O primeiro fim de semana de lua minguante depois do equinócio de
primavera é quase como a Pascoa nas terras de José Eustáquio ( mítico astrônomo do Catalogo
J.E.S.S.) . E assim eu não poderia
deixar de abduzir toda a família em direção da Península onde esta a antiga Armação dos Peixes e a atual Armação dos Búzios.
O
clima da Península é dominado por seu regime de ventos. E com os ventos do quadrante
leste dominando se produz ali um
microclima bastante propício a observação astronômica. Segundo reza a lenda
contada por José este
regime deixa o clima na região sempre agradável . Uma temperatura média anual de 26o
C ( "meteorologicamente provado") e (começa a lenda...) uma média de dias de sol e noites estreladas cerca de
duas vezes maior que a "Capital" (Rio de Janeiro) e três
vezes maior que Angra dos Reis , na Baia da Ilha Grande.
Tendo
planejado tudo com precisão quase cirúrgica eu tinha consultado o 7Timer ( site
metereológico) com antecedência e "sabia" que a noite de sexta feira (23/setembro/2016) seria quase perfeita para
meu projeto. E como terminaria meu trabalho na quinta preparo tudo para pegar as crianças na saída da escola sexta (na
verdade o menor sequer foi para a escola...) e estar em Búzios a tempo de
utilizar Eta Pavo como estrela para realizar o alinhamento polar. Isto
aconteceria as 18:25:18 no horário local.
Depois de "arrastar" a cara-metade ainda no horário consigo
pegar a filha com pequeno delay e assim chegar em Búzios 16:00 horas sem correr
muito.
Definitivamente
o vento nordeste estava roncando na Península. O Céu não poderia estar mais limpo.
Ainda na saída do Rio percebera boa
transparência. Ao cruzar a Ponte Rio-Niterói consegui vislumbrar a crista da
Serra do Mar. Recortados contra o céu percebia , ainda que com leve
nebulosidade envolvida , claramente o Monte Escalavrado ,o Dedo de Deus , Nossa
Senhora e o Cabeça de Peixe. Lá em Teresópolis... Equipamento montado e pré
alinhado antes da 17:30.
Mdm.
Herschel é uma cabeça equatorial HEQ 5 da Skywatcher. Sólida o suficiente para
sobreviver ao vendaval. Me lembrei logo
de uma noite que passara aqui com minha velha EQ 3 que perdia mais das metades das
fotos feitas para o vento. Curiosamente caçando por um outro objeto descoberto por Caroline Herschel ( Ngc 253 é uma descoberta dela) ; Que foi posteriormente homenageada no apelido da HEQ 5 que hoje me acompanha. Mais uma daquelas coincidências que nada tem a ver com a leis fundamentais do universo que abundam por ai e sem a menor importância.
O
vento é um inimigo cruel para a astrofotografia. Um mal alinhamento polar pode
ser solucionado com uma redução do
tempo de exposição, o aumento da asa e um auxilio do Fitswork... O vento inutiliza
as fotos onde interfere. Estrelas viram um borrão como se o telescópio tivesse
levando uma trombada durante a captura.
Quando
observo geralmente possuo um roteiro "meio-que -montado". Uma derrota
celestial registrada em papel. E desta vez tinha em mente observar algumas
galaxias no Grupo de Escultor e fotografar
(possível sendo) ao menos Ngc 253 e Ngc 300.
Mas
o primeiro alvo da noite era um recanto
rico em DSO´s e uma bela esquina galáctica.
Ainda
cedo meu menor acompanhava as observações. Com 3 anos a brincadeira era que
caçávamos. O conceito de caçar amplo
como o de uma criança. Poderiam ser tesouros , peixes ou animais. E assim íamos
até o computador e escolhíamos um alvo e depois retornávamos ao telescópio onde
tínhamos que falar bem baixo para não espantar as nossas presas. Depois eu
disparava a arma ( no caso a câmera fotográfica ) e 30 segundos mais tarde (o tempo de exposição
) eu comunicava que tínhamos acertado o tiro e festejávamos nossa conquista . Ele olhava para a foto e fazia de conta que entendia quando eu lhe explicava que tratava-se de uma região com um aglomerado globular e "matéria intergaláctica" . Nossos grandes tesouros. Depois disparava novamente e câmera e fazíamos tudo de novo.
Desta
forma caçamos um tesouro que ficara
enterrado por muito tempo na região da Corona Austral. Uma constelação espremida
entre a cauda do Escorpião e o Sagitário. Para meu filho ainda todas as
constelações do céu são um Escorpião...
