Não temos tempo a perder.
Férias de
minha “cara metade”.
O plano
inicial seria Floripa. Mas o “decorrer” e a previsão de um verão muito chuvoso nos levou até Trindade (R.J.).
Eu passara quase
um mês nesta pequena vila, cerca de dois anos atrás, realizando um filme sobre
a expedição de Villegagnon e uma França dita Antártida.
Me lembrava claramente do céu.
As Nuvens de
Magalhães eram nuvens mesmo.
E me lembrava, ou me esqueci, de mais muito
pouco...
Como se trata
das férias da “cara metade” e ,como já expliquei , seu amor caminha na proporção inversa ao tamanho do telescópio que nos acompanha vou levar o “Pau
de Dar em Doido”. É o carinhoso apelido que o Celestron Sky Master 15X70 ganhou.
A razão é bem obvia: ele “guenta” a porrada. Parceiro de varias bebedeiras e
viagens ele continua colimado.
Tinha planos elaborados.
Todos deram “bem errado”.
Tirar fotos
seria uma missão obvia. Mas vamos ser minimalistas desta vez.
Comprei um
tripé “tabajara”. Lembre-se que os custos do “hobby” devem ser mantidos baixos
E levo meu
outro “pau de dar em doido” (uma lente Canon 70-300) junto com a câmera (350D).
. Pensei em fazer algo assim...
Finalmente
visitei o 7 timer. É um bom programa “meteorologista”.
Meteorologia é
uma ciência. Mas nem tão exata. Parece que tem algo haver com borboletas e
bater de asas.
Os prospectos eram
cinza.
“Surfista das
antigas” vou levar o “pranchão” no lugar do “caixão de Newton”.
Trindade é uma
pequena vila situada no extremo “sul” do estado do Rio. E local de boas ondas.
O Rio de Janeiro
é um estado “fora do esquadro” no litoral brasileiro. E assim quando se fala “ao
sul" poderia se falar “a oeste”... Ao “olhar para o mar” você não olha para África.
Seu rumo mais próximo seria as ilhas Falklands. Este um território muito a sul e
de pátria discutível...
Finalmente
chegamos a nosso destino e depois de algumas aventuras nos instalamos em um belo
chalé encravado no meio de uma das maiores reservas de mata atlântica do mundo.
Resta muito pouco... Mas ainda mostra quão foi enorme... (Este texto, talvez,
devesse ter sido escrito entre aspas e
ter somente um três pontos no fim...).
A Mata Atlântica
é classificada como uma “rain forest" em diversos textos clássicos sobre
sistemas ecológicos. Eu estudei no ODUM. E um dos locais que mais chove do
mundo. Eu aprendi um novo parâmetro. Se chama umidade.
Meu computador
rapidamente sofreu um choque. E desta forma o teclado enlouqueceu.
Uma espécie de
crise “linguística”. Depois de ligado alguns minutos ele deixava de ser gago...
Umidade é uma
praga. E nesta região ela atinge proporções momescas.
O computador é
a primeira vitima e com o teclado errático eu me consolo que pelo menos o Stellarium
ainda funciona.
Mas observar
que é bom parecia um sonho distante.
Os dias
amanheciam nublados e o sol só mostrava sua cara depois de 9 ou 10:00 da manhã.
Só para começar a chover as 15h00min.
Mas como acordávamos
cedo podíamos aproveitar bem o dia.
Desta forma
descubro que a umidade agora começa a atacar a minha querida lente 70-300 mm. Percebo
que minha “cara metade” fez uma serie de fotos onde um curioso efeito se abate
sobre as imagens. E como se ela fotografa-se através de uma folha de papel
vegetal.
Olho para
lente e percebo uma condensação em uma das superfícies óticas dentro da lente.
Nada que eu pudesse utilizar um “cleaning tissue” e seca-la. Em um ato
desesperado coloco a lente para secar ao sol.
Funciona. A lente se recupera.
Pardais , Bem-te-vis, Quero-Queros e Beija-flores |
Depois de um
dia em que tudo corria bem voltamos para o nosso belo chalé e para sua equipada
cozinha. Modestamente fiz um spaghetti com camarão que ficou uma beleza.
Acompanhado de duas garrafas de Santa Helena Sauvignon Blanc.
E como que por
milagre o tempo abre.
Pego o binóculo
e faço uma rápida sessão de observação com o “Pau de Dar em Doido”.
