William Parson, 30 Conde
de Rosse construiu o maior telescópio de seu tempo. Um monstro (para época) com
um espelho primário de 1.8 metros. Foi uma árdua batalha pois as técnicas para
a confecção de um espelho deste tamanho simplesmente não existiam e os que
tinham alguma experiência guardavam suas técnicas debaixo de sete chaves. A
metalização deste foi resultado de muitas tentativas e erros.
O
“Leviatã de Parsontown” era realmente um monstro. Sua operação demandava
diversos assistentes. Entre eles ninguém
menos que J. Dreyer ( entre 1874 e 1878)
, responsável e organizador do
monumental “New General Catalog” (Ngc) e
do “ Index Catalog”( IC) .
Apesar
do inclemente clima irlandês Parson realizou, a partir de abril de 1845, diversas
observações e desenhos. Seu grande legado foi a descoberta da estrutura
espiralada de diversas nebulosas. Ele foi o primeiro a perceber o que hoje
chamamos de galáxias espirais e os desenho por ele feitos muito
lembram modernas fotografias.
30X 20 seg asa 3200 Newton 150 mm f8 Canon T3 -2X drizzle no DSS + Gimp + fits A foto que abre o Post é resultado das mesmas fotos mas foi submetida a 3X drizzle no DSS; |
Mas
seu sucesso acabou por ser sua desgraça. Ele começou a ver espirais em todos os
lugares. Até mesmo em aglomerados abertos.
Assim
o DSO que apresentamos hoje deve seu nome e sobrenome aos Jardins do Castelo de
Birr. Ngc 1851 (a entrada de numero 1851
do New General Catalog de Dreyer) também é chamado de “O Aglomerado de Rosse”. Embora não existam registros de que Lorde
Rosse tenha alguma vez o observado.
O
apelido nasceu de minha primeira impressão ao fotografar Ngc 1851. Em uma noite
devotada exclusivamente a astrofotografia eu tinha obtido um foco mais aceitável do que
normalmente obtenho com meu focalizador de cremalheira. E assim decidi que não
iria mais tirar a câmera para caçar os DSO´s que eu tinha listados para a
noite. Observando sob céus urbanos ( bortle 8)
caçar DSO´s utilizando somente a buscadora pode ser bem ingrato. Mas
quando se fala em teoria das probabilidades é bom lembrar que ele poderia ser
chamada de Teoria das Improbabilidades... E assim acabei por localizar o que
desconfiava ser Ngc 1851 utilizando somente a buscadora. Logicamente que havia
feito bem o dever de casa e tinha estudado bastante os mapas da constelação de
Columba (a Pomba) aonde reside O Aglomerado de Rosse.
Sem nenhuma forma de ampliação esta foto é muito semelhante ao que você irá perceber junto a uma ocular de 30 mm. |
Columba
não é exatamente uma das constelações mais populares. Localizada logo abaixo de
Lepus ( a Lebre) e desta forma habitando
fronteira pouco vigiada entre Cão Maior e Puppis
perceber algo na região sob os faróis de xênon que iluminavam os céus de
Botafogo as vésperas do réveillon foi um misto de improbabilidade e de eficiência
tecnológica. O “go-to” de Mmde. Herschel (minha cabeça equatorial HEQ5) estava
em noite de glória e apesar de não me enviar diretamente para Ngc 1851 me
deixou bem perto. E assim mesmo pela buscadora haviam poucos suspeitos. Depois
de fotografar um suspeito por engano acabei por identificar a estrela “peluda”
no campo da buscadora.
Logo
que vi a primeira foto me lembrei de Lord Rosse. O pequeno globular possui
“braços” se enroscando em volta de seu núcleo mais denso e brilhante e não
posso deixar de me lembra de uma galáxia espiralando-se. O 3o Conde
de Earl iria amar a paisagem.
Praticamente “confirmaria” sua hipótese...
Ngc
1851 fica a aproximadamente 8o de Phact, a estrela alfa de
Columbae. Com mag. 2.65 é uma estrela de muita história. Diversas construções
no Egito antigo tinham sua construção orientada por ela. Outra interessante estrela na apagada
constelação é MU Columbae. Esta uma “estrela fugitiva” que deve ter sido
ejetada da associação estelar de Orion devido a explosões de supernovas.