Na
mesma foto pode-se ver Ngc 6723, 6726 e Epsilon Cor A.
Depois
disto as coisas começam a se complicar e percebo que o alinhamento do Synscan (sistema
de localização de Mdm. Herschel) estava recalcitrante e muito pouco preciso.
Alguns ajuste s e uma nova escolha de estrelas para realizar o alinhamento
acompanhado de um leve ajuste no alinhamento polar e retorno a missão. Agora já
nos moldes de Joshua Slocum e velejando em solitário fico correndo com o tempo
enquanto aguardo por Ngc 253 , A Grande Galaxia de Escultor. Navegando em meio a "porranca de nordeste"
tento em vão localizar M 71. O go-to não esta bom ... M 71 a mim parece ser um dos globs mais arredios do catalogo
Messier. Deve ser algo pessoal.
Com
tesouros mais profundos a frente acho melhor refazer o alinhamento do Go-to
pela enésima vez...
Finalmente
a coisa parece estar funcionando a contento. E assim finalmente localizo Ngc 253 com o apertar de um
botão. Percebo logo que existe mais algo na ocular que os
"aviões de carreira". Observo e
realizo algumas exposições . O Vento continuava forte e após tentar algumas
fotos com exposição de 1 minuto acho melhor me conformar com 30 segundos. O
alinhamento polar estava apenas quase a altura e durante um minuto era difícil que o a "lestada" não desse uma lufada mais forte e acabasse logo com a foto.
Preparo
o computador e utilizo o APT ( software) para realizar a captura. No final
tenho 50 exposições de 30 segundos da
galaxia. Aproveitáveis entre 30 e 35 dependendo do humor...
Ngc
300 acabou por fugir de mim. Não consegui visualiza-la mesmo depois de ajudar o
go-to com um pouco de starhopping e com consultas ao Stellarium e a meus atlas.
J.E.S.S 120 ? |
A
fim de relaxar tento Ngc 6400 já baixo no horizonte. Acabo sendo enganado e
fotografo um interessante asterismo onde pretendo realizar uma analise mais
detalhada. Me parece um aberto bem esparso . Talvez venha a ser a entrada 120 do Catalogo J;E;S,S, . Em todo caso um interessante campo
na cauda de Escorpião.
Depois disto resolvo sair do Script e acabo visitando M
29. Um aberto do catalogo Messier que só tinha observado com binóculos. Umas
poucas fotos para posteridade.
Com
os dois alvos mais almejados de minha derrota já no porão e devidamente
registrados ( Ngc 253 e o campo em Cor A) acabo indo revisitar Albireo. Muito baixa
no horizonte noroeste ainda se presta a um belo espetáculo. Minha dupla favorita.
Depois
disto passo um bom tempo namorando Andrômeda. M31 em uma noite sem bafo de
vapores de poluição luminosa. Sem nuvens e com a afamada noite Buziana devidamente amansada pelo vento e pela temperatura bem abaixo dos 26o da lenda M 31 se apresenta com muito mais
dignidade do que na minha ultima visita ( 3 setembro 2016) . Com visão periférica , hiperventilação e reza braba acredito perceber detalhes em seus braços espirais. Faixas escuras ... Com meu casaco
mais pesado sobre a carcaça faço umas poucas imagens de M31 e sigo meu passeio.
Novamente M 33 é decepcionante de Búzios. Eu sei que estou olhando para ela e
não a vejo.
M 31 e 32 |
De
volta a derrota planejada tento Ngc 55. Mas não arrumo nada. O go-to ou minha
visão não estavam localizando a galaxia.
Já
vai tarde e visito as Plêiades. Em breve a Lua vai nascer. Em rápida sucessão
visto M 79 , M 42 e M78. Da ultima até
realizo algumas fotos mas nada que prestasse. Deletei todas depois de
selecionar as capturas.
A
noite vai chegando a fim e de posse de um Ballantines vou transferir o cartão
da câmera e ver meu butim. Muitas das peças haviam sido danificadas pelo
vento...
A
derrota segue como planejada e acordo cedo para comprar camarão. Depois ir até
a praia. Voltar para casa. O tempo começa a fechar (
exatamente como o planejado) e faço meu
churrasco. Espetinhos de Camarão ao Curry na brasa ( com limão). E depois uma Costelinha
de Porco com Sal , Mascavo e pimenta ( e mais limão) , O tempo fica fechado e
conforme o previsto passo a noite junto a família bebendo cerveja e brincando
com as fotos ao computador.
Brincado com as fotos 1 |
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