Repetidas vezes vocês escutaram por aqui que a astronomia amadora
possui muitos ritos de passagem.
No
dia 18 de setembro de 2020 acabei de passar por mais um deles.
Um
pouco conhecido. Embora feito sob medida para os observadores ao sul do
equador.
Observar
todos os globulares do catálogo Messier.
O
Catálogo Messier é um compêndio que reúne os achados de um caçador de cometas
do séc. XVIII. E engloba diversas
nebulosas (o título genérico para diversos tipos de D.S.O. ´s) os quais este
organizou para que estas não confundissem os observadores em busca de cometas. Ou seja, um catálogo de coisas a não serem
observadas. E que tendo sido elaborado
no hemisfério norte não é totalmente acessível para os habitantes da porção
meridional do planeta. Mas seus globulares o são.
Mas
vamos ao que importa. Este post não se pretende a realizar uma apresentação aprofundada
de cada um dos 29 Globulares descobertos por Charles Messier. Vou apenas
introduzir cada um deles e apresentar uma rápida impressão de cada um, sua aparência
visual e só. A maioria (ou todos) já foram apresentados no Nuncius Australis em
detalhes e quem quiser saber mais sobre a história, cosmologia, Idade, CPF,
etc., etc., etc. e etc. é só clicar nos links abaixo de cada um.
Acho
importante também explicitar que este tem também a intenção de recordar que é
muito importante que você observe os objetos que fotografa. Em especial aqueles
que pertencem aos catálogos clássico e que possuem um longo histórico de
observações. Desta forma, acredito, você
pratica a astronomia amadora em que os escaladores escoceses chamam de “full
conditions” (com frio, neve, neblina e rocha podre).
Antes
de vermos os benditos globulares um pouco de teoria.
Estes
aglomerados estelares são enormes grupos de estrelas mantidas juntas de forma muito
concentrada e em um formato esférico. Aglomerados globulares possuem, em geral,
centenas de milhares de estrelas reunidas em uma “bola”.
Se
concentre nos Globulares mais brilhantes inicialmente. Os globulares do catálogo
Messier vai apresentar diferentes graus de desafio.
Aglomerados
Globulares são compostos de estrelas velhas, ao contrário dos abertos que se
formam de forma contínua, todos os globulares se formaram a bilhões de anos.
Parece que estes aglomerados se formam quando duas ou mais galáxias colidem;
tais colisões estimulam a formação de estrelas em escalas muito maiores (devido
às imensas ondas de choque). Todos os aglomerados globulares de nossa galáxia
se formaram aproximadamente ao mesmo tempo. Eles são encontrados fora do disco
galáctico. Na região conhecida como Halo, formando uma espécie de nuvem a redor
do centro galáctico. Por causa disto é que podemos ver a sua maioria durante o
inverno em direção a Sagitário que é onde se encontra o centro de nossa
galáxia. Estudos mais recentes indicam que globulares podem ter histórias mais
diversas que este modelo paleolítico apresentado, mas para nossos objetivos o
apresentado está de bom tamanho.
Rafaelle Gratton nos diz que aglomerados globulares são grandes e densos
aglomerados de estrelas. Diferindo dos aglomerados menores, eles exibem sinais
de alguma evolução química. Para quem quiser se aprofundar no assunto o trabalho
de Gratton é um bom começo e muito recente. (https://doi.org/10.1007/s00159-019-0119-3).
Como
falei anteriormente, e sem medo de ser redundante, é importante que você
observe (que é diferente de fotografar) os objetos que você observa. Mas podendo
é bom fotografá-los. Quem é do meu tempo deve se lembrar de um comercial feito
para o Fotoptica (Pelo “Mestre”. Paulo Dantas da Movie e Art): Fotografou? Não?
Então, dançou!
Afinal
observar todos os Globulares Messier (e provar) é um marco na vida de qualquer amador.
Antes de “irmos lá” acho importante
frisar que as fotos aqui apresentadas não são uniformes em seu resultado nem
captura. Algumas foram empilhadas utilizando o recurso de drizzle, outras não. Todas
as fotos neste post foram empilhadas no DSS, processadas com o PixInsight e no
Photoshop tiveram suas curvas ajustadas nos defaults “contraste médio” ou “contraste
linear”. Desta forma a impressão visual de cada um deles pode ser enganadora
quando você os observar, de fato, pela ocular. E ainda algumas fotos tiveram
sua captura apenas como forma de registro e são mais uma forma de garantir meus
“bragging rights” que astrofotografia. Um outro detalhe; nos posts linkados
muitas das fotos são anteriores ao PixInsight na minha vida. E desta forma mais
“realistas” para quem não pode fotografar (e processar) os elementos do que as que você vê aqui.
