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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Astronomia Binocular e muitos Aglomerados Duplos

 


          Eu tento ter por hábito realizar pelo menos uma grande sessão observacional por estação. Neste verão fiz as coisas um pouco diferentes. Indo viajar durante muito tempo, pulando de uma locação para outra no meio do período e em um carro muito pequeno me vi obrigado a abrir mão de levar o Newton junto com a família.  Optei por levar Mlle. Herschel (minha montagem equatorial HEQ 5) para servir de base para minha câmera. E diversas lentes.

                Isso iria garantir a parte fotográfica da expedição.

                Sempre digo por aqui que o astrônomo amador não pode cair na armadilha de só fotografar os céus. Você tem que ver com seus próprios olhos. E desta forma coloquei no já super socado veículo um  Vanguard 10X50 mm. Um modesto binoculo.

Astrofotografia binocular é um exercício que todo amador deve praticar. Ela vai te ensinar a ver. Com binóculos diferenciar um globular de estrela pode ser um divertido e útil exercício quando for partir em busca de galáxias pelo céu. O catálogo Lacaille, por exemplo, foi todo “descoberto” por equipamentos muito inferiores ao Vanguard. E a primeiro registro de uma galáxia fora do grupo local foi feito por Lacaille (M83). Embora ele não soubesse disso e galáxias fossem um conceito ainda bem distante...

Outra qualidade é que com campos enormes (5 ou mais graus) você abarca porções generosas do céu. Desta forma grandes abertos como as Plêiades, Hiades e IC 2602 são mais bem observados com binóculos que com grandes aumentos telescópicos. Eu, embora não tenha levado meu 15X70 acho ele um dos melhores instrumentos para observações descompromissadas.  O campo com cerca de 3,5º abarca muita coisa e o maior aumento ajuda a destacar DSO´s mais discretos e tímidos.  Om o 10X50 é importante atenção e mais treino vai ajudar muito.

Neste post vou apresentar diversos aglomerado e regiões que com um binoculo você vai ser capaz de observar 2 ou mais aglomerados (e ou nebulosas) com o uso de um 10X50 (e geralmente com o 15X70 mm também. Galáxias são alvos difíceis para o iniciante com pequenos aumentos. Mas em Virgem e Leão são diversas as áreas onde você vai conseguir reunir várias em um único campo (mas aí até mesmo com telescópios ...). Não vou abordá-las. Fica para uma próxima vez.






M 47 e 46


A primeira dupla a ser apresentada é M 47 e M 46. São um clássico e demonstra como dois aglomerados abertos podem ter caráter tão visual tão distinto. enquanto M 47 é um oferecido que vai logo saltar a vista e se resolver em sua maioria M 46 vai ser bem mais discreto e demandar mais carinho e visão periférica e se apresentar como uma pequena nebulosa querendo se resolver em algumas estrela que “flicam” na sua visão.  Na verdade, no campo apresentado estarão ainda mais DSO´s. Mas estes terão caráter estelar e serão bem discretos. Com o dever de casa bem feito você vai perceber que algo além se passa por ali. Mas o dois Messier roubam a cena.  Em Puppis

Na observação binocular é importante lembrar que muitos abertos serão esfuminhos sem nenhuma resolução. Mas que evidentemente são mais do que parecem ser...





A seguir outa dupla que roubou a cena na última Aporema foi Ngc 2451 e 2477. Também na Popa da antiga constelação de Argos.  No mesmo estilo que os anteriores. Um mais dado e o outro mais discreto. Ngc 2451 parece até um campo rico em estrelas. Já Ngc 2477 é um esfuminho mais delicado e que demanda carinho na observação. Mas com uma grande área. É um de meus abertos favoritos em qualquer equipamento.





Seguindo a Via láctea e saltando o cão Maior chegamos a Monoceros, o Unicórnio. Aqui um campo riquíssimo. Tão rico que é conhecido como o Paraiso Pirata tamanha a coleção de tesouros que vai se apresentar. No Mesmo campo teremos dezenas de DSO´s. todos envoltos em nebulosidade obvia em céus escuros. M 50 é o mais obvio desses, mas você, com visão periférica, vai perceber vários outros abertos dignos de nota.  IC 2177 pode parecer algo estelar. Mas se percebe que é um local especial mesmo sem muito esforço. Ngc 2335 é um esfuminho obvio assim como 2343. Ngc 2327 não aparece. Para nós ele parece ser uma estrela em um falso aglomerado bem obvio, mas que não é um DSO´s de fato. Mas que parece, parece.





