Às vezes a gente atira no que vê e acerta no
que não vê.
Com a lua
quase cheia eu não tinha nenhuma pretensão. E assim soltei o parafuso que prende
o Motor drive ao eixo de R.A. do “Newton” ( refletor 150 mm) . Sem nada em mente aponto para aquela região
que é meio Centauro, meio Carina. A área é tão rica que costumo nem utilizar a
buscadora. Eu calço a 25 mm no porta ocular e fico brincando com os comandos
lentos para lá e para cá até esbarrar em algo.
Provavelmente
por uma razão geográfica a primeira vitima é quase sempre IC 2602. As Plêiades
do Sul. Estas eu gosto mais de observar de binóculo. É um daqueles casos onde
não se vê a floresta pelas arvores. E cobrindo uma área de quase duas luas
cheias é muito para minhas modestas oculares.
E a partir daí
é só seguir a maré. É curioso como se percebe o disco galáctico. Conforme você
brinca com o comando do eixo de declinação você percebe claramente que você passa
por uma área de uma densidade estelar maior e aí ela diminui. Balança para o
outro lado e idem. É o disco Galáctico. Ou
o braços da galáxia. Ou a Via Láctea. Chame como quiser...
Com o “Newton” girando para lá e ara cá, que nem uma baiana em desfile de Carnaval, vou
esbarrando nos diversos aglomerados abertos que habitam os braços do tal disco galáctico.
Ngc 3766,
3532, 3114, 3293, 3324. Não posso esquecer de Eta Carina e sua nebulosa. Mas esta sofre
muito com a Lua cheia.
E no balanço
resolvo fugir um pouco da rodovia galáctica e começo a passear nas cercanias do
disco. E logo esbarro em algo que não conheço. Um globular. E ainda próximo daquele carnaval de abertos na estrada
principal ele salta aos olhos. Com certeza eu nunca o tinha visitado. Paro tudo
e tento me localizar. O globular esta próximo de Miaplacidus (Beta Carina). Avalio a posição
para posteriormente descobrir quem é a criatura.
Como não pretendia
fotografar o alinhamento polar tinha sido feito de uma forma bastante
aproximada. Melhor dizendo não tinha sido feito. Mas eu percebera que apesar
disto eu estava acompanhando tudo que caia na minha frente utilizando somente
uma mão.
-Ohhh sorte!!!
Penso comigo.
E assim antes
de correr para o computador para baixar a ficha do elemento eu resolvo arriscar
umas fotos.
Definitivamente
o alinhamento polar “tabajara” estava bem aceitável. Aqui em casa ele
dificilmente fica melhor que isto. Como já falei, recentemente, a área junto ao polo tem-se encontrada envolta
em bruma e com a lua cheia os tímidos habitantes da região estavam todos bem
escondidos. Confesso que nem tentei...
Tirei 20 fotos
e depois fiz 10 Dark frames.
De volta a
pesquisa descubro rapidamente o nome do bruto. Ngc 2808. Não há muito globulares na região e o
trabalho foi fácil.
O globular é
bem brilhante e levemente alongado. Não resolvo nenhuma estrela. Não espere
isto a menos que você possua pelo menos
400 mm de diâmetro. O aglomerado se classifica na classe 1 da escala Shapley-
Sawyer de concentração. A escala vai de 1 a 12 . 1 é o Maximo de compressão e
12 o mínimo. Vocês verão uma condensação
de luz bem brilhante... Em um campo com algumas estrelas.
Apresento
alguma fotos com diferentes tratamentos. Todas se apresentam bem lavadas. A Lua...
O modo “sort”
do Rot n´Stack é um sempre me lembra da palavra pirotecnia. Mas no caso aqui
ele serve para apresentar claramente quão concentrado é 2808. E o único que
resolve algumas estrela em suas bordas.
17 exp. X 15 seg. Rot n´Stack em " sort mode". |
As demais
fotos são bastante semelhantes ao que você observará junto a sua ocular.
17 x 15 seg. Modo mean. ASA 3200 Canon T3 |
1 Exposição de 15 seg. ASA 3200 |
O Deep Sky
Stacker ,em seu já tradicional mau humor, só aceita 4 das fotos . E ainda deixa
a imagem extremamente vinhetada. Mas ele é mais poderoso queo o RnS e acredito ver um pouco mais de detalhe no globular. Pode ser só vontade...
Esta foto percorreu um longo caminho... começou com 17 frames dos quais o DSS escolheu 4... Depois visitou o Iris, o Photoshop e o Noiseware. Acho que cansou... |
Localizar
Ngc2808 não é difícil. Ele é bem brilhante e será percebido pela buscadora. Um
bom ponto de partida é Miaplacidus ( Beta Carina). Eu tropecei nele...
Foi descoberto
por James Dunlop com um refletor de 225 mm. Em 1826. Historicamente é um DSO
bastante jovem. Cosmologicamente ele é tão antigo como podem ser a as coisas no
universo.Algo em volta de 12,5 bilhões de anos.
Ngc 2808 é um
globular com características bem especiais. Em 2007 um time liderado por Gianpaolo Piotto
, na Universidade de Pádua , utilizou imagens do Hubble realizadas entre 2005 e
2006 e descobriu fatos inesperados. A maioria dos globulares possuem apenas uma
geração de estrelas. A razão disto é que esta primeira geração geraria forte
radiação e nesta “ventania atômica” o gá residual seria perdido. Sem gás, sem
estrelas. Simples.
Mas Ngc2808
possui três gerações estelares , todas nascidas em um espaço de 200 milhões de
anos a partir de sua formação.
Mas como o
dito globular é um dos mais maciços conhecidos foi elaborada a hipótese de que
sua grande massa tenha sido suficiente para que ele ,gravitacionalmente , apresentasse uma contra partida para perda
gasosa.
Outra hipótese
é que ele seja o resultado de uma galáxia anã que chocou se com a Via láctea.