Sempre estou tentando
descobrir um jeito que me permita realizar um alinhamento polar digno e mesmo
assim não ter que realizar o método do “Drift”. Afinal métodos de confirmada
eficiência nunca me agradaram. Não só isso. Apesar da eficiência garantida ele
é impossível de ser realizado sem possuir horizontes limpos e muito menos ainda
sem poder avistar estrelas que se encontrem próximas do equador celeste. Como é
o caso da janela de meu apartamento.
Assim depois de ler um interessante post do “Uncle Rod”
me ocorreu a possibilidade de utilizar uma “Estrela Polar Austral”.
Normalmente Sigma Octans leva essa honra. Mas depois de
varias consultas ao Cartes du Ciel (CdC) e ao Stellarium ( ambos programas
planetários disponíveis de forma gratuita na web) eu cheguei a brilhante
conclusão que o titulo seria melhor empregado em uma ilustre desconhecida. Tycho
9521-302-1 ou HIP 71438. São a mesma pessoa...
Ela nunca se encontra a mais de 12´ do polo sul celeste.
E com magnitude visual de 6.8 ou 7.06 (dependendo do programa...) se encontra dentro do alcance de minha
buscadora. Mesmo em condições extremas de poluição luminosa já que estou morando
em um canteiro de obra (cortesia de Eduardo Paes, o pior prefeito que conheci) e os níveis de poluição luminosa ao redor de
minha casa poderiam ser considerados insalubres.
Desta forma resolvo fazer um reconhecimento da região
junto ao polo com um pouco mais de poder de fogo que o apresentando pela minha
buscadora. A escolha, obviamente, recai sobre meu Skymaster 15X70 mm. Sentado
em minha poltrona eu escaneio a região e rapidamente localizo Sigma Orionis,
HIP 112355 e a ilustre desconhecida já citada. Duas estrela, ainda mais tênues, apontam para
Xhi Octans e me garantem ser este o asterismo que estou realmente procurando.
Contar vantagem é fácil. Quero ver contar a derrota.
Em uma infeliz ideia acho que a buscadora montada no telescópio e a cabeça
toda “no esquadro” bastará utilizar os parafusos
para o ajuste da cabeça equatorial e alinhar tudo com a ilustre desconhecida.
Afinal já vai tarde e eu gostaria de ainda fotografar Ngc 5617.
Depois de consultar “as cartas e os programas” calculo o
pequeno desvio que deveria a cruzeta da buscadora apresentar da “Estrela Polar
Austral”. E vamos lá. Afinal Ngc 5617 (outro ilustre desconhecido) fica a pouco
mais de 1º de Alpha Centauro e não deve ser difícil de ser localizado.
Escuto dentro de minha cabeça a musica de abertura dos “Trapalhões”.
( Ta-na-na-na-na-nammmmm-nam).
Não avisto nada obvio pela buscadora. Credito ao Eduardo
Paes e parto para a ocular. Com a 25 mm calçada no “Newton” (meu refletor 150
mm) fico passeando próximo a Alpha Cen e percebo tênues estrelas. Me parecem
mais estrelas de campo que um verdadeiro aglomerado. Mas, em tese, ele deve
estar dentro do campo visual. Ainda mais quando eu colocar a câmera. O campo
dela é mais como uma 30 mm ( talvez 35 mm...)
do que a 25 mm. Faço uma foto e não
percebo nada. Aliás procuro não perceber. O fracasso é eminente. Faço mais
algumas exposições e começo a acreditar em geração espontânea. Meu mantra: “Quando
eu empilhar vai surgir algo do nada...”
Nem com reza forte, Photoshop e Rot n´Stack. A foto
abaixo deixa claro que não só não fotografei Ngc 5617 como o telescópio se encontra
totalmente descolimado e que o alinhamento polar está uma...
Melhor deixar para lutar amanhã.