Seguindo rumo a Orion temos a espada do caçador. Com M 42 como seu coração ne mesmo campo ocular podemos ver vários outros DSO´s. Um dos campos mais belo de se observar de binóculos. Não vou sequer entrar em detalhes já que a região é muito manjada. Se você está se iniciando passe algumas horas passeando por ali e descobrindo quem é quem. É fácil, educativo e belíssimo.  Aliás a constelação inteira de Orion ´um programa binocular obrigatório e impagável. Veja mais aqui.





Last but not Least chegamos a Gêmeos. Aqui um dos mais famosos e maiores abertos de todos. M 35. Mas o mais legal é que geralmente quando se observa M 35 você mesmo com telescópios vai estar vendo Ngc 2158. Mas ele acaba sendo engolido por M 35. Binóculos realçam mais sua existência. já que como não o resolvem não o tornam apenas um anexo ou prolongamento de M 35. Ele será um discreto esfuminho no campo. É interessante saber que este, muito mais distante, tem o mesmo tamanho real de M 35. Seu diminuto e discreto aspecto é fruto da distância. Ele fica a mais do dobro da distância de nós.

Existem diversos outros campos binoculares onde você consegue achar diversos DSO´s simultaneamente.

Observar de binóculos é uma imensa diversão. E você consegue fazer um “body count” enorme. Já completei a Maratona Lacaille diversas vezes com meu 15X70 mm. De telescópio somente uma... A navegação binocular é mais fácil e mais confortável. Se você conhece bem o firmamento dispensa (na maioria dos alvos) até mesmo um mapa.  

Ainda que não idênticas, as áreas cobertas com a 300 mm que foi utilizada nas fotos aqui apresentadas são muito semelhantes as áreas abrangidas pelo meu 15X70 mm. Acho que assim e em conjunto com os mapas o Stellarium (que simulam o 15X70 mm) servirão como um excelente guia para quem quiser realizar o passeio acima descrito. Com o 10X50 não muda tanto. Os campos ficam maiores e os DSO´s menores mais vai estar tudo lá. Especialmente se você, que leu o texto e fez o dever de casa souber onde olhar.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

IC 2177 : A Nebulosa da Gaivota e o Paraiso Pirata


 


           Este post vai tratar de uma região menos visitada e merecedora de mais créditos. O´Meara em seu “Hidden Secrets” batiza o conjunto da obra de “O Paraiso dos Piratas” (Pirate´s Paradise).

                Como andei explorando Monoceros na última Aporema acabei esbarrando em IC 2177 meio ao acaso. Enquanto dava uma namorada no Stellarium esperando a captura da Roseta terminar esbarrei no sugestivo nome de “The SeaGull Nebula” ou A Nebulosa da Gaivota. IC 2177 é pequena e discreta, mas habita em um campo maravilhoso e é uma espécie de coração de uma nebulosidade muito maior onde se escondem diversos aglomerados abertos dignos de posts futuros.

                Rapidamente (nem tão rapidamente assim. A captura da Roseta durou cerca de duas horas.) dirigi Mlle. Herschel (minha montagem equatorial Heq 5) para o alvo. Na câmera tinha montada a “pé de boi” 70- 300 mm da Canon @ 300 mm f 5.6.

2 Drizzle no DSS


                Fiz uma foto e percebi que me encontrava na região certa e ainda capturava, de lambuja, M 50. Este as margens do “Pirates Paradise”. O texto de O´Meara que conta a história desse mar de corsários e bucaneiros, na verdade, aborda o aglomerado aberto de Ngc 2353 (Avery´s Island cluster). O aglomerado em si não foi capturado na foto realizada. M 50 é mais atraente... de qualquer forma é esse aglomerado que acaba inspirando o nobre colega em batizar a região que aqui apresento como o Paraiso dos Piratas.  O capitão Avery foi um pirata de curta carreira que ficou conhecido como “O Falso Rei de Madagascar”. Sua captura, em 1695, do Ganj-i-Swai, o maior navio do império mongol, o torna uma lenda. E como uma boa lenda ele termina a história cercado de riquezas inenarráveis em uma ilha tropical paradisíaca. A história difere da lenda e tudo indica que após se retirar da pirataria encerrou sua vida de forma bastante miserável na vila de Bideford em Devon.

