Ngc
3115 é uma das mais interessantes galaxias ao alcance de pequenos telescópios.
Com um brilho de superfície alto ela se destaca mesmo com modestos binóculos. Mas ao habitar a obscura constelação do
Sextante ( Sextans) ela muitas vezes é esquecida pelo amador. Não foi por acaso que Messier não inclui em
seu famoso catalogo. Ela não é muito mais ao sul que a Nebulosa de Órion e nem
sequer alvo tão difícil como diversas galaxias que Messier descobriu. E ainda é uma galaxia próxima a eclíptica tão
vasculhada por nosso caçador de cometas. A maior possibilidade é que Messier tenha
deixado escapar o vazio onde reside Sextans como a maior parte dos
observadores. Mesmo lembrando que a
galaxia não passeia alta pelos céus de Paris.
Coube a William Herschel em seu
muito mais organizado levantamento localizar Ngc 3115. Ele a registrou em 23 de abril de 1787.
" Extremamente brilhante , consideravelmente grande,muito extensa , 45o
com o sul precedendo e o norte seguindo [de sudoeste para nordeste]
Possui um núcleo brilhante 2´longo. Fraco ( braço?) 5´longo ( H 1-163)"
O Adm. Smyth em seu "Cycles"
nos conta ainda que Herschel observou a galaxia também com seu telescópio de 20 pés com o diâmetro reduzido
a apenas 150 mm de abertura. Sob estas condições perceber a galaxia era bem
mais difícil. Rapidamente percebo que o '"Newton" ( meu refletor de
150 mm e f8) possui uma óptica bem superior ao espelho de Herschel. Smyth com seu refrator de 150 mm percebia
ainda mais diferença.
Seu apelido "Galaxia do
Fuso" tem raiz no termo em Inglês " The Spindle Galaxy". Suas origens
parecem perdidas nas brumas do tempo. Mas Burnham em seu " Celestial
Handbook" nos diz " que ela é popularmente chamada de " Spindle
Nebula". Repare aí o uso da palavra nébula em vez de galaxia. Isto nos
leva a pesquisar tempos mais antigos quando as nebulosas espirais e/ou lenticulares
e sua posição no universo eram alvo de intensa discussão. Mas
nada durante este período tão distante nos dá uma dica. Finalmente localizo no
"Caldwell Objects" do O´Meara a provavel solução. Hartung em seu
" Astronomical Objects for Southern Telescopes" escreve : " Esta elíptica e
extragalactica nebulosa se parece com um brilhante e apontado fuso de fiar (
Spindle)". Lançado em em 1968 e portanto anterior a Burnham... O´Meara
descobre uma fonte que utiliza o termo ainda mais antiga em um ( na verdade
quem descobre esta é Archinal ...) paper publicado por Pease no Astrophisical
Journal " Photographs of Nebulae with the 60-inch Reflector
1911-1916" publicado em 1917 .
Sendo uma galaxia tão brilhante
e que escapou a Messier ela achou seu lugar no Catalogo Caldwell com o numero
53. Este catalogo organizado por Sir
Patrick Moore reúne algumas das maiores maravilhas celestiais que escaparam ao caçador
de cometas francês. São geralmente alvos um pouco mais difíceis ou
austrais demais. Um belo desafio para
fugir de objetos muito manjados e nem por isto impossíveis para possuidores de
telescópios mais modesto. C 53 é uma das galaxias mais acessíveis no catalogo
Caldwell.
Localizar Ngc 3115 é mais
difícil do que observa-la. Sem o auxilio de uma cabeça equatorial com
"go-to" será um exercicío de Starhooping para gente grande. Segundo o
patrono da minha coluna favorita na "Sky and Telescope" Walter Scott
Houston e seu maior fã Steve O´Meara a melhor forma de se localizar 3115 é
esquecer do vazio chamado de Sextans e partir de Hydra. Localizar Alphard (
Alpha Hydrae) não chega a ser difícil já que é uma estrela vermelha e que
habita uma area pouco povoada do céu. A tenho utilizada com frequência para
alinhar o Synscan de Mme. Herschel ( minha cabeça equatorial) e sei que e
difícil confundi-la com outra estrela na sua região do céu. Partindo deste
farol caminhe 9o rumo ao
leste e localize duas estrelas de entre 6.5 e 7a magnitude. É
possível que perceba ainda 3115 compondo o quadro em sua buscadora. Não chega a
ser tão difícil já que a região é pouco povoada.
Na minha ocular 25 mm ela é
evidente e apresenta sua forma de lente mesmo com visão direta. Com a 17 mm ela
é ainda mais obvia e seu núcleo destaca-se.
Hubble classificou Ngc 3115 como uma galaxia elíptica
E7 na escala inventada por ele , ele mesmo e o próprio. Uma elíptica quase
transitando em lenticular. Hoje em dia ela é considerada uma lenticular pura (
S0). Posteriormente o Telescópio Hubble
indicou a presença de um super maciço buraco negro em seu núcleo com uma massa
de 2 bilhões de sóis. Foi o terceiro buraco negro super maciço documentado no
núcleo de uma galaxia pelo HST. A confirmação foi detalhada em 10 de março de
1996 no mesmo Astro-physical Journal que registrou a alcunha de "
Spindle" para Ngc 3115 . Exatamente 79 anos
antes.
Localizada a 22 milhões de anos
luz de nós a galaxia cobre 40.000 anos luz de universo e brilha como 7 bilhões
de sóis. Se apresenta quase de perfil para nós.
Ele é percebida pela minha buscadora
9X50 mm discretamente de Búzios. De áreas ainda mais claras ela será um desafio
para pequenos telescópios.
Uma
galaxia "fácil" de ser observada. E mais fácil ainda de ser fotografada
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