Apresenta uma incrível velocidade se comparada ao meio interestelar a sua volta
e deve dividir a origem de sua história com AE Auriga. Ambas deve ter se
lançado em direções contrarias a partir da Nebulosa de Órion no momento que uma
ou mais supernovas criaram o atual Loop de Barnard. 53 Arietis também faz parte desta coleção de
fugitivas.
Ngc
1851 foi descoberto por Dunlop e incluído como a entrada número 508 do seu catálogo
de 1827.
“
Uma extremamente brilhante, redonda, bem definida nebulosa, extremamente
condensada, até quase o limite. Esta é a mais brilhante pequena nebulosa que já
avistei. Tentei diversas magnificações neste lindo globo; uma considerável
porção em suas margens é resolvível, mas a condensação central é tamanha que eu
não consigo separar estrelas. Eu a comparo com 68 com,des Temps ( M68 e o catalogo Messier) e esta nebulosa supera em
muito 68 em condensação e brilho”.
Como
não poderia deixar de ser Ngc 1851 também foi observada por John Herschel, o
qual também se encantou com a peça. Com mais poder de fogo ele resolve o
globular quase na integra.
“Aglomerado
globular soberbo, todo resolvido em estrelas de 14a magnitude;
repentinamente muito mais brilhante em direção ao centro para um esplendor ou núcleo
de luz. Diâmetro em A.R.= 15 ´´. A diferença em se observando este objeto com
meu olho direito e depois o esquerdo é memorável. Retornando do esquerdo para o direito, o
objeto (em comparação) parece envolto em um filme opaco”.
Utilizo
esporadicamente esta técnica (de observar hora com um olho hora com outro) e
sempre percebo diferença. Mas atribuo isto ao fato que minha vista esquerda tem
menos astigmatismo que a direita. Embora meu olho dominante seja o direito e
por isto o use mais em observações. O efeito obtido por Herschel não me parece
ter outra razão de ser.
Em
tempos mais modernos Ngc é incluído por Burnham em se “ Celestial´s Handbook”,
mas este somente apresenta a descrição do Ngc.
Sir
Patrick Moore o inclui como a sua 73a de sua lista
observacional e assim James O´Meara o descreve em seu “The Caldwell Objects”.
Neste ele percebe os “braços espirais” que eu notei como “tênues asas
semelhantes as que se vê em M13”. Ele deve ser referir as famosas “hélices” (“The
Propellers”) que são bem evidentes sobrepostas no Grande Globular de Hercules e
que foram descritas por Lorde Rosse.
Ngc
1851 é um globular bem estudado e que traz folego a teorias recentes sobre como
globulares (especialmente o que habitam o halo) tem uma formação bem mais
complexa do que se supunha e que estes apresentam diversas fases de formação
estelar. Desta forma se aproximando muito das chamadas galáxias anãs
esferoidais e demonstrando como o antigo modelo monolítico de formação de
globulares e galáxias ainda é incompleto.
Ngc
1851 ainda é candidato a possuir um buraco negro em sua região central.
Localizar
o aglomerado em céus urbanos pode ser difícil. Na verdade, contei com o auxilio
luxuoso de Mdme. Herschel nesta tarefa. Mas o starhopping mais obvio se inicia
em Phact (Alfa Columbae) que será percebida ainda que discreta em céu urbano. Ela
forma um triangulo reto com Beta e Épsilon Columbae. Com Épsilon na buscadora
calcule um pouco mais de meio campo (3o) e comece a perscrutar por
um pequeno triangulo de estrelas. Com este centralizado na buscadora procure
uma estrela “suspeita” a sul-sudoeste. Será Ngc 1851.
Um
interessantíssimo globular com um forma realmente encantadora e que se apresenta
longe da maioria dos globulares, que costumam
se localizar em direção ao centro galáctico. Juntamente com M79 forma
uma dupla de globulares deslocados e disponíveis para o verão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário