Corona Australis é uma constelação de elegância discreta.
Espremida entre as ostentadoras e zodiacais Sagitário e Escorpião e com
suas estrelas mais brilhantes atingindo não mais que magnitude 4.1 ela não
chega a se destacar. Mas seu formato é evidente e esta é uma das 48 constelações listadas por Ptolomeu no
seculo II. Os antigos gregos não
percebiam uma coroa. Para estes ela mais se parecia com uma grinalda e a
associavam a Sagitário ou a Centauros.
Sua
estrela mais brilhante é Alpha CrA. Esta é a única estrela na constelação que
recebe um nome próprio. Alfecca Meridiana.
Sua 11 estrelas mais proeminentes foram destacadas pelo padrinho do Nuncius
Australis , o Abbe Lacaille, que utilizou as letras gregas de Alpha até Lambda
para as registrar. Por alguma razão desconhecida o mesmo designou duas das
estrelas de CrA como Eta e omitiu Iota...
Apesar
de disputar com duas das constelações mais ricas em DSO´s dos céu Corona
Austrina ( seu outro nome...) possui peças dignas de nota e uma notável
região. Ela possui um adas regiões de
formação estelar mais próximas do sistema solar. Uma poeirenta e escura nebulosa denominada de
"Nuvem Molecular de Corona Australis". Por isto a nossa discreta e
educada Coroa possui diversas estrelas e proto estrelas muito especiais e no
começo de suas vidas. R e TY CrA são dois tipos de variáveis que são modelos
clássicos de estrelas que estão ainda assentando a sequencia principal. A Região é rica também em nebulosas de
reflexão que são alimentadas por estrelas jovens e sem massa suficiente para
criarem nebulosas de emissão. Na região também se encontram diversos objetos
Herbing-Haro ( proto estrelas).
Registrei
ainda que de forma tímida e preguiçosa uma das áreas da constelação de maior
interesse para astrônomos amadores. Nesta pequena area de menos de 1ox1o
se encontram diversos DSO´s
de características diferentes e todos bastante atraentes para pequenos
telescópios.
Na
foto de abertura podemos perceber claramente Ngc
6723 ( um aglomerado globular) ,Ngc 6726-27 (nebulosas de reflexão) e Ngc
6729 ( Nebulosa variável) de forma mais discreta. Se esconde ainda IC 4812.
Ngc
6723 curiosamente escapou as observações de Lacaille. E este apesar de utilizar
um refrator minusculo ( 8X 12,5 mm) descobriu globulares bem mais difíceis de
serem observados e percebidos . Desta
forma sua descoberta teve que esperar por Dunlop iniciar seu levantamento em
Paramatta , Nova Gales do Sul na Austrália. Este é a entrada 559 de seu
catalogo e foi avistado em 3 de Junho de 1826.
Ele
escreveu: " Uma bela nébula arredondada e brilhante , com 3 1/2´ de diâmetro , moderada e gradualmente condensada
e para o centro. Ela se resolve. A
moderada condensação e a cora azulada das estrelas que o compõe lhe dão uma aparência suave e agradável. É muito
difícil de se resolver ainda que a condensação não seja muito grande."
Segundo
Glen Cozens em sua tese de Phd " An
analysis of the first Three Catalogues
of Southern Star Clusters and Nebulae" o telescópio de Dunlop teria
o mesmo poder de fogo de um moderno refletor de 150mm. E desta forma o que
percebo com o "Newton" em
muito se assemelha ao que o "Astrônomo Cavalheiro" viu.
Ngc
6723 é um globular muito antigo. Sua metalicidade esta no limite inferior dos
globulares . Trata-se de um Globular do bojo galáctico com cerca de 1/16
do ferro presente no Sol ( por atomo de hidrogênio). Isto indica que ele
se formou em um momento em que a história química do universo ainda estava nos
primórdios. Sua metalicidade combina com
a variáveis RR Lyrae que habitam bojo. A
idade idem. Isto nos leva até 13.5 bilhões de anos atrás quando o bojo
galáctico estava se formando e os disco espirais que hoje enfeitam nossa
galaxia sequer existiam. Acredita-se
que a formação do bojo galáctico levou
cerca de 8 bilhões de anos.