Paraiso Pirata


                Neste Paraiso Pirata “estendido” de minha foto temos como butins principais M 50, IC 2177, Ngc 2335 (Um interessantíssimo aberto em região rica em nebulosidade) e Ngc 2343. Todos esses alvos ao alcance de binóculos. Ou quase.



                IC 2177, para se revelar digna do nome, vai precisar de mais aumento que um modesto binoculo. Mesmo meu 15x70 não chega a revelar a Gaivota. Mas IC 2177 é apenas o núcleo da imensa Nebulosa de Wolf que delimita as margens do Paraiso Pirata.

                Essa região especificamente (e as nebulas e aglomerados etc., envolvidos) se relaciona diretamente com a Associação CMa OB1.  Segundo Fernando Comeron (ESO) a intensa formação estelar na associação foi detonada por uma explosão de supernova a cerca de 1 milhão de anos atrás.  As coisas estavam esquentando por lá enquanto o Homo Erectus transitava em Habilis e começava a dominar o cozimento de alimentos aqui pela terra.

                A explosão desta supernova ocorreu nas margens de uma densa nuvem de gás e poeira que media 3 anos luz de largura e possuía uma massa de 1000 sóis.  E a cerca de 100.000 anos atrás as ondas dessa explosão invadiram as calmas águas de uma outra nuvem disparando uma intensa formação estelar que se desenrola até hoje.  Essa região se tornou Canis Majoris R1.

                Toda a região entre Monoceros e Cão Maior é digna de nota e deve ser explorada em busca de butins. Estrela mimetizando safiras, rubis e outra pedras preciosas abundam na área.

                 Cma R1 é uma saudável região de formação estelar e se espalha por 100 anos luz. Está incrustada em uma região de nebulosas escuras, nebulosas de emissão que é composta por IC 2177 e o seu conjunto (LBN1036). Embora a nebulosidade pareça se encontrar um pouco mais próxima que a associação e ainda que incerto é possível que o anel de emissão (Wolf´s nebula) seja um remanescente da Supernova de 1 milhão de anos.

Na região de IC 2177 os dois abertos, Ngc 2343 e Ngc 2335 forma uma espécie de aglomerado duplo que merecem atenção por seus próprios méritos. Com 6 e 7ª magnitude são alvos viáveis com quase qualquer auxílio ótico.

Não faltam confusões associadas a IC 2177 (A nebulosa da Gaivota). Em algumas fontes a nebulosa é identificada com Gum 1. (No meu Sky Atlas 2000.0 do Tyrion ela está assim identificada). Em outras fontes ela seria apenas uma parte de Gum 1. No Uranometria está é identificada como Van der Bergh 93. Outra ainda identificam a mesma como Ngc 2327. Na foto percebe-se que isto é um equívoco.

IC 2177, segundo Dreyer no Second Index Catalog de 1908(Já realizado com o auxílio da fotografia), foi descoberta por Isaac Roberts. Este anuncia a descoberta de uma brilhante nebulosa ao redor da estrela de 7ª magnitude BD 10 1848 (HD 53364).  Esta é, de fato, a nebulosa mais brilhante da região e a descrição não nos deixa dúvidas; “Bem brilhante, extremamente grande, irregularmente arredondada e bem difusa.”

Em fotos a Gaivota escura se destaca sobre a Nebula. Especialmente com amis aumento do que consegui com meu set up peso leve. 

Posteriormente Wolf destaca o resto da obra.

