Parto rumo ao posto avançado em Buzios. É segunda feira e saio às 15h30min do Rio. As 17h40min chego a Padaria próxima da casa.
Quando observando é importante manter uma alimentação bem equilibrada para resistir a frio e as longas horas em posições improváveis junto ao telescópio. Compro dois pacotes de Doritos e um molho de Cheddar para cobertura. 150 gramas de mussarela e outras tantas de Mortadela. Dois miojos. Uma lata de energético e uma garrafa de mate.
Tudo bem balanceado.
18h30min estou afinando a minha buscadora. Continuo sem bateria na minha “red dot”. Muito preguiçoso. Agora vou ter mais trabalho para iniciar as buscas.
Com Vega na buscadora começo a buscar (perdão...) com a ocular de 25 mm. Com um pouco de sorte esta bela estrela não demora muito a aparecer e depois de centralizá-la eu afino melhor a buscadora. Depois repito o processo com a 10 mm. Não levo as coisas até as ultimas conseqüências e deixo a 4 mm no case.
Ainda sem uma boa visão noturna escolho algo fácil com o que começar e dou um pulo até M13. O grande aglomerado em Hercules. Cantado em prosa e verso. Foi descoberto por Edmond Halley em 1714. Halley anotou que este “.. mostra-se ao olho nu quando o céu encontra-se sereno e a noite sem Lua.”
Messier o inclui em seu catalogo em 1 de junho de 1764.
Apesar de tanta prosa e tanto verso M13 se apresenta sem muito caráter esta noite.
Com todas as combinações de oculares.
Na verdade eu acho que M 13 deixa um pouco a desejar. Talvez mais ao norte. Mas acho que diversos aglomerados o superam em muito. Isto sem falar em Omega Centauro e Tucana 47 (Ngc 107). M22 me encanta mais e Ngc 6752 em Pavo se destaca muito mais. Confesso que esta noite ele se encontrava especialmente sem resolução. Era cedo e meu olho ainda não estava completamente aclimatado. Mas fica aqui meu registro. No começo de 2012 vou para o hemisfério norte. Terei de tirar isto a limpo. Infelizmente ao amanhecer...
Uma curiosidade: M13 foi selecionado como alvo para uma das primeiras radio mensagens mandada para possíveis Alienígenas. Se alguém lá estiver esperando faltam apenas cerca de 24.963 anos para ela chegar. A mensagem foi enviada pelo radio telescópio do Observatório de Arecibo.
Agora já mais aclimatado vou à busca de um dos objetivos planejados.
M 57. A nebulosa do Anel. Localizada entre Shelyak (Beta Lyra) e Sulafat (Gama Lyra) não é exatamente difícil de achar. Diferenciar quem é quem no campo da buscadora já é outros quinhentos. Mas não chega a demorar.
Nos momentos de bom seeing percebo o anel claramente. Nem sinal de estrela central. Com a 10 mm chego a perceber alguma estrutura no anel. O vento não esta ajudando, mas nos instantes de calmaria a nebulosa se resolva claramente. Com a 10 mm (120 X).
Agora chegou à hora. A razão desta rápida fuga até Buzios. Como a previsão do tempo não era boa durante o fim de semana aguardei o momento certo. Segundo o Accuweather a noite de segunda feira é perfeita para o ataque. Exatamente em uma janela de bom tempo. A noite de terça-feira já corre o risco de estar comprometida e é prevista chuva para quarta. Mas pode ser ainda a ultima chance de se visitar o Cometa Garrard nessa lua nova.
O cometa se encontra perto de Sagitta (a flecha).
E não foi nada fácil...,
Sagitta é uma constelação sem vergonha. Um monte de estrelas fracas e que se recusavam a permanecer visíveis com visão direta. Com o alvo bem no meridiano começa a busca. Porém chego a meu objetivo de uma forma bastante sinuosa.
Mas muito interessante...