De novo a
umidade. Tudo esta molhado e deitar no chão não é uma opção. Mas mesmo assim
faço um belo tour por Orion. Isto tendo que driblar o dossel da mata que cerca
nosso chalé. De qualquer maneira consigo belas visões do cinturão e dos já
habituais passageiros da região. Assim M42, 43, Ngc 1981 e outros aglomerados abertos
se revelam. O cinturão de Orion, do qual as Três Marias são os membros mais
famosos, é um imenso aglomerado de estrelas que passeiam juntas pela via láctea.
E este mega aglomerado responde pela entrada de numero 70 do catalogo Collinder
(Cr 70).
O céu da
região é escuro mesmo e M78 é um alvo fácil. Percebo alguma nebulosidade junto Alnitak.
Embora longe das imagens fotográficas que tornaram famosa a região eu consigo (com
o uso de visão periférica) perceber a existência de Ngc 2024, a Nebulosa da
Chama. E mais incrível ainda percebo ou pressinto IC 434. Esta é a nebulosa
brilhante por sobre a qual B 33 (a famosa Nebulosa Cabeça de Cavalo) se apresenta.
Mas ao contrario de Phill Harrington,
que já observou a Horsehead com binóculos, eu não consigo perceber nada além de
um leve brilho contra um céu muito negro. Algo mais para o sentimento que para
a visão...
Aproveitando
que o céu para o sul era mais desobstruído continuei o passeio rumo ao Cão
Maior. E por lá começo por onde sempre começo: M41. O Aglomerado aberto se
resolve parcialmente e percebo algo como uma dezena de estrelas. No coração do aglomerado se esconde uma
estrela vermelha que é a marca registrada de M41. Responde pelo belo nome de TYC 5961-3331-1 ou
ainda HIP32406. Dependendo do que você consultar: Stellarium ou Skychart.
Depois tento
perceber o Aglomerado de Tau Canis. Mas com apenas 15X a estrela que o batiza
rouba a cena e não percebo mais nenhum de seus membros.
Seguindo a
maré passeio pelos grandes aglomerado do catalogo Collinder que habitam a cauda
do Cão. Cr 121,132 e 140 se sucedem em uma rápida escaneada. Todos com 1º ou mais de tamanho são alvos
binoculares por excelência.
Depois coloco
M47 e M46 no mesmo campo e enquanto M 47 se resolve M46 é apenas uma tênue condensação.
Formam um par interessante com suas evidentes diferenças.
Depois disto
vem M93. Algumas estrelas "flicam” neste aglomerado que apresenta uma
forma de cunha e que não chega a se resolver.
Depois localizo
Ngc 2477 e 2451. Assim como M47 e M46 ambos cabem dentro do mesmo campo e
formam uma linda paisagem celestial.
O bom de se
observar com binóculo é que você otimiza seu tempo. Se você conhecer a região
que esta observando é possível localizar diversos alvos interessantes em muito
pouco tempo.
Depois deste
passeio acho que chegou o momento de fazer algumas fotos.
Mas aí a
umidade...
A câmera se
recusa a ligar. Troco bateria e nada. Tento utilizar um secador de cabelos e nada.
A minha velha
350 D morreu. A umidade foi demais para ela.
Fico desolado.
Adorava minha velha DSLR. Mas até o momento que escrevo estas linhas ela ainda
não ressuscitou. E não sei se vai. Como é
uma câmera velha e que comprei usada eu creio que se o custo de consertá-la
passar de R$ 100,00 ela será dada como perdida em ação. Estou pesquisando uma nova câmera que irá substituir a Rebel junto ao telescópio e também em serviços gerais.
De qualquer
forma a minha tão cara Rebel tem uma bela lista de serviços prestados.
E como a
expedição Trindade foi um fiasco fotográfico (pelo menos no campo astronômico) apresento
alguns dos melhores e piores momentos de minha câmera. Uma espécie de
testamento...
Astrofotografia é algo que eu nunca vou terminar de aprender. Mas a 350D foi uma grande companheira neste começo de jornada.
Astrofotografia é algo que eu nunca vou terminar de aprender. Mas a 350D foi uma grande companheira neste começo de jornada.
R.I.P. 350 D.
P.S. A umidade
é um mal que deve ser combatido. Pacotes de Sílica gel ou mesmo naftalina devem
acompanhar seus equipamentos eletrônico e óticos onde quer que você vá. Um
desumidificador é uma opção mais cara, mas muito eficiente...
Gostei imensamente de descobrir este blog. Fiquei realmente muito feliz ....
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