Uma das mais belas regiões menos cantadas em prosa e verso nos alfarrábios por aí. Não perca a chance de navegar por esse paraíso pirata e achar outros tesouros escondidos.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

M 50 : Paternidade, PixInSight, Photoshop e Grande Greve


      


      Com o país a beira do colapso, minha conta bancaria solidária a nação, o carro sem gasolina e a lua quase cheia não me vejo observando tão em breve. Que fique registrado que este post foi realizado durante aquela que será lembrada como a “Grande Greve de Caminhoneiros de 2018”. Uma versão menos romântica e menos trágica que a “Grande Fome da Irlanda”. A última foi causada com a ajuda da Phytophtora Infestans. Ambas compartilham a pouca vergonha dos governantes.
Desta forma me resta caçar DSO´ que tenha fotografado e que tenham acabado relegados devido a outros objetos mais interessantes ou a capturas abaixo da média. M 50 é um destes casos.
            Mas engatinhando no PixInSight 1.8 (uma espécie de Ferrari dos programas de processamento de fotos astronômicas) achei que deveria dar as fotos de M 50 realizadas durante a Aporema (uma festa que remonta ao período pré-colombiano aqui na Pindorama) de janeiro uma nova chance. É impressionante o que se pode fazer com o bichinho. Especialmente se usar um coquetel de 1 parte Photshop e 1 parte PixInSight. É um caso típico de “O impossível a gente faz agora. Milagre demora um pouco...”.

Não é nenhuma Brastemp. Mas é M 50 "cuspido e escarrado"... 

            Primeiro M 50.
Trata-se de um belo aglomerado aberto.  Acho estranho que não seja mais cantado em prosa e verso. Embora, seja dito, que na língua de Camões exista pouca literatura sobre o céus... Nenhum guia observacional clássico foi jamais traduzido para o português.
            O grande aglomerado em forma de coração habita a constelação de Monoceros  (Unicórnio).  Sua paternidade é alvo de interessantes histórias envolvendo os tais guias observacionais clássicos. Smith em seu “The Bedford Catalogue” (que é como ele batizou o segundo volume do seu livro e guia “Cycles of Celestial Objects”. Como seria de se supor o Observatório de Smith se localizou em Bedford.) fala que M 50 é uma interessante dupla. O evidente aglomerado em sua volta era apenas um “plus”. E  ele nos diz que Messier descobriu o aglomerado em 1771 e o descreveu como “uma massa de estrelas mais ou menos brilhantes”.  Seu contemporâneo Reverendo Webb parece ter se impressionado mais... Se refere ao grupo como - Um Brilhante aglomerado, h (John Herschel) nos diz que com 30´. Com uma estrela vermelha. Entre Sirius e Procyon; 1/3 mais próximo da última. Em uma soberba vizinhança aonde o Criador teria “Semeado de estrelas, o céu é denso como um campo.”
            O guia de Webb foi substituído quase um século depois pelo hoje já histórico “Burnham´s Celestial Handbook”. Neste Burnham atribui a descoberta de M 50 a Cassini antes de 1771. Depois desmente Smith e nos conta que Messier descobre o mesmo de forma independente apenas em 1772 (é verdade. Messier observou M 50 em 5 de abril de 1772). Para alimentar nossa curiosidade acrescenta que Bode também o registra em 1774 procurando por um objeto reportado por Cassini. Importante frisar que estamos falando de Giovani Domenico Cassini (descobridor da Divisão Cassini nos anéis de Saturno). E que a descrição que leva a isto está no livro “Elementos de Astronomia” de seu filho Jacques Cassini (escrito em 1740).
            Tratando-se de DSO´s do Catalogo Messier costumo utilizar 3 fontes mais atuais para checar os fatos. A primeira é o Guia do Stoyan para os Objetos Messier (“Atlas of the Messier Objects; High Lights of the Deep Sky”). Este nos diz que é quase certo que M 50 foi uma descoberta de Cassini. Depois deste a próxima parada é o “Deep Sky Companions; The Messier Objects” do O´Meara.  Este também nos diz ser “possível” que M 50 seja uma descoberta de Cassini.  Por fim gosto de olhar a pagina da SEDS para o catalogo Messier. De novo é “possível” que Cassini tenha “furado” Messier. Na minha modesta opinião a raiz de todo o problema está no fato que Cassini de fato observou algo em Monóceros. Mas não marcou sua posição. Como Bode nos diz: “Em 2 de Dezembro de 1774 eu procurei observar a “estrela nebulosa” a qual M. Cassini diz ter visto entre o Cão Maior e Menor, e da qual não consegui localizar em local algum a descrição de sua posição. Eventualmente localizei, nesta região, ao norte de Theta, Um e Gamma na cabeça de CMa ou abaixo da barriga do Unicórnio um pequeno aglomerado em superfície nebulosa.”  Na região abundam abertos. Mas M 50 é um dos mais evidentes. Logo ...    
            Como falei o aglomerado é pouco cantado. O´Meara nos diz que M 50 é “um obscuro aglomerado em uma obscura constelação”. Um objeto Messier dificilmente pode ser muito obscuro. Mas levando-se em conta a lista ...Ok!
            Localizado a 2900 anos luz de nós e com um diâmetro aparente de aproximadamente 15´ pode-se calcular que o mesmo ocupe cerca de 13 anos luz de galáxia. Dependendo de quem o vê sua classificaçãoTrumpler varia entre I 2 m, II 3 m até II 3 r.  Como palpitar na escala Trumpler é permitido eu aposto em II 2 r. Ou seja um aglomerado que se destaca do fundo com leve concentração central e com mais de 100 membros. Clarie et al. Identificou 109 membros entre 175 candidatos no campo de M 50. Estudos mais recentes e com muito mais poder de fogo chegam a mais de 2000 membros com magnitude limite de 23.  Estudos ainda mais recentes indicam uma idade de mais de 100 milhões de anos. E assim é pouco provável algum parentesco (outrora suspeitado) com Ngc 2353 e a Nebulosa de Roseta.