Albireo. A rainha das estrelas duplas. Partindo deste nobre porto vou rapidamente até o aglomerado de Brocchi. Este conhecido como o cabide e já é um destino em si. Catalogado como Cr 399 é um lindo asterismo. Não se trata de um aglomerado verdadeiro sendo apenas um alinhamento casual de estrelas. Mas engana muito bem. É um alvo ideal para binóculos. Ele se apresenta melhor na buscadora, sendo muito grande até mesmo para a 25 mm. Cobre mais de 1º. O Cdc diz que é facilmente percebido a olho nu. Eu não vejo nada... Mas a partir de Albireo fica um campo de buscadora acima.
A partir de Cr 399 e navegando pela buscadora consigo localizar Sagitta. Mais precisamente o triangulo formado por Alfa, Beta e Delta Sagitta. Esta ultima faz par com Zeta Sagitta.
Entre Zeta Sagitta e Cr 399 esta 9 de Vulpecula. Uma estrela de 5ª mag. que se destaca no campo de estrelas bem fracas. Entre ela e Zeta Sagitta eu achei o cometa. Não foi uma navegação fácil e passei cerca de uma hora nestas buscas... Usei a 10 mm durante as buscas por distração. Seria mais fácil com uma ocular com maior campo. O cometa em si esta bem brilhante. Tinha lido uma observação sobre o mesmo e o autor o comparava com M1.
Achei mais brilhante.
Fiquei um bom tempo namorando aquela estrela cabeluda. A Coma não esta grande mais é bastante aparente. Em todas as combinações de oculares (25 mm, 17 mm e 10 mm).
São 21h30min.
De volta a Sagitta percebo linhas negras em uma espécie de aglomerado. Uma área bastante interessante a sul de Delta. Não descobri nada especifico. Ficam aí duas entradas do catalogo Sharpless de nebulosas (84 e 87) como constatei no CdC. Mas acho muito difícil que meu telescópio apresente todo este poder de fogo. Realmente se nota “algo” na região. A transparência hoje parece bastante boa.
A viagem já esta paga.
Parto em busca de algo mais fácil.
Gamma Delphinus. Uma bela dupla. Em uma constelação cheia de história. Pela primeira vez na noite uso a 4 mm. Não que precise para dividir os componentes desta dupla. Mas para testar o seeing. Não é de todo mal. O problema é o vento no telescópio. Nos momentos de calmaria aparecem bem definidas.
Estrelas Duplas são um habito adquirido. Depois que você toma gosto são muito divertidas.
Aproveitando a posição favorável faço uma visita a um dos aglomerados abertos mais sem graça do catalogo Messier. Sua entrada de numero 29 é bastante sem sal.
Bem próxima a Sadr (Gamma Cygnus) é facilmente localizável pela buscadora. Consiste de aproximadamente 20 estrelas de 8ª mag.
É uma descoberta original de Messier e ele a inclui em seu catalogo em 29 de Junho de1764.
A luz de M 29 é obstruída por muita matéria inter estelar e se seu campo e visão fosse mais desimpedido suas estrela chegariam a ser 3 mag. mais claras.
Parto para o horizonte sul.
Em um tiro certeiro achei Ngc 104 quase que por mágica. Achernar, Alpha e Beta Hydra e um chute e ele aparece bem no meio da buscadora.
Como já falei Tuc 47 e Ngc 104 são a mesma pessoa...
O segundo globular mais brilhante da galáxia. Só perdendo para o pai de todos: Omega Centauro. E pulverizando M13.
Começo a resolver estrelas com 120 X. Com 140 resolvo varias estrelas nas bordas. Mesmo com 48x percebe-se certa granulosidade.
Júpiter já vai mais alto no céu.
Meu olho cansou de caçar D.S.O.
São 00h35min
Resolvo partir para um pouco de exploração planetária e fazer algumas experiências com minha nova câmera fotográfica.
Tratarei disto no póximo post.
Depois de me entender com Registax 5....
Bons Céus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário