A
astronomia é cheia de histórias curiosas e de personagens quixotescos. Grandes
astrônomos nem sempre são lembrados por suas maiores descobertas mas sim pelos
seus maiores erros. Um dos "Dons
Quixotes" deste post é Franz von Paula Gruithuisen.
Este
médico e astronômo nascido na Bravaria em 19 de junho de 1774 poderia ser lembrado por diversas e nobres razões.
Foi o inventor de um equipamento que permitiu a remoção de pedras na vesícula de forma muito mais segura e foi o primeiro a sustentar que as crateras
lunares seriam fruto do impacto de meteoritos com Selene. Durante suas
observações ele percebeu que a grande Cratera Plato ( Platão...) possuía
diversas mini crateras (craterlets) manchando seu escuro e liso fundo.
Apesar
de o Nuncius Australis ser um Blog mais devotado a observação do céu profundo a
geometria do universo e as obras do metro somadas a um desafio realizado por
Phill Harrigton em seu "Cosmic Challenge" acabaram por levar-nos a um
passeio que inicialmente nos leva até Plato e depois até Wallwerk...
Como
já foi dito Gruithuisen foi o primeiro a perceber pequenas crateras no
interior de Plato.
Plato
propriamente dita é uma proeminente cicatriz causada por um impacto cósmico (
como suposto corretamente pelo nosso primeiro Don Quixote do dia ) que possui 101
km de diâmetro e é facilmente percebida com o uso de binóculos com 10X de
aumento ( até menos...) . Ao contrario da maioria das crateras de impacto Plato
não apresenta um pico central e nem um relevo caótico em seu "chão".
Isto deve-se ao fato de que pouco ( lembrem-se que sempre falamos de períodos de tempo geológico por aqui...) a piscina causada
pelo impacto foi preenchida com lava. Assim percebemos o incomum fundo
escuro que destaca-se contra o mais claro Mare Imbrium ao sul e o Mare Frigoris
ao norte.
Em
1824 Gruithuisen foi o primeiro a perceber pequenas crateras no fundo de Plato.
O desafio de Harrigton consiste em perceber o maior numero destas. A
descoberta do médico Bávaro chamou a atenção de diversos astrônomos e o número de pequena crateras aumentou muito.
É
aí que entra nosso segundo Don Quixote. O observador britânico A. Stanley Williams.
Este
senhor foi para Plato o que Percivel Lowell ( mais uma figura quixotesca) foi para Marte. Embora Williams não tenha
chegado a perceber sinais de vida inteligente nem canais cortando o fundo da cratera
ele percebeu os chamados fenômenos lunares transitórios Ele periodicamente
percebia crateras que iam e vinham , tempestades de areia e faixas que se
deslocavam na cratera. Ele associou este fenômenos a atividade vulcânica na
cratera. Hoje sabem-se que os fenômenos se devem a turbulenta atmosfera
terrestre e que o vulcanismo na lua encerrou-se muito antes de o homem caminhar
sobre a terra.
De qualquer
forma o numero de pequenas crateras subiu e o desafio proposto por Harrigton é
que você observe 16 "craterlets". Na foto (Lunar orbiter) estão
indicadas 25. (William chegou a 40!!!) Eu só consegui perceber 6. E mesmo assim com
muito esforço. Não sou um grande observador lunar e assim minha ocular de 5 mm
é de péssima qualidade. O melhor resultado que obtido foi utilizando minha 10 mm
com uma Barlow 2X.
Mas
apesar do fracasso em observar as "crateras de Platão" acabei por
conhecer a formação que acabou tornando Gruithuisen famoso e motivo de chacota
de seus pares.
No
primórdios da astronomia muitos cientistas de renome acreditaram ser a lua um
local habitado ( seriam todos eles lunáticos?) . Nomes como Da Vinci e mesmo
William Herschel ( este achava que a
maioria dos planetas o era...) acreditavam em uma civilização marciana. E assim
nosso querido Gruithuisen , utilizando o mesmo telescópio que descobriu a primeira micro cratera em Plato, descobriu Wallwerk. Uma cidade murada próxima a
Cratera Schröeter.
Curiosamente
Schröeter ( 1745-1816) foi um topografo lunar que assim como Williams percebia
fenômenos transientes no nosso satélite. Mas este os atribuía a presença de uma
atmosfera lunar. E assim via brumas e tempestades surrando os habitante de
Wallwerk.
Desenhos de Gruithuisen |
A
cidade de Gruithuisen é uma interessante formação para ser observada. Embora
nada tenha de cidade. T .W. Webb descreve
região da seguinte forma: " ...uma curiosa espécie de paralelismo
mas extremamente grosseiro que esta evidente ser de origem natural.Não é uma
formação difícil ( de ser observada) "
Com
o uso de telescópios mais poderosos as observações de Gruithuisen realmente
parceem contos da Carochinha. Mas é incrível notar que com o mesmo telescópio de
60 mm ele percebeu uma das crateras de Platão...
Fui
em busca de Wallwerk. Descobri que é necessário aguardar o momento certo e o quarto crescente é o momento certo. Utilizei
primeiro a 10 mm e depois esta com a barlow. O bom da lua é que ela suporta
bem magnificação. na verdade ela é feita para os grandes aumentos...
O
terreno na região é bastante interessante e rugoso. Mas admito que Gruithuisen
era um cidadão bem imaginativo. Com muito esforço consigo imaginar algo como
terraços incas ou Minas Tirith ( Cidade Murada do Senhor dos Anéis) . Mas é mais um esforço de vontade do que vejo
mesmo. Nada é o que parece ser que não é...
Localizar
Schoeder pode ser delicado. Apesar de grande ela não se sobressai na paisagem. Eu achei mais fácil localizar a
"cidade" navegando a partir de Erastothenes. Utilizei o Virtual Moon
Atlas para ajudar ...
Virtual Moon Atlas |
Visitar
a lua é sempre uma grande diversão. Acho que mês que vem vou procurar por uma
ponte que foi localizada por um outro Don Quixote. Ou seria um São Jorge?
P.S.- Gruithuisen também acreditava que Vênus apresentava
floresta como a Amazônica. Porém esta crescia muito mais rapidamente devido a
proximidade com o Sol...
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