            Localizar M 50 não é difícil. Seguindo uma linha que sai das Três Marias e segue para um local entre  Sirius e Procyon vai acabar te levando até ele. Há outros aglomerados na região para se esbarrar. Mas ele é o mais evidente. Que o diga Bode...

Antes de "roubar" no Photoshop. Apenas 12 exposições de 30 seg 1600 ISO stacked no Rot n Stack

            De volta a nossas fotos o “Aglomerado do Coração” foi registrado de Nova Friburgo em noite sem quase nenhum compromisso com a astrofotografia. E com um alinhamento polar realizado apenas para poder apresentar as crianças algumas maravilhas celestiais. O resultado foi que com o andar da noite as crianças foram dormir e o céu acabou ficando bem mais transparente que o esperado. E assim forcei uma barra para tirar algumas fotos de dois abertos do catálogo Messier que nunca tinha registrado (embora já tivesse observado ambos algumas vezes) M 50 e M 93 (do qual tinha recordações mais exatas).  M 50 me surpreendeu. Grande brilhante e colorido. Tinha que fotografar. E assim consegui cerca de uma 10 de imagens com bastante rastro.
            Provavelmente devido a isto estas fotos ficaram esquecidas por um bom tempo. Empilhei o lote utilizando o Rot n Stack. Fotos muito toscas não servem para o DSS (Deep Sky Stacker). Ele se recusa a empilhar.
            Ao longo do post   vocês devem ter percebido que fotos péssimas nunca ficam muito boas. Mas quase sempre é possível se obter um registro de DSO´s mais brilhantes sem grandes pretensões ou tempo. Evidentemente o material não se prestará a grandes ampliações. Mas será excelente referencia para a identificação de DSO´s. 
            Uma técnica pouco digna, mas muito funcional para reduzir o rastro das estrelas com o Photoshop. Duplique o layer de fundo e “escureça” o layer duplicado. Depois corra o layer superior sobre o de fundo e veja as coisas se ajeitando. O PixInSight resolve bem o gradiente de fundo de fotos que foram capturadas sem a realização de darks ou flats. Venho percebendo que em capturas realizadas com câmeras DSLRS os flats são mais importantes que os darks ou Bias. Outra coisa é que o PixInSight é um programa que demanda mais estudo... comecei a ler o “Inside PixInSight”.  Vou estudar. E na próxima lua nova quero fazer uma captura mais séria de alguns DSO´s para poder “brincar” mais a sério com o novo brinquedo.... Andei testando realizar o stacking no PI. Mas é bem mais trabalhoso que no DSS. O procedimento descrito no livro realmente pode ser que leve a resultados superiores. Mas não sei se tanto...

