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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

IC 4756: O Aglomerado dos Muitos Nomes


            IC 4756 é um aglomerado aberto com muitos apelidos. Até hoje haviam três registrados. Creio que agora possam ser quatro...
            O enorme aglomerado aberto é conhecido como Graff 1, O Aglomerado Tweedledee e O Aglomerado Jardim Secreto. Foi descoberto através de uma placa fotográfica em 1908 pelo astrônomo de Harvard Solon Bailey enquanto analisava fotos realizadas com uma lente Cook de 25 mm f13 na Estação de Harvard em Arequipa.
            Foi redescoberto em 1922 pelo astrônomo alemão Kasimir Graff. Durante muito tempo diversas fontes o consideraram entes distintos no universo. Não eram e o aglomerado acabou levando o nome de Graff que o descobriu visualmente. Já seu segundo apelido, Tweedledee é dado por O´Meara em seu “Hidden Secrets”. Este o reúne a seu vizinho Ngc 6633 nas entradas 92 e 93 de seu livro. E batiza IC 4756 como Tweedledee e seu vizinho como Tweedledoo. Estes são dois pequenos e gordinhos pugilistas gêmeos que são encontrados por Alice no quarto capítulo de “Alice através do Espelho” de Lewis Carrol.  Desde então o nome dos gêmeos se tornou sinônimo de quaisquer duas pessoas, lugares ou coisa que justifiquem uma comparação.
            Já o terceiro apelido demandou mais pesquisa e dedução para se chegar a sua origem e o trabalho definitivamente remonta mais a Conan Doyle do que a Lewis Carrol. Seu autor foi certamente um inglês. The Secret Garden é um clássico da literatura inglesa. É um dos mais suaves livros que já li embora aborde questões muito espinhosas, especialmente para o publico a que é, em geral, indicado. Um Livro infantil que aborda negligência e abandono de seus “heróis”.  Observar IC 4756 é quase como interpretar da forma correta o texto de France Hodgson Burnet. É como entrar no jardim Secreto (um dos muitos dentro da mansão Craven) e fazer uma pausa no dia (ou na noite) e se impregnar na magia que é sempre percebida por Collin (uma das crianças...) e aproveitar a natureza e poder refletir sobre verdades simples, mas que por isto mesmo não são obvias.  Sabendo isto minhas apostas são que Patrick Moore seja o padrinho de batismo de nosso aglomerado. Era inglês, certamente leu “Jardim Secreto” (nenhum inglês de seu tempo sairia da escola sem ter o lido. Afinal na Inglaterra não é como aqui onde crianças terminam o ginásio sem sequer terem lido ‘” O Gênio do Crime”). Porque este não inclui este no Catalogo Caldwell é um mistério para algum Sherlock de plantão...


4X 30 seg 1600 ISO 

            IC 4756 é um aglomerado enorme, cobrindo quase 10 de firmamento. E que habita, como no livro, sobre um jardim rico e maltratado. No caso campos estelares da via láctea. Ele é feito sob medida para minha ocular de 40 mm que quase o abarca na integra e revela seus encantos que não são poucos. É um daqueles grande e antigos abertos que remetem a M 44 e cia LTDA. com cerca de 1 bilhão de anos ele é de fato antigo para um aberto. E pouco denso deve habitar uma tênue faixa onde esses agrupamentos ainda resistem as intempéries e se mantem no limite da coesão como entes físicos.
            Este conjunto da obra nos ajuda a entender como este DSO passou desapercebido pelos observadores clássicos do século XIX. O faz um Jardim Secreto... Ainda que IC 4756, com magnitude ao redor de 4, seja percebido a olho nu ele é visto contra o esplendor e brilho da via láctea. E com sua enorme área ele simplesmente era grande demais para os estreitos campos dos telescópios destes pioneiros. Como eu disse, ele é feito para minha ocular 40 mm ou meu 15X70. Com a 26 mm demanda um certo passeio para ser coberto na integra e sem ter visto a floresta antes as arvores talvez passem desapercebidas.

            Localizar IC 4576 é fácil. Em locais de céu escuro basta localizar dois esfuminhos óbvios (o outro será Ngc 6633) no meio do caminho entre Theta Serpens Cauda, uma bela dupla amarelo limão siciliano que vai se resolver na buscadora, e um par de estrela de brilho próximo, 71 e 72 Ophiuchi. As duas últimas estrelas representavam a ponta do chifre da finada constelação de Touro de Poniatovii.
            O aglomerado é uma grata surpresa e agora possuindo um quarto apelido: “O Aglomerado dos Muitos Nomes”. Mas confesso que “O Jardim Secreto” será sempre meu favorito. Recomendo a observação e a leitura... 

            As fotos não fazem justiça a beleza deste. O sensor da Canon  T3  montada no Newton ( 150 mm f8) não cobre toda a área e como disse este   aglomerado é um bom momento para se entrar em um jardim secreto e fazer uma pausa no dia (ou na noite) e se impregnar de magia e perceber a natureza. É um alvo visual por excelência.

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