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segunda-feira, 5 de junho de 2017

M 10 : Um Nobre Globular

     


          Em vias de terminar meu projeto de fotografar todos os Globulares do catalogo Messier resolvi organizar a papelada e percebi que diversos destes DSO´s que já havia registrado não possuíam entradas independentes aqui no Nuncius Australis. Em particular os residentes em Ophiucus (que juntamente com Sagitário reúne a maior parte destes). No último post apresentei M 12. Assim não poderia deixar de dedicar o mesmo tratamento a M 10. No moderno clássico “Turn Left at Orion” (o qual recentemente finalmente observei todos os objetos listados...) estes se aboletam na mesma apresentação. E em muitos textos são citados como aglomerados irmãos.
            M 10 também é uma descoberta original de Messier e foi observado uma noite antes de M12 e uma noite depois de M 9. Por alguma razão que a própria razão desconhece estes serão apresentando em ordem decrescente e na contramão da história por este que vos escreve...
            Messier nos conta: “ Na noite de 29 para 30 de maio de 1764, determinei a posição de uma nebulosa que descobri na cintura de Ophiucus, próxima a trigésima estrela desta constelação de acordo com Flamsteed (os numeros Flamsteed continuam sendo muito utilizado para identificar estrelas visíveis a olho nu nas constelações e são utilizados depois que se acabam as letras gregas). Tendo examinado esta nebulosa com um telescópio gregoriano com 104X de ampliação não via estrela alguma; esta é arredondada e bela, com um diâmetro de 4 minutos de grau.  Ela percebe-se dificilmente com uma luneta comum de um pé (33 cm) ... Eu marquei esta nebulosa sobre a carta da rota aparente do cometa que observei no ano anterior”
            Como já é um a tradição aqui no Nuncius Australis apresentarei a seguir as clássicas observações de M 10 realizadas pela família Herschel e posteriormente a observação feita pelo Admiral Smyth no que foi o mais popular guia observacional do século XIX (“The Cycles of Celestial Objects”):
            “ Um Aglomerado muito belo e extremamente concentrada e sem nenhum traço de nebulosidade” (William Herschel)
            “Um soberbo aglomerado de estrelas bem concentrado, gradualmente mais brilhante em direção a seu centro. As estrelas estão entre 10a e 15a        magnitude e se dirigem para um clarão em seu centro. Um nobre objeto” (John Herschel)
            “ Rico aglomerado de estrelas condensadas. Este nobre fenômeno é de um matiz branco lúcido levemente atenuado em suas margens e se concentrando como um clarão em direção a seu centro. ”
            Podemos perceber que Smyth sempre é muito influenciado pelas impressões de John Herschel. A quem idolatrava...
            Aprofundando um pouco as pesquisas chegamos a Lorde Rosse que possuidor do maior telescópio do período clássico da astronomia nos conta que “ o aglomerado possui uma linha escura acima de seu centro ou melhor no seu sexto superior o que o torna muito mais tênue que o resto do conjunto”.
            Autores mais atuais como O ‘Meara notam regiões mais escuras ao longo do halo externo de M10, mas nada como descrito por Rosse. Com menos aumento O ‘Meara nos diz que “ as estrelas do halo externo possuem um brilho azul gelado enquanto sua região mais central apresenta uma luz salmão pálida. Parece até um decorador de interiores descrevendo o aglomerado... este também considera M 10 um alvo facilmente percebido com a vista desarmada. Segundo ele basta se perceber 30 Ophiuchi com visão direta e nossa visão periférica irá perceber claramente M 10. Stoyan é mais modesto e diz ser possível perceber M10 a olho nu em céus excepcionalmente favoráveis.  Burnham em seu “Celestial Handbok” dedica alguma atenção a aglomerado.
            Observando com o Galileu (meu refrator 70 mm f13) ou com meu binóculo 15X70 mm não chego a resolver estrelas e me inclino a concordar em gênero, número e grau com a descrição original de Messier...
            Observando com o Newton (meu refletor 150 mm f8) resolvo estrelas na sua parte externa facilmente. O aglomerado cobre facilmente 8´de diâmetro e é bem mais evidente que M 12. Não percebo cor.  Na foto feita (pouco mais de 10 exposições de 30 segundos com ASA 3200. Este é um cálculo aproximado já que a foto foi realizada ha mais de um ano...)  não percebo a diferença de gradiente descrita por Rosse, mas as regiões mais escuras são evidentes. Estou mais a concordar com Stoyan e acreditar que M 10 seja viável a olho nu no Atacama. Ou no semiárido. Estive em uma fazenda próxima a Ibotirama há alguns anos e o céu era impressionante. Mas mesmo assim somente para olhos treinados e sóbrios...
            A distância de M 10 é alvo de certa discordância entre os diversos autores. O ‘Meara nos dá modestos 14.300 anos luz. Já o mais antigo Burnham nos apresenta várias opções; Shapley (1933) o leva a distantes 33.000 anos luz. Kimnan o considera mais proximo que M13 e o situa a 16.000.  Já Sawyer (1963) aposta em 22.000 anos luz. Atualmente e depois do Hiparchos a distância aceita é de 24.750 anos luz (Stoyan). Seu tamanho é de 140 anos luz.
            Detalhados modelos dinâmicos “preveem” um colapso do núcleo de M 10 em alguns bilhões de anos. Isto vai levar a uma extrema concentração estelar em seu núcleo e mudar sua aparência. Algo me diz que surgirão mais estrelas variáveis que as poucas registradas até agora.

            Localizar M10 é basicamente localizar 30 Ophiuchi. Em locais escuros muito fácil. Na cidade parta de Zeta Ophiuchi e localize 30 com auxílio de uma buscadora ótica. O aglomerado se apresenta para uma buscadora 10X50 mais facilmente que M 12 logo ao lado.... De céus suburbanos (Bortle 6) é bem fácil. Na cidade grande é possível...


            Aproveite proximidade de M 12 para perceber como globulares são diferentes entre si. Este não só não sofrerá colapso de seu núcleo como poderá acabar se dissipando devido à baixa densidade de seu núcleo e da proximidade do núcleo galáctico. 

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