Com a lua cheia e com o canteiro de obras ao pé do "Stonehenge dos Pobres" cada vez maior e mais claro eu tenho tido "dias" bem duros em busca de DSO´s.
Mas retornando cedo do botequim e
com o "Newton" ( um refletor de 150 mm) pedindo para brincar eu calço
uma ocular 25 mm e tento localizar a Nebulosa da Tarântula.
Não sei se devido a a Lua , o
canteiro de obras ou ao botequim eu não acho nada . Nem mesmo Beta Dourado , a
estrela que indica o caminho para este alvo inter galáctico, consegui achar.
Mas em um arroubo astronômico raro
minha esposa me pergunta qual é a estrela brilhante que se apresenta no ainda baixa no horizonte
sueste. Olho e rapidamente realizo que é Canopus. Falo um pouco a respeito e a cara metade volta ao seu habitual desinteresse
pelo papo astronômico.
Como ela ( Canopus) já enquadrada na buscadora resolvo fazer
algumas fotos da mesma. Fotografar estrelas brilhantes é sempre divertido . Não
se faz necessário exposições muito longas e com o Newtoniano elas sempre
apresentam " Spikes" interessantes.
E assim faço varias fotos utilizando
diferentes asas e tempos de exposições.
O alinhamento polar é , no máximo,
uma aproximação.
Como fotografei através de uma tela de
proteção existe um efeito semelhante a um prisma que destrói os belos spikes
que o Newtoniano realiza nas fotos.
Canopus |
Mas se por um lado este efeito atrapalha
as fotos ele revela cores que me
levantam uma suspeita. Será que estrelas diferentes apresentam cores diferentes
quando submetidas a este "prisma" de nylon ?
Um experiência científica presume um
certo controle. E aí a porca torce o rabo.
Mas se for um "ensaio de experiência"?
É tudo que posso oferecer aos caros
leitores ( pronto perdi os leitores "caxias"...) .
Então resolvo testar a "hipótese".
Coloco o Newton em posição e enquadro Alpha Centauro. É uma péssima opção. Trata-se de uma estrela
dupla das mais manjadas. Mas sua altura no horizonte garante pelo menos alguma
semelhança com a posição de Canopus. Só para constar o seeing estava bem ruim e
não a resolvi ( separar as duas estrelas componentes...) nem com uma ocular 5
mm. Mas mantendo um mínimo de dignidade
eu utilizo a mesma asa e o mesmo período de exposição. E assim o controle.
Alpha Cen |
Acontece que o ângulo entre o
telescópio e a tela nunca será idêntico e assim consigo o efeito de prisma mas o padrão dos mesmos é bem
diferente.
Para melhorar as coisas eu faço
fotos respeitando os mesmos parâmetros usando Beta Centaurus . E Consigo
padrões mais semelhantes que com Canopus.
Beta Cen |
Com o auxilio do PhotoShop
separo os "arco iris" obtidos
com cada uma das estrelas que foram submetidas ao "Prisma de Nylon" ( Espero que estas me
perdoem...). E eles são diferentes.
Da esquerda para direita: Alpha Cen , Canopus e Beta Cen. Percebe se claramente a diferença entre Canopus e Alpha. Em Beta cen ( a foto maior) não se percebe muita coisa... |
Lógico que não espero utilizar os
resultados para determinar as composições químicas de cada uma das estrelas
envolvidas. Afinal creio que o método utilizado seja proibido pela convenção de
Genebra. Mas que foi divertido isto foi. E se não foi uma "experiência"
foi um bom ensaio...
A espectrografia é uma das
ferramentas mais poderosas para o estudo das estrelas. Augusto Comte , o pai e
a mãe do positivismo, certa vez disse que nunca seríamos capazes de determinar
do que seriam feitas as estrelas . Graças a espectrografia isso tornou-se uma afirmação que o autor deve se
arrepender...
Comte |
Agora vamos falar a sério.
Canopus é uma estrela austral por
excelência. Antes de se tornar lugar comum
a presença de bussolas em embarcações os pilotos a improvisavam como
estrela polar ( desde que ao sul suficiente para vê-la). É a segunda estrela
mais brilhante do céu.
Uma lenda que passeia por aí e que
não achei nenhuma confirmação diz que Canopus já foi a estrela mais brilhante
nos céus terrestres em três diferentes épocas ao longo dos quatro últimos
milhões de anos. Outras estrelas aparecem como mais brilhantes durante
relativamente curtos períodos de tempo durante os quias elas aproximam-se o
suficiente para desbancar a grande dama. Há cerca de 90.000 anos Sirius se
aproximou o suficiente para isto e pretende permanecer assim pelos próximos 210.000
anos. Mas em 480.000 anos Canopus voltará ao seu posto e permanecerá lá por
510.000 anos. A história é bastante suspeita mas é interessante suficiente para
ser contada. Mesmo a Wikipédia avisa que isto é duvidoso. E minha velha
Brittanica ( que ocupa toda a estante de meu corredor) não fala nada a
respeito...
De qualquer forma Canopus é a
estrela intrinsecamente mais brilhante em um raio de 700 anos luz da Terra.
Canopus é uma super gigante do tipo
espectral ( olha o espectro aí de novo) F0.II ou F0. Ib ( Ib significa que é
uma super gigante "menos luminosa") e este
tipo estelar é raro e pouco compreendido.
Um tipo que pode estar evoluindo em seu caminho rumo a uma gigante
vermelha ou estarem extremamente distantes disto. Isto tornou extremamente
difícil determinar qual seria o real brilho de nossa dama. E
determinar sua distância. Esta
só foi realmente confirmada nos anos de 1990 pelo Hipparchos ( The High Precision Parallax Precision Satellite). Atualmente sabemos
que ela se encontra a 310 anos luz da Terra
(96 parsecs) . Anteriormente os palpites iam de 96 até 1.200 anos luz.
Ela brilha 20.000 vezes mais que o
sol.
Estivesse ela no local de nosso Sol
e sua corona se estenderia até 90% da órbita de Mercúrio.
A temperatura de superfície é de 7350
K. Sua cor é branco amarelado ou amarelo esbranquiçado. Eu voto na segunda
opção...
Ela já foi descrita e nomeada por
diversas culturas. Mas seu nome mais comum é associado aos gregos.
Canopus é hoje a estrela Alpha de
Carina. Carina já foi parte da antiga constelação de Argos Navis ( que foi
esquartejada por Lacaille). Logo fazia parte do Navio que levou os Argonautas
em sua missão. Mas o nome Canopus vem de outra lenda marítima grega .
Canopus foi o piloto do navio do Rei
Menelau que foi em resgate de Helena de Tróia .
Outro nome comum e esporadicamente
empregado é Suhail. Este de origem islâmica. É importante ressaltar que os antigos
gregos não viam Canopus.
Quase todas as civilizações que
residiram em latitudes austrais o suficiente possuem um nome e uma lenda para
esta brilhante estrela. E assim podemos citar os Navajos , Chineses, Guaranis ,
Egípcios e mais um monte de civilizações e etnias...
Ótimo artigo!
ResponderExcluirUma experiência perfeita pra passar o tempo com um 150mm hahaha
Céus limpos!