M 2 é um aglomerado bem denso e não muito grande. Mas de alto brilho de superfície. Embora Aquário seja uma constelação miserável de se navegar você pode partir de Enif em Pegasus e chegar lá. Perceptível pela buscadora em céus razoáveis. Pequenino, mas brilhante suporta bem ampliação. Usei minha ocular 10 mm. Muito denso não espere resolver muitas estrelas.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/11/m15-e-m2-cinema-novo-e-astrofotografia.html
M3
é um dos mais brilhantes aglomerados ao norte do equador celeste. Mas aqui do
trópico de capricórnio ele é discreto. Pela buscadora só de locais escuros e
mesmo assim... Melhor na minha ocular 17 mm. Não chega a se resolver, mas tem
uma certa “granulosidade”. O primeiro objeto do catálogo que é uma descoberta original
de Messier.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-3-o-primeiro-messier-original.html)
M4
é espetacular. O Aglomerado Olho de Gato. Sua barra central de estrelas mais
brilhantes aparece mesmo em pequenos instrumentos. Bem próximo a Antares é
muito fácil de se localizar. Foi o
segundo aglomerado que observei na vida. (O primeiro foi Ômega Centauro). O
segundo globular mais próximo da terra.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/05/m-4-astrofotografias-de-um-globular.html
M5
parece um aglomerado modesto. No limite da resolução. Difícil na buscadora. O
observei uma só vez. 17mm. Em condições bem menos que ideais. Mas é cantado em
prosa e verso pelos observadores boreais. Um dos posts mais populares do
Nuncius Australis. Chamado de o Aglomerado de Burnham -Asimov.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-5-o-aglomerado-de-burnham-asimov.html
M9
é o primeiro globular Messier em Ofíuco. Pequeno, mas obvio na buscadora de
céus nem tão generosos. Se resolve nas bordas mesmo com visão direta. Com binóculos
tem um que de “espiral”. 17 e 10 mm.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-9-suas-distancias-e-relatividade.html
M10
é bem brilhante. Surge na buscadora sem muito esforço, resolve-se bastante sem sofrimento.
Adoro aglomerados abertos de baixa densidade. 17 mm
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/06/m-10-um-nobre-globular.html
M12
Uma versão mais apagada e muito próximo ao anterior. Nunca o percebi pela
buscadora em Búzios. Nos céus mais rurais de Lumiar ele se apresenta. Se
resolve com a 17 mm. Visualmente mais frouxo que M 10.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/05/m-12-mais-um-globular-messier.html
M13
O grande globular de Hercules. Um showpiece. O único globular boreal do naipe
dos que existem aqui no sul. Fácil na Buscadora possui estrela guardiãs que
fazem o quadro muito agradável. Se percebe estruturas e a “Hélice” é facilmente
notada. 17 e 10 mm. Muito bom...
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2014/11/m-13-o-grande-aglomerado-de-hercules-e.html
M14 é um globular distante que observei apenas do Rio de Janeiro. Na época achei o mais apagado dos globulares Messier. Mas eu não sabia de nada... Não percebi nada na buscadora e não resolvi nenhuma estrela, mas creio que seja possível dadas condições mais dignas. 17 mm. (Quase sempre é essa a ocular que indico. Deve ser porque é a minha melhor ocular...)
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/07/m-14-um-globular-distante.html
M15
é o grande aglomerado de Pegasus. Não é tão grande assim, mas é bem brilhante.
Surge na buscadora mesmo no Rio em uma noite boa. Já o observei diversas vezes. Com resultados
variados. Nesse a 10 mm é uma boa pedida para deixá-lo “grande”.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/11/m15-e-m2-cinema-novo-e-astrofotografia.html
M19 é meu favorito em Ofíuco. Sua forma oblata o faz diferente da multidão. Bem brilhante aparece na buscadora em um Rio de Janeiro de lua nova. Resolve-se nas bordas e o centro bem brilhante. 17 mm e 10 mm.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-19-o-favorito-do-serpentario.html
M22
o mais favorito do firmamento. O Aglomerado de Tolkien. Um dos maiores espetáculos
do Universo. Em Sagitário e facilmente localizado a partir de Kaus Borealis. Facilmente
percebido a olho nu de céus escuros. Surge mesmo no centro de São Paulo com
qualquer auxílio ótico. Use todas as
suas oculares. Já o observei umas 100 vezes.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/08/m-22-o-aglomerado-de-tolkien.html
M28
O primo Pobre de M 22. Ao lado de Kaus Borealis as vezes o brilho da estrela
atrapalha sua percepção. Se apresenta na buscadora com atenção. Pequeno. Melhor
com a 10 mm
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/10/m-28-e-os-pulsares.html.
