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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Centaurus A- Uma Quimera Cósmica

   

             Ngc 5128 é uma quimera cósmica. Uma galaxia que é um trio elétrico em qualquer região do espectro eletromagnético.  É a quinta  mais brilhante galaxia no espectro visível  , uma das mais intensas fontes de rádio  nos céus ( por isto Centaurus A) e brilha intensamente em raios X e Raios gamas.
                Seu aspecto visual já demonstra tratar-se de um ente especial no zoológico cósmico.  Descoberta por James Dunlop em 1826 é a quita galaxia mais brilhante dos céus. Me é um mistério que Lacaille não a tenha localizado em seu levantamento dos céus austrais. Ela pertence ao chamado grupo M 83 ( descoberta de Lacaille)  e é visualmente muito mais facilmente percebida que a mesma.  
                A verdadeira natureza de 5128 foi alvo de centenas de anos de discussão e ainda dá pano para a manga.
                "Dunlop nos deixou uma longa descrição da mesma:  " Uma nebulosa dupla , cerca de 2 1/2 ´ de comprimento , e 1´de largura , um pouco desigual: existe uma pequena e brilhante estrela na extremidade sul na mais  ao sul das duas , relembrando um núcleo brilhante: a nébula menor e mais ao norte é tênue no centro e possui a aparência de uma condensação de matéria nebulosa em cada extremidade. Estas duas nebulosas são completamente distintas uma da outra e nenhuma conexão da matéria nebulosa entre entre elas. Ha uma muito discreta estrela no espaço escuro entre as duas extremidades da nébula  que se estende em paralelo ao equador próximo."
                O equipamento utilizado por Dunlop era rudimentar. Posteriormente John Herschel ao inspecionar a nebulosa nos apresenta um paisagem semelhante porém menos confusa que  a de seu descobridor: " Um dos mais maravilhosos objetos , uma nebulosa muito brilhante , bem grande , levemente alongada , gradualmente mais brilhante em direção  ao centro em uma figura elíptica , cortada ao meio com um corte bem definido com 40´sec de largura ( a faixa escura...) As bordas internas possuem um brilho como da lua tocando o exterior  em transparência.”
                Em uma observação posterior  ele chamou Ngc 5128 d de " um objeto problemático que deveria ser registrado em uma categoria a parte já que evidentemente difere de uma mera " nebulosa dupla" não devido apenas a singular relação entre as suas duas metades mas também devido a intervenção delicada de correntes da matéria escura  entre elas.
                Na verdade Herschel assim como seu pai acreditavam que tudo no universo era composto de estrelas. Desta forma a matéria escura percebida em diversas nebulosas era uma pedra no sapato da hipótese nebular que abraçavam. Acreditavam ser estas sistemas planetários em formação...  Com o avançar da ciência e com novas ferramentas ( especialmente a fotografia)  estas nebulosas permeadas por matéria escura  , em especial as nebulosas espirais , acabaram levando a um grande passo para a compreensão e expansão do universo . E passaram a ser chamadas de galaxias espirais e as faixas escuras foram compreendidas como faixas de poeira nestas.  Fotos feitas por E.E. Barnard  da galaxia de Andrômeda em 1890 foram um marco nesta transição.
                Recentemente li uma definição de hipótese de um pensador anonimo  que se não verdadeira pelo menos curiosa me chamou a atenção:
" Uma hipótese é uma coisa que não é , mas que a gente faz conta que é , para ver como seria se ela fosse" .  
                Posteriormente achei uma pérola de Conan Doyle nos dizendo o seguinte: Quando você elimina o impossível, o que sobra, por mais improvável que pareça , só pode ser a verdade.
                Com isto na cabeça e sabendo que até Hubble se enrolou sobre a natureza de 5128 (Ele a classificou como uma nebulosa local e chamou a mesma de objeto patológico )parti em busca da verdade.  E como sabemos a verdade é filha do tempo e não da autoridade. Desta forma a hipótese mais aceita sobre Ngc 5128 é posterior ao Hubble ser lançado ao espaço  e diz  que nossa quimera é resultado da colisão de uma grande galaxia elíptica que colidiu e se integrou com uma galaxia espiral menor e rica em poeira.  O buraco negro estaria agora consumindo a galaxia menor e o processo de digestão deve durar algo como algumas centenas de milhões de anos.
                Hoje sabemos que este tipo de encontros podem levar ao que chamamos de Galáxias Seyferts , um subgrupo das chamadas Galaxias de Núcleos Ativos ( AGN´s).
                 Ngc 5128 é a mais   brilhante  galaxia Seyfert e também a mais próxima Radio galaxia .
                Sabemos que o centro de nossa convidada possui um gigantesco buraco negro com uma massa equivalente a 55 milhões de massas solares. Provavelmente fruto do encontro seguido de canibalismo entre as duas galaxias já citadas. Este emite jatos relativísticos que são responsáveis pelas emissões nos comprimentos de Raio X e de Radio. Medições destes jatos separadas por mais de uma década demonstraram que a parte mais interior destes jatos viaja a cerca da metade da velocidade da Luz. e suas dimensões são imensas mesmo em se tratando de distancias cósmicas. Os jatos de raio X de Centaurus A  tem milhares de anos luz de extensão e seus jatos de radio possuem mais de 1 milhão de anos luz.
                A distancia de Centaurus A ( O nome de guerra de Ngc 5128 ) é alvo de controvérsia mas sendo ela membro do grupo de M 83 a distancia mais aceita e provável é de 15 milhões de anos luz.  Assim ela se espalharia por 75 mil anos- luz.
                A colisão que nos levou ao caótico aspecto de Cen A é também responsável por intensa formação estelar . Incluindo aí raros aglomerados globulares jovens. Em fotos realizados pelo Hubble foram identificados 21 globulares típicos. Metade membros do conselho de anciões do universo. Porém com a colisão surgiram outra que habitam a infância quando falamos em Globulares . A colisão ocorreu entre 160 e 500 milhões de anos atrás.

