Em vias de terminar meu
projeto de fotografar todos os Globulares do catalogo Messier resolvi organizar
a papelada e percebi que diversos destes DSO´s que já havia registrado não possuíam
entradas independentes aqui no Nuncius Australis. Em particular os residentes
em Ophiucus (que juntamente com Sagitário reúne a maior parte destes). No último
post apresentei M 12. Assim não poderia deixar de dedicar o mesmo tratamento a
M 10. No moderno clássico “Turn Left at Orion” (o qual recentemente finalmente
observei todos os objetos listados...) estes se aboletam na mesma apresentação.
E em muitos textos são citados como aglomerados irmãos.
M 10 também é uma descoberta original de Messier e foi
observado uma noite antes de M12 e uma noite depois de M 9. Por alguma razão
que a própria razão desconhece estes serão apresentando em ordem decrescente e
na contramão da história por este que vos escreve...
Messier nos conta: “ Na noite de 29 para 30 de maio de 1764,
determinei a posição de uma nebulosa que descobri na cintura de Ophiucus,
próxima a trigésima estrela desta constelação de acordo com Flamsteed (os
numeros Flamsteed continuam sendo muito utilizado para identificar estrelas visíveis
a olho nu nas constelações e são utilizados depois que se acabam as letras
gregas). Tendo examinado esta nebulosa com um telescópio gregoriano com 104X de
ampliação não via estrela alguma; esta é arredondada e bela, com um diâmetro de
4 minutos de grau. Ela percebe-se
dificilmente com uma luneta comum de um pé (33 cm) ... Eu marquei esta nebulosa
sobre a carta da rota aparente do cometa que observei no ano anterior”
Como já é um a tradição aqui no Nuncius Australis
apresentarei a seguir as clássicas observações de M 10 realizadas pela família
Herschel e posteriormente a observação feita pelo Admiral Smyth no que foi o
mais popular guia observacional do século XIX (“The Cycles of Celestial Objects”):
“ Um Aglomerado muito belo e extremamente concentrada e
sem nenhum traço de nebulosidade” (William Herschel)
“Um soberbo aglomerado de estrelas bem concentrado,
gradualmente mais brilhante em direção a seu centro. As estrelas estão entre 10a
e 15a magnitude e se
dirigem para um clarão em seu centro. Um nobre objeto” (John Herschel)
“ Rico aglomerado de estrelas condensadas. Este nobre fenômeno
é de um matiz branco lúcido levemente atenuado em suas margens e se
concentrando como um clarão em direção a seu centro. ”
Podemos perceber que Smyth sempre é muito influenciado
pelas impressões de John Herschel. A quem idolatrava...
Aprofundando um pouco as pesquisas chegamos a Lorde Rosse
que possuidor do maior telescópio do período clássico da astronomia nos conta
que “ o aglomerado possui uma linha escura acima de seu centro ou melhor no seu
sexto superior o que o torna muito mais tênue que o resto do conjunto”.
Autores mais atuais como O ‘Meara notam regiões mais
escuras ao longo do halo externo de M10, mas nada como descrito por Rosse. Com
menos aumento O ‘Meara nos diz que “ as estrelas do halo externo possuem um
brilho azul gelado enquanto sua região mais central apresenta uma luz salmão
pálida. Parece até um decorador de interiores descrevendo o aglomerado... este
também considera M 10 um alvo facilmente percebido com a vista desarmada.
Segundo ele basta se perceber 30 Ophiuchi com visão direta e nossa visão
periférica irá perceber claramente M 10. Stoyan é mais modesto e diz ser possível
perceber M10 a olho nu em céus excepcionalmente favoráveis. Burnham em seu “Celestial Handbok” dedica
alguma atenção a aglomerado.
Observando com o Galileu (meu refrator 70 mm f13) ou com
meu binóculo 15X70 mm não chego a resolver estrelas e me inclino a concordar em
gênero, número e grau com a descrição original de Messier...
Observando com o Newton (meu refletor 150 mm f8) resolvo
estrelas na sua parte externa facilmente. O aglomerado cobre facilmente 8´de diâmetro
e é bem mais evidente que M 12. Não percebo cor. Na foto feita (pouco mais de 10 exposições de
30 segundos com ASA 3200. Este é um cálculo aproximado já que a foto foi
realizada ha mais de um ano...) não
percebo a diferença de gradiente descrita por Rosse, mas as regiões mais
escuras são evidentes. Estou mais a concordar com Stoyan e acreditar que M 10
seja viável a olho nu no Atacama. Ou no semiárido. Estive em uma fazenda
próxima a Ibotirama há alguns anos e o céu era impressionante. Mas mesmo assim
somente para olhos treinados e sóbrios...
A distância de M 10 é alvo de certa discordância entre os
diversos autores. O ‘Meara nos dá modestos 14.300 anos luz. Já o mais antigo
Burnham nos apresenta várias opções; Shapley (1933) o leva a distantes 33.000
anos luz. Kimnan o considera mais proximo que M13 e o situa a 16.000. Já Sawyer (1963) aposta em 22.000 anos luz.
Atualmente e depois do Hiparchos a distância aceita é de 24.750 anos luz (Stoyan).
Seu tamanho é de 140 anos luz.
Detalhados modelos dinâmicos “preveem” um colapso do núcleo
de M 10 em alguns bilhões de anos. Isto vai levar a uma extrema concentração estelar
em seu núcleo e mudar sua aparência. Algo me diz que surgirão mais estrelas variáveis
que as poucas registradas até agora.
Localizar M10 é basicamente localizar 30 Ophiuchi. Em locais
escuros muito fácil. Na cidade parta de Zeta Ophiuchi e localize 30 com auxílio
de uma buscadora ótica. O aglomerado se apresenta para uma buscadora 10X50 mais
facilmente que M 12 logo ao lado.... De céus suburbanos (Bortle 6) é bem fácil.
Na cidade grande é possível...
Aproveite proximidade de M 12 para perceber como
globulares são diferentes entre si. Este não só não sofrerá colapso de seu núcleo
como poderá acabar se dissipando devido à baixa densidade de seu núcleo e da
proximidade do núcleo galáctico.
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