No dia seguinte resolvo colimar o telescópio (é uma
atividade para ser feita durante o dia) e mexe para lá mexe para cá e eu não
fico satisfeito. Resolvo inventar e com as sobras de uma embalagem de ocular eu
facão uma espécie de colimador. Apesar de “rudimentar” ele se prova bastante
eficiente. E me mostra que o meu secundário só não esta mais fora do esquadro
porque não dá... Depois de colocar o secundário nos eixos o primário é moleza.
Passo a tarde estudando e aguardando escurecer para fazer
mais uma experiência. Estive muito criativo esta semana. Provavelmente devido a
lei seca que estou tentando estabelecer em solidariedade com a gravidez de
minha mulher.
Com a buscadora presa diretamente a cabeça equatorial eu
mimetizo uma buscadora polar. E parto de novo na caça de HIP 71438. A ilustre
desconhecida promovida a estrela polar...
Com um pouco de paciência e com uma transparência duvidável
eu me dou por satisfeito após alguns minutos de ajustes. Depois coloco o
telescópio na cabeça, a buscadora no telescópio e alinho tudo. Quem disse que
observar é maior moleza não sabe o que diz. Eu, em geral, suo a camisa.
Hoje meu objetivo é outro. Criei antipatia por 5617 e
resolvo buscar outro ilustre desconhecido. O relativamente obscuro aglomerado galáctico
Ngc 5316. Também em Centauro e desta vez mais próximo, mas não tão próximo de
Beta Cen. Navegando pela buscadora não
chego a perceber nada. Mas desconfio e parto para a ocular (25 mm). Percebo um
grupo de estrelas e apesar de inseguro decido tratar-se de 5316.
O nome deste post inclui “Uma comédia de Erros...”. Foi
quase nome e sobrenome.
A foto abaixo é de um asterismo que se localiza próximo
de Ngc 5316. Mas evidentemente não é ele. Não é nem aglomerado. Em poucas
pesquisas vejo a clara diferença entre os dois.
![]() |
Se percebe claramente a poluição luminosa como um bafo cor "vapor de sódio"... |
Asterismos
são agrupamentos casuais de estrelas. Este em particular é uma descoberta de José Eustaquio do Nascimento e Islas. Se chama o “ Aglomerado do Pescador”.
E isto é tão verdade quanto uma história de pescador.
Vocês sabem qual é o único animal que cresce depois de
morto?
O
mapa abaixo apresenta exatamente o que a foto mostra acima. E liquida a
fatura...
![]() |
O "Aglomerado do Pescador" |
Mas nas derrotas, eventualmente, se aprende mais que nas
vitórias. E podemos perceber que o alinhamento polar melhorou muito nas fotos
do fictício asterismo descoberto pelo imaginário astrônomo. Assim como a
colimação do telescópio.
A ilustre desconhecida HIP 71438 foi promovida a “
Estrela Poalrar Austral”. Pelo menos aqui em casa...
P.S. Fiz algumas testes capturando imagens em RAW. Não funcionou. O Deep Sky Stacker apresentou umas fotos muito doidas e completamente fora dos padrôes. embora as imagens me parecessem normais quando as abri no computador. Após o empilhamento elas ficaram assim:
P.S. Fiz algumas testes capturando imagens em RAW. Não funcionou. O Deep Sky Stacker apresentou umas fotos muito doidas e completamente fora dos padrôes. embora as imagens me parecessem normais quando as abri no computador. Após o empilhamento elas ficaram assim:
Fiz dark frames em RAW também. Tentei vários settings e sempre este estranho resultado. Continuo sem entender...
De qualquer forma gostei da possibilidade de poder "bater o branco" nas fotos depois da captura através do "Digital Photo Professional". E assim me livrar daquela cor " Vapor de Sódio". O recurso só é oferecido para fotos capturadas em RAW.
De qualquer forma gostei da possibilidade de poder "bater o branco" nas fotos depois da captura através do "Digital Photo Professional". E assim me livrar daquela cor " Vapor de Sódio". O recurso só é oferecido para fotos capturadas em RAW.
Nenhum comentário:
Postar um comentário