quinta-feira, 22 de março de 2012

O Cidadão e M 50



Segundo o “Pai dos Burros” cidadão é o habitante da cidade.  A história, evidentemente, é um pouco mais longa. Como a maioria das coisas remonta a  Grécia antiga. Lá havia várias cidades independentes, constituídas em Estados autônomos, que assim eram chamados por possuírem liberdade da administração pública e política. Cidadão era o habitante dessas cidades.Devido a essa origem histórica o termo cidadão muitas vezes foi apropriado pelos futuros citadinos.
   E assim nasce o conflito entre o campo e a cidade...
            Esta oposição permaneceu durante muito tempo e o preconceito permanece, ainda que de forma mais discreta até hoje. O habitantes do interior são muitas vezes considerados cidadãos de segunda e  chamados de termos pejorativos  e  considerados bichos do mato e ignorantes. Um terrível equivoco.
               Ainda mais se tratando de matéria celestial.
            Se você é um cidadão citadino  e vive debaixo de céus cheios de poluição luminosa e vazios de estrelas, a  tênue e enevoada faixa  do céu que é a Via Lactea , lhe é caelum incognitum.
            Já o cidadão “provinciano” a conhece  perfeitamente e vê claramente pequenos nós de luz  que a enfeitam.
            Mas o ignorante cidadão citadino possui neste pequenos nós um dos esteios para o astrônomo urbano. Um cidadão de poucos direitos...
            São  os aglomerados abertos.  Um tipo de DSO que se não  destaca-se como na província pelo menos sobrevive nas poluídas noites citadinas.
            Aglomerados abertos são também chamados de aglomerados galácticos. São grupos de estrelas que viajam juntas, pelo menos por enquanto,  pelos braços da Via Lactea.  
Assim seguindo-se a nossa galaxia, com o auxilio de um binóculo,vários destes serão percebidos.
Uma das partes mais ricas nestes adornos ao longo do rio galáctico corre através de Puppis , ao longo do Cão Maior e deságua em Monoceros. Essa região é pontuada pelos aglomerados abertos. Varios objetos Messier residem nesta área. M 47, M46, M93 e o convidado de hoje; M 50.

Localizado em Monoceros M 50 vai se apresentar ao pobre astrônomo citadino , especialmente com um simples binóculo, de forma muito semelhante a um pequeno cometa com algumas estrelas podendo ou não se resolver. Assim como Messier o viu. Ele era também um cidadão  e um citadino. E numa das cidades com maior poluição luminosa de seu tempo. Em céus rurais ele pode ser percebido a olho nu por olhos treinados.
Mas agora vamos deixar de lado esse papo de campo cidade e tratar de M 50.
M 50  é um aglomerado aberto que brilha com magnitude de 5.9 e que se situa  a 3.200 anos luz. Ele cobre uma área de aproximadamente 16´de arco.  Isto confere a ele uma extensão linear de aproximadamente 20 anos luz. Sua parte mais densa e central cobre apenas cerca de 10 anos luz.  O cidadão ( perdão...) tem cerca de 78 milhões de anos.
            Sua descoberta é disputada. Messier o descobriu de forma independente em 5 de Abril de 1772 do observatório de Cluny. Mas a fortes índicos de que ele foi primeiramente avistado por  G.D. Cassini   em 1711 de acordo com o relato de seu filho , Jaques Cassini, no livro “Os Elementos do Céu” de 1740. Há uma pequena diferença na posição mas não chega  a ser um absurdo.  Quando visto com telescópio,especialmente um  pequeno , a forma de um coração é bastante evidente.
            Localizar M 50 não é difícil. Localize Sirius ( a estrela mais brilhante do céu). Imagine uma linha que a ligue até Theta do Cão Maior ( visível mesmo no Rio de Janeiro). Agora siga neste rumo por mais um campo binocular ( 5º ) . M 50 estará  no seu campo de visão.
            Agora se voce achou M50 facilmente tente perceber também Ngc 2343 e 2335. Eles estarão dentro do mesmo campo com um 10x50 .  Boa sorte  cidadão.