Muito
próximo de Ngc 6723 esta Barnes 157, uma
nebulosa escura e parte da Nuvem Molecular de CrA. Pelo menos para quem as
observa. Barnes 157 esta a meros 420 anos luz da nós enquanto 6723 esta a 29.000 anos luz. Esta proximidade ajudaria a sustentar uma hipótese defendida por William Herschel que embora equivocada é bastante poética e faz
parte da evolução da cosmologia. Herschel
, no seculo XVIII, tivesse visto Be 157 e Ngc 6723 iria denominar a escura
nebulosa como mais um Loch im Himmel , um buraco nos céus , "um curioso vazio
através do qual parecia que navegamos por um infinito ininterrupto".
Herschel achava uma coincidência que estes vazios encontravam-se frequentemente
próximos a a ricos aglomerados. Ele suspeitava que estes aglomerados coletavam
o seu material destas regiões e deixavam para trás estes vazios. Ele considerava o conjunto de Rho Ophiuchi com M 80 um modelo padrão.
Tivesse ele avistado 6723 e e Be 157 provavelmente suspeita iria
fortalecer-se.
Ngc
6726-27(descoberta por Julius Schimdt em 1861) e Ngc 6729 são nebulosas de reflexão que me recordam muito M 78 em Orion. Nebulosas de reflexão são uma das faces
que regiões de formação estelar podem tomar. Alimentadas por TY Corona Australis e R Corona Australis , um interessante objeto
que é melhor observado em infravermelho e que trata-se de uma protoestrela que
continua acretando material e que tem a luz de HIP 93425 e HiP 93371 ( ambos
sistemas múltiplos) participando da brincadeira vemos uma das nebulosas
de reflexão mais fáceis de serem
observadas no céu. ( M 78 é a mais fácil...) .
Esta
é uma região de formação estelar. Neste
caso especifico temos estrelas de massa intermediaria se formando. ( menos de
10 massas solares) que nunca alcançarão temperatura suficiente para fissão do
Ferro. As estrelas no extremo desta categoria poderão terminar sua vida como
supernovas mas a maioria ( entre 7 e 2 massas solares) jamais viverá este fim tão glorioso. Estas não atingirão temperaturas para queimar
nada muito mais complexo que Helio. Mas devido a suas interações com a física
, a química e o universo elas criarão nos inicio de sua vidas belas nebulosas
de reflexão. Sem força suficiente para ionizar suas bandas do universo e
emitindo a maior parte de sua energia no
parte azul e ultravioleta do espectro elas vão formar belas nebulosas de reflexão
ao se relacionarem com a matéria interestelar poeirenta de suas matrizes. Um
processo parecido com o que faz nosso céu azul. Diversas destas Nebulosas se espalham por Be
157 e por estas plagas do universo.
Esta foto passou por menos pós processamento e ée bastane semelhante ao que você verá com uma buscadora wide field ( no meu caso uma Plossl 26 mm) |
Ngc
6729 , embora seja a mais discreta em
nossa foto, é uma das favoritas de Sir Patrick Moore e a entrada de numero 68
de seu Catalogo Caldwell. Foi o ultimo DSO a ser descoberto de nossa lista até
o momento. Não só escapou de Dunlop como
de John Herschel e só foi descrito por Alberth Marth também em 1861 com o uso
de um telescópio de 48 polegadas.
6729
assim como R Corona Australis é uma variável. Uma nebulosa variável cujo o
brilho de superfície varia. Sua estrutura também é bem dinâmica. Em fotos
feitas entre Junho de 1920 e agosto de 1921 demonstram clara mudança de brilho
e formato da nebulosa. Seu brilho pode apresentar modificações em menos de 24
horas. Estrelas pré sequencia principal são bem temperamentais...
Localizar
todos os DSO aqui descritos é bem fácil. Ache Epsilon CrA. E com uma ocular wide
field estarão todos lá . E mais alguns convidados.
Corona
Australis é uma pequena constelação riquíssima em DSO´s bastante interessantes
tanto pelo desafio observacional como por sua importância cosmológica.
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