                Localizar Ngc 5128 é uma tarefa relativamente simples. Partindo de Omega Centauro (este mesmo um outro gigante ) siga rumo ao norte pela sua buscadora. Ou escaneie a região com um binoculo antes de partir par o telescópio.  Ela vai se apresentar mesmo em buscadoras 7X30. Em meu 10X50 mm é um alvo fácil e se percebe de forma discreta  as faixas de poeira.
                A primeira vez que observei Cen A em alto estilo foi  na Serrinha do Alambari. Uma area rural de céu bem escuro e a cerca de 1000 metros de altitude. Utilizando o Newton ( um refletor  150 mm f8) e com auxilio de uma montagem com Go-to foi alvo bastante fácil. Mesmo com a cabeça um pouco errática o alvo foi fácil. Com uma ocular de 40 mm percebi seu brilho ainda que fora de quadro. Em leve ajuste e ela estava centralizada. Ao contrario da maioria das galaxias Cen A não é tímida e apresenta diversas característica com visão direta. As faixas de poeira e seu brilhante núcleo são evidentes com todas as combinações de ocular que utilizei . Com 30 X ela se apresenta na integra e se percebe um belo campo ao seu redor. Já com 120 X você começa  a perceber a delicadeza das faixas de poeira e que me fizeram entender como era rudimentar o equipamento de Dunlop . Meu 150 mm com 240 X não me transmitiam a impressão de uma nebulosa dupla . E percebia claramente o núcleo brilhante da galaxia por entre estas faixas. Dunlop possuía um telescópio com refletor com 230 mm e com 2700 mm de DF. Com um espelho de Specullum ele deveria se comportar de forma semelhante  a  meu moderno Newton 150 mm f8. Ambos com magnitude limite ao redor de 13.  
                 Em um exercicio mais da imaginação que de astrofísica eu consigo encontrar semelhanças com M 104. A galaxia do Sombreiro. Consigo imaginar que em algumas centenas de milhões de anos que aquela faixa de poeira circulando ao redor do imenso buraco negro ao centro do conjunto acabe assentando , o núcleo ativo esteja fazendo uma sesta depois do festim  e que o confuso quadro atual acabe chegando a "um esquadro mais no esquadro" o que  nos levaria  não a  uma sósia do Sombreiro mas poderia vir a ser conhecida por astrônomos de um longínquo futuro como   Chapéu de Jangadeiro ( supondo que existam ainda jangadas e chapéus de palha neste futuro distante) .  Nesta hipótese a gente faz de conta que evolução galáctica pode seguir um caminho escrito entre o Panamá e Fortaleza...
                Depois de observar longamente Ngc 5128 pude perceber que a mesma é uma vedete muito oferecida e assim não pude deixar de realizar diversas fotos da mesma.
                O Equipamento utilizado foi uma Canon T3 montada em foco direto sobre o Newton. foram realizadas.31 exposições entre 3200 e 6400 ASA com exposições entre 25 e 20 segundos de exposição. 

processado no Rn´S e no Fitswork + PS CS5

DSS

DSS

1 X 25 seg ASA 6400


                Com as fotos me parece mais fácil perceber sua natureza galáctica e suas estruturas mais marcantes de forma bem evidente. Sempre me lembro disto quando comparo minha percepção com a dos descobridores destes objetos . Estes só possuíam sua visão e talento artístico para registrar detalhes muitas vezes sutis. E claro que se viam presos ao espectro visível da coisa. Entender a natureza dos entes cósmicos ficou bem mais fácil com o advento da radio astronomia ... E Ngc 5128 é antes de mais nada uma Radio Galaxia . Centaurus A.
                Ngc 5128 demonstra  , que como disse Ibsen, a beleza é um acordo entre o conteúdo e a forma.

                

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