M30
Pequenino em Capricórnio. A navegação até o mesmo pode ser trabalhosa em céus
claros. Seu formato é sugestivo. De Búzios é visível pela buscadora. 10 mm
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2016/09/m-30-cara-de-capricornio.html
M53
Observando sob céus bens escuros M 53 não chega a ser um espetáculo. Embora
relativamente grande ele apenas ameaça se resolver em suas bordas com visão
periférica. Difícil na buscadora Próximo a Diadem a navegação é relativamente
simples. Bom esperar estar próximo ao meridiano.17 mm
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2018/12/m-53-um-globular-na-cabeleira-de.html
M54
é um Globular na base do Bule de Sagitário. Bem discreto e difícil na
buscadora. Não se resolve (se suspeita...). Cosmologia interessante. Pode ser extragaláctico.
10 mm.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/08/m-54-um-globular-distante.html
M
55 é o menos denso aglomerado Messier. Me lembra muito um aberto (M 11). Um
favorito. Se resolve facilmente. Mas não
tão fácil de se achar. 25 mm ,17 mm. Use todas as oculares...
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/08/m-11-e-m-55-o-diabo-esta-nos-detalhes.html
M56
é um aglomerado pouco denso, mas não se resolve. Um “verdadeiro” impostor de
cometas. Uma antítese.... Fácil de se localizar. Mas difícil na buscadora. 17 mm.
Um post querido meu.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/10/m-56-catalogos-e-guias-observacionais.html
M62
Nada demais. Aparece na buscadora. É chamado de o globular pulsante. Mas eu
discordo. 17 mm
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-62-o-globular-pulsante.html
M68
é um globular modesto em Corvo. Surge na buscadora. Centro brilhante e se
resolve nas bordas. 17 mm.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2018/05/m-68-o-globular-do-corvo.html
M69
é mais um na Base do bule de Sagitário. Embora com estrela guia próxima não é fácil
de se perceber na buscadora. Embora brilhante tem um aspecto estelar e é difícil
diferenciar de outras em campo. Pequeno.10 mm
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/09/m-69-um-lacaille-roubado-e-rico-em.html
M70
é outro globular na base do Bule. Bem próximo a M69. Acho ele mais
interessante. Se resolve nas bordas. Também pequeno. Parece ser uma característica
do grupo da “Avenida dos Globulares” no sul de Sagitário. 17 mm
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/09/m-70-e-avenida-dos-globulares.html
M71
em Sagita. O menos denso dos Globulares Messier e um eterno favorito. Se resolve
com periférica. Mas com baixo brilho de superfície é difícil na buscadora. Campo
lindo. 25 e 17 mm.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-71-um-globular-aberto.html
M72
O último a ser observado. Apagado e em Aquário acho o mais difícil dos Globulares
Messier. Apesar de ter observado este em noite ingrata acho que a ideia se
mantém mesmo em céus mais generosos. Nada na buscadora e um esfuminho com
periférica... É o único ainda sem post próprio. Em construção. Em breve
colocarei o link... https://nunciusaustralis.blogspot.com/2021/02/m-72-era-de-aquario-e-escala-de-pagel.html
M
75 O mais denso do globulares Messier. Perdido em um canto de Sagitário e
estelar na buscadora não é fácil de se achar. Não se resolve embora pequeno e
brilhante. Possivelmente extragaláctico é muito distante.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/09/m-75-um-misterio-bicentenario.html
M79
Localiza-se em Lepus. O vi de uma cobertura na Rua da Passagem. Logo bem brilhante.
Percebi discretamente na Buscadora. Outro imigrante. Quero visitá-lo novamente.
17 mm.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2016/08/m-79-um-imigrante-galactico.html
M80
Pequeno aglomerado em Escorpião. O favorito de Herschel que criou hipóteses graças
ao mesmo. Bem estelar, mas resolve-se bem com aumento. Bonitinho. 10mm.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2019/01/m-80-o-favorito-de-herschel.html
M92
é o outro Globular de Hercules. Pequeno e brilhante. Muito antigo. Paradoxal
quase. 10 mm.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/12/m-92-um-anciao-entre-ancioes.html
M
107 o último e póstumo globular. Em Ofíuco. Interessante. O observei do Rio de
janeiro. Difícil na Buscadora. De Búzios ensaia uma resolução nas bordas 17 mm.
http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/05/m-107-o-ultimo-globular-messier.html
E
assim se encerra uma longa jornada. Entre observar, fotografar e pesquisar se passaram mais de 10 anos. Espero organizar todo o material em um
guia observacional quando tiver tempo. O SUL PROFUNDO II: OS GLOBULARES MESSIER.
Para fazer par com O
SUL PROFUNDO: O CATÁLOGO LACAILLE. Disponível
na AMAZON.
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