Há tempos sem realizar astro fotos por estar tendo muito
trabalho ( adoro o dólar caro...) e com o Newton, um refletor de 150 mm, aguardando
por peças para voltar a atividade eu não imaginava ter grandes oportunidades
para praticar a "difícil arte".
Existe
o trabalho. Isto parece ter algo a ver com uma mulher ter comido uma maçã.E uma
cobra...
Mas
mesmo existindo o trabalho existem certas diferenças. Existem o trabalho , o
emprego, a profissão e a cachaça. Meu trabalho é como cachaça.
E
graças a minha profissão me vi envolvido
em um projeto que acabaria me permitindo fazer algumas fotos bem interessantes,
adiantar o meu projeto sobre o catalogo Lacaille e beber mais do que é
normalmente muito...
O Quiver do campeão... |
Passei
os últimos dez dias acompanhando ( ou tentando acompanhar...) o novo campeão
mundial de surf.
Depois
de um inicio filmando a etapa do Mundial
no Rio de Janeiro e de ter tomado um drible de nosso herói devido a uma
desclassificação prematura acabo sendo enviado junto com uma equipe nem tão
reduzida para a Praia de Maresias no litoral norte de São Paulo em busca de
imagens do Gabriel ( já eramos grandes amigos a esta altura sem nunca termos
nos visto) junto com sua família e de uma entrevista.
O Furgão e as curvas da estrada de Santos... |
Desta
forma a minha profissão começa a apresentar suas armas. E então possuo um
pequeno furgão com um monte de refletores, prolongas , geradores e afins a minha
disposição para que levar o meu bom e
velho "Galileo" (um refrator de 70 mm) e todas as traquitanas necessárias para fazer
astro fotos no Litoral norte de São Paulo
e aproveitar-me de céus muito mais escuros e desobstruídos que na Stonehenge
dos Pobres . É como é batizei o "Observatório Mais Urbano do Mundo" e
situado na janela de meu apartamento.
Uma
equipe de filmagem é constituída por um monte de pessoas com empregos não muito
conhecidos e com pretensão de serem algo muito importante. Assim é sempre muito espaçosa e folgada.
Graças a isto consigo apagar todas as luzes na área de lazer do simpático hotel
que ocupamos alegando que precisava realizar um time lapse para nosso filme .
Na
primeira noite logo após observar o belo alinhamento da lua com Vênus e Selene
e esta se esconder estou com o Galileo montado em uma área bem escura e com um
céu "Bortle 4" sobre mim.
M4 |
M8 |
Estava a muito tempo sem utilizar o Galileo e
nem me lembrava mais de quão modesto este era.
Apesar de suas limitações ele ainda assim é um bom representante da
classe dos refratores. Mesmo parado e
largado na estante da sala há muito tempo ele não esta nem pior nem melhor do
que sempre foi. Possuindo aberração cromática e pouca definição. Fiel. Eu é que
esqueci que para observar com refratores é bom possuir uma diagonal. E assim
preciso relembrar minha ultima encarnação como contorcionista para observar
algo.
Mesmo
assim na primeira noite da minha estada junto ao telescópio faço boas capturas
de todos os objetos pertencentes a catalogo Lacaille que habitam Escorpião. E
de quebra faço uma visita a Nebulosa da Lagoa (M8) . Outro Lacaille... Na verdade todas as capturas da noite são
pertencentes a ambos os catálogos . Messier elegantemente sempre deu créditos as
descobertas realizadas por Lacaille. Afinal membros da mesma academia este não poderia
ignorar o trabalho realizado anteriormente pelo Abbe.
M 6 |
M 25 |
O
Galileo não tem o mesmo poder de fogo do Newton e assim conseguir focar DSO´s
neste é uma operação mais difícil e funciona pelo método de tentativa-erro. Não percebo estrelas
de campo fortes o suficiente para serem reveladas pelo meu sensor C-MOS no live
view da câmera... Mas mesmo assim consigo alguns resultados satisfatórios e me
dou por feliz. Para ser sincero estas são as melhores fotos que já obtive
utilizando meu refrator. Este é uma serie "low end" da Celestron e
mesmo assim é capaz de revelar todo catalogo Lacaille e mesmo o Messier. Graças a um alinhamento polar bem realizado
combinado com o pequeno peso do conjunto a combinação deste ( que é vendido com
uma montagem Eq1) com a montagem mais robusta permite exposições bem mais
longas que o Newton e um acompanhamento mais acurado...
Encero
primeira noite antes do que gostaria devido aos compromissos da manhã seguinte.
A filmagem acaba cedo . No próximo dia teríamos
folga e assim a noite prometia. Pena que um bando de cineastas e afins reunidos e com um dia de folga em uma locação
distante do lar implica em dar uma "dimensão cinematográfica" para
uma bebedeira. E ao som de "Tim Pan
Alley" ( de Robert Geddins e
interpretada por Steve Ray Vaughan) a noite vai assim : "Livin´ for their
whisky , wine and gin..." . Não houve foco nem com auxilio do 1o
assistente de câmera ( também conhecido como foquista).
M 7 |
Na
noite seguinte decidi partir para um "approach" diferente. Desisti
rapidamente do contorcionismo que seria necessário para localizar e fotografar
M83. Com um alinhamento polar bastante
aceitável, que eu conseguira durante a primeira noite (utilizando o "método
preguiçoso") e mantendo o tripé
morando na local que tinha isolado na área de lazer do hotel ( equipe de
filmagem são folgadas ...) decidi experimentar como a minha montagem EQ-3 se
comportaria utilizando apenas a Canon T3 equipada com a lente zoom 75-300 mm @
80mm e com abertura de f4 acoplada a ela.
E para fazer a moda da casa eu "pluguei" (do verbo "to
plug") a mesma ao meu lap top e com auxilio do Canon Utilities realizei as
exposições mais longas que já fiz na vida sentado em uma mesa e bebendo
champagne de verdade. A Eq 3 se saiu muito bem e assim consegui imagens de
algumas belas regiões da Via láctea. Capturei muitos frames com exposições
entre 1 e 2 minutos. E estas deram certo. A Eq 3 funciona como uma plataforma
muito boa com este set up ainda mais
leve.
Região de Theta e Eta Carina... |
Neste segundo round fazendo fotos de com um campo maior e com exposições bem longas preferi reduzir a ASA de 6400 para 1600. As fotos anteriores me incomodaram devido ao extremo ruído....
Fiz planos super ambiciosos para próxima noite. Afinal na manhã seguinte seria
apenas levantar , entrar na van e voltar para para Rio .
Pretendia dormir a viagem inteira. O trajeto entre Maresias e o Rio de Janeiro
dura 8 horas seguindo-se as curvas da estrada de Santos...
Mas
aí o tempo e o céu se fecharam. Murphy falou mais alto e tudo indicava que o
mar iria subir. Mas então já era tarde demais para filmar o Medina surfando em
casa. Teriam que abrir outra diária e muitos de nós já tinham outros
compromissos. Inclusive eu. Vida de free
lancer é dura. Mas depender de nós também...
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