Em
sua única e magna obra ( The Burnham´s Celestial Hanbook) Robert Burnham jr. ,o cavaleiro da triste figura astronômico, nos apresenta logo na introdução a mais poética e precisa descrição da
astronomia em geral e da astronomia amadora em particular que seria possível
ser realizada em tinta e pena.
" Se a astronomia é a mais antiga das ciências
, certamente a astronomia amadora tem o direito de clamar o título de " o
mais antigo dos hobbies científicos". Ninguém pode precisar a data que a astronomia se iniciou- podemos
apenas dizer que a fascinação dos céus é tão velha quanto a habilidade do homem
pensar ; tão antiga quanto a capacidade deste se maravilhar e sonhar. E na
companhia com os maiores encantamentos da vida humana , a astronomia tem um
apelo único que é incomunicável mas facilmente compreendido com a experiência
direta... "
"... O charme da astronomia é simultaneamente estético e intelectual; ela combina a
emoção da exploração e da descoberta , a diversão da observação , o puro prazer do conhecimento
em primeira mão de maravilhas e de coisas maravilhosas.
Mas também oferece o privilégio , que não deve ser levado com o animo leve, de estar contribuído
para o saber e o conhecimento do homem".
Ao ler estas palavras não posso
deixar de me lembrar da primeira vez que avistei Ngc 4755 , A Caixinha de Joias
( assim batizada por John Herschel) ao montar pela primeira vez meu primeiro
telescópio.
Todo desajeitado e apanhando de um
cabeça equatorial EQ1 eu nervosamente buscava confirmar minha teoria que com o
uso de um telescópio ( e portanto podendo ver coisa que antes não podia...) eu confirmaria que as estrelas que eu achava
que estava olhando eram elas mesmas. Eu já sabia diferenciar o Cruzeiro do Sul( Crux) do Falso Cruzeiro. Mas como São Tomé eu precisava ver para crer. E com
Ngc 4755 logo abaixo de Mimosa ( Beta
Crux) me parecia ser um fácil e bom
começo em meu experimento. Lutando para me entender com a buscadora ( que me parecia uma invenção de Lewis Caroll em noitada de rock e sido importada de dentro do espelho de Alice) eu finalmente enquadrei a Mimosa. Dela e com uma ocular
Kelner ( bem tabajara) de 20 mm cheguei até meu destino. Imediatamente entendi
o que estava vendo. Ainda que não fosse em nada semelhante as fotos que possuia em meu ( na época) único guia astronômico eu imediatamente tive certeza de onde estava e
compreendi claramente as palavras de Burnham: " ... , a astronomia tem um apelo único que é
incomunicável mas facilmente compreendido com a experiência direta...
Tinha concluído um dos ritos de
passagem fundamentais para um astrônomo amador abaixo do equador. Eu tinha certeza de quem era
o Cruzeiro e de quem era o Falso. A presença do Apontadores do Cruzeiro (Alpha
e Beta Centauro) não bastavam para sossegar minha alma. Agora a Caixinha de Jóias
e seu formato triangular com um coração vermelho (a estrela CD59 4459) e que
recorda muito o simbolo "anarquista" me
davam profunda paz de espirito...
Tendo concluído a observação e
registro fotográfico de todo o Catalogo Lacaille me vi na obrigação de realizar
um post dedicado a um dos mais icônicos DSOS austrais. Como nunca realizei uma foto que achasse a altura de tal
tarefa o post sobre o primeiro DSO que observei foi ficando para trás. Na
verdade acho que nunca farei uma foto de Ngc 4755 que supere a impressão deste
primeiro avistamento. Mesmo que registre mais estrelas , mais cores e mais tudo
o prazer e o susto que levei na primeira vez que estive de frente ao original
jamais serão superados por um registro que não for realizado pelo meus próprios
olhos. A Caixinha de Joias é um daqueles DSOs que , para mim, são alvos visuais
por excelência. O Catalogo Lacaille é
repleto deles...
Já é evidente que o primeiro homem a
registrar a existência de Ngc 4755 foi Lacaille. É a décima segunda entrada na segunda categoria
( aglomerados estelares nebulosos) de seu
catalogo e registro mais antigo é Lac II 12.
Esta é uma unica exposição realizada com o Galileu ( um refrator de 70 mm f 13) |
Seu registro não pode ser chamado de
prolixo: " Cinco a seis estrelas
entre segunda e sexta magnitude"
Posteriormente Dunlop também nos dá
noticias de 4755 mas ainda não canta todas as suas maravilhas embora destaque
que o que seria Kappa Crucis é na verdade um aglomerado: " k Crucis...são cinco estrelas de 7a
magnitude formando uma figura
triangular, e uma estrela de uma esttrela de 9a magnitude entre a segunda e a
terceira
Cheia de apelidos 4755 é também chamada de o Aglomerado de Kappa
Crucis devido a seu mais brilhante membro ( mas não o mais belo). É um
brilhante e lindo aglomerado aberto e se destaca entre ( sendo repetitivo , mas é inevitável) as joias da coroa
austral. O tratamento de Caixinha de Joias deriva das palavras de Sir John Herschel
nas quais ele diz que sua visão produziu nele a impressão de uma soberba peça
de joalheria. Em sua primeira descrição ele já revela seu encanto : " A estrela central ( extremamente vermelha. O
mais vivido e belo aglomerado de 50 a 100 estrelas. Entre as maiores existem uma
ou duas evidentemente esverdeadas; ao sul da estrela vermelha existe mais uma
de 13a magnitude também vermelha e acima uma azulada". Ao longo
da história rubis e esmeraldas são figuras comuns na descrição de Ngc 4755. Um
mistura encantadora de geologia com astronomia...
Suas
estrelas mais brilhantes são super gigantes e incluem algumas das mais
luminosas estrelas conhecidas em nossa galaxia. Seus 50 ( ou quase isto) membros
mais brilhantes estão comprimidos em 10´ de diâmetro aparente. 25 anos luz de
espaço. O conjunto completo ocupa cerca de 50 anos -luz... ( segundo Burnham)
Livros mais recentes ( O´Meara) falam em
240 membros em 14 anos luz ( o 10´de diâmetro
continuam os mesmos. O aglomerado se aproximou de nós...Atualmente localizam-no
a 4900 anos luz contra 7500 nos tempos de Burnham ).Quase todas estrelas mais brilhantes são do tipo B.
Fotografei Ngc 4755 diversas vezes.
Confesso que não gosto de nenhuma das fotos... Embora sejam registros honestos
nunca me pareceram chegar perto de prazeres que obtive junto a ocular.
Especialmente com o Newton ( um refletor de 150 mm f8) com aumentos entre 60 e
120 X. Visualmente o aglomerado se
revela de diferente formas e emoldurado de diversas maneiras. E o colorido (
estranhamente me parece mais vivido e real que nas fotos ) é mais agradável . Espero um dia retornar e fotografa-lo com mais
delicadeza. Acredito que talvez devido a sua beleza natural nunca tenha me dado
ao trabalho de fotógrafa-lo "by the book". E assim a difícil arte não
se faz arte... Os resultados podem ser vistos ao longo do Post. As fotos foram realizadas ao longo de anos e com os mais diversos equipamentos. Confesso que o que foi feito em cada uma delas se perdeu no tempo