Parecem
existir mais de um mecanismo agindo para se obter o mesmo resultado. A massa
das estrelas é certamente um fator importante e mecanismos diferentes podem
agir em aglomerados de diferentes idades. A curiosidade do Sapiens a serviço da
astrofísica não deve ter sido um diferencial contundente no processo evolutivo
que levou a extinção das outras espécies do gênero Homo. Mas certamente é fruto
da tal revolução cognitiva. Estas
estrelas não deixarão de rodar mesmo que não acreditemos que elas giram. Mas
mesmo assim sabemos disto. Deve ser algo muito duro para alguns poucos Sapiens
que em razão desta mesma revolução cognitiva criaram mitos como uma Terra com
apenas 6 mil anos... tanto os mitos como a ciência parecem ter sido uma
exclusividade de nossa espécie.
Localizar
Ngc 5460 é bastante simples. Em locais de pouca poluição luminosa será possível
suspeitar do mesmo com a vista desarmada. Em locais mias ingratos localize z Centauro e ele estará dentro do campo da buscadora. Mesmo em áreas
muito ingratas com a estrela centralizada e utilizando uma ocular wide Field
será uma fácil busca nos arredores.
Ngc
5460 foi ainda um campo de provas para a capacidade de processamento de
diversos softwares para tratamento de imagem que possuo. A captura foi feita de
forma estabanada. Como era noite de lua (quase) cheia o alinhamento polar fora
feito por aproximação e como membro do “Projeto Tudo que Existe” (já vai ser difícil
observar visualmente todo o Catalogo Ngc. Se ainda tiver que fazer fotinho
bonitinha vai ser ...) fiz apenas umas poucas fotos após observar o aglomerado.
Não tomei notas e imagino que o produto final seja o resultado de empilhamento
de menos de 10 exposições com menos de 30 segundos cada. As fotos do Projeto
ficam geralmente esquecidas até que eu as reencontre e resolva apresentar os
aglomerados no Nuncius Australis.
Resultado com o PixInsight |
Excepcionalmente
Ngc 5460 acabou sendo utilizada como uma primeira experiência com
uma cópia do PixInSight LE que obtive.
É
uma versão freeware do poderoso soft. Mas não posso negar que apesar da
experiencia ter sido bastante limitada o Pix me pareceu uma versão mais
poderosa do Fitswork. Pelo menos no que se trata de remover o gradiente de
fundo e de melhorar o ruído. As fotos originais foram empilhadas no Rot n Stack
(o que já demonstra a total falta de compromisso no momento de captura). O
delicado aglomerado não é muito mais do que se vê nas fotos por aqui... A interface não é tão amigável mas mesmo tendo apagado mais estrelas do que devia no processo de subtração do fundo creio que consiga melhorar os ajustes com pratica e paciência. Não posso negar que além de estrelas ele removeu vários hotpixels Esta primeira experiência foi apenas um reconhecimento. Vou dar uma pesquisada e ver alguns tutoriais.
Fitswork e PS |
Espero
agora o tempo limpar para poder fotografar os Globulares Messier que faltam
para um outro projeto em andamento. Tendo atualizado o Câmera Raw do meu Photoshop
e com o Pix a disposição aguardo o “Paradoxo de Newgear” e a Lei de Murphy
colapsarem para testar as possibilidades das novidades.
Imagino já
ter chegado ao final do livro até lá. Os capítulos finais tratam da “Revolução
Cientifica”.
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