Semana
Santa. A Lua ainda quase cheia...
Com
meu irmão viajando a casa de Buzios vai estar vazia. E eu rapidamente começo a
imaginar as possibilidades. Após um rápido dialogo estamos a caminho do posto
avançado e dos céus mais escuros da Região dos Lagos. Mesmo com a lua cheia o
céu em Geribá é muito mais generoso que o do Rio de Janeiro.
Estamos
dentro do carro eu, a cara-metade, minha filha, sogrinha e sogrão. Poderia
dizer que será uma viagem “astronômico familiar”. E desta forma o “Newton” fica
(um refletor 150 mm) e embarcam juntos “Galileo” (um reftator 70 mm) e meu
binóculo 15X70 mm. Assim evito ter que amarrar o “Caixão de Newton” no teto do
veiculo e mantenho a cara-metade na zona de conforto.
Ao
contrario da previsão a estrada esta vazia e em pouco tempo chegamos ao
destino. Depois de descarregar tudo começa o feriado.
Dizem
que observação e “birita” não se misturam. É verdade. Mas também não devemos
ser dogmáticos. Foi um encontro interessante o de meu binóculo 15X70 com uma
garrafa de “Grants”. Depois de ter derrubado (com um grande auxilio de meu
sogro) algo como metade da garrafa eu me encontro sozinho debaixo do céu. Este
que se encontrava parcialmente nublado limpou na madrugada.
Saturno
e planetas em geral não são grandes amigos de binóculos. Mas o Skymaster não
faz feio. O planeta me faz lembrar Galileu, que descreve Saturno como se
possuidor de orelhas. Percebo um disco acompanhado de alguns apêndices que
recordam um formato discoide abaixo deste. Titã não se mostra. HIP 71469 e mais
algumas estrelas de campo se apresentam emoldurando o Senhor dos Anéis. Faço um esboço no envelope de meu extrato bancario...
A coloração é bem mais amarelada... |
Passeando
pelo horizonte norte-nordeste eu me deparo com uma nebulosa bastante evidente.
Mas aí começa a história de que álcool e observação não se misturam. O formato
evidente era de uma nuvem. Ou eu estaria vendo uma galáxia que depois de muitas pesquisas
poderia ser Ngc 5812. Mas galáxias de 11ª magnitude não gostam de se apresentar
para binóculos e muito menos em noite de lua cheia.
A
madrugada ia avançada e eu me viro para o Sul. Já era bem tarde mesmo e eu
começo a passear por campos que, em geral, se visitam mais a frente no ano. A
fronteira Escorpião- Sagitário.
Pescar
por essas águas é sempre sensacional. De binóculos então é sempre fartura.
Nunca sei exatamente onde vou chegar.
Desta
vez (e quase sempre...) começo por M7. Ele é um alvo binocular por excelência e
começa o show. Se resolve em grande estilo. Enche a rede e se não chega a transbordar é
porque o 15x70 tem um campo de cerca de 3º. O “Aglomerado de Ptolomeu” não teme
a Lua.
M6
é caminho obvio a partir daí. E o “Aglomerado da Borboleta” apresenta seu
“shape” característico se resolvendo parcialmente. Adoro abertos que se
resolvem parcialmente. As estrelas que não se resolvem dão um clima enevoado ao
conjunto que é muito agradável ao olhar...
Eu
sei que ao redor destes dois famosos aglomerados abertos habitam diversos
outros menos populares. E assim fico escaneando pela região em busca de
esfuminhos. Um me salta claramente aos olhos e se destaca da patuleia. É Ngc
6416. Um esfuminho grande e um pouco a oeste de M 6. Preciso me lembram de
visita-lo com telescópio. Ele deve ser uma graça resolvido...
Depois
é só seguir a Via Láctea. E diversos DSO´s se rendem ao 15X70 mm.
M8,
M22, M21, M20 e diversos outros aglomerados (globulares e abertos) se
apresentam. Uns mais discretos e outros menos. Esta região é sempre
espetacular. E nem me dei ao trabalho de identificar cada um dos esfuminhos que
compareceram a minha navegação etílica...
A
ultima parada é um clássico: M11 “O aglomerado do Pato Selvagem”. Finalmente sou vencido pelo cansaço e pelo goró. Me retiro.
Já
na sexta feira vai entardecendo e o céu se apresenta "empedrado” Não chega
a ser inspirador ainda que permita algumas fotos de caráter mais artístico que
astronômico...
De
qualquer forma percebo que o horizonte sul vai se tornando mais claro e menos
“empedrado”. E assim coloco o “Galileo” na montagem EQ 3-2 que se revela muito
mais sólida com ele que com o meu telescópio maior (o que é obvio...). E
preparo também a câmera em seu tripé. Com a família reunida eu não via me
dedicando plenamente a “Arte Difícil”. E assim preparo-me para realizar algumas
fotos de campos estelares e de constelações. E de quebra observar alguns
“blockbusters” pelo “Galileo”.
Fiz
um alinhamento polar seguindo mais os instintos que propriamente o bom senso.
Não
sou um cara com paciência para o método do “drift”. E assim, em geral, utilizo
Sigma Octans como minha guia. Deixo o telescópio e a montagem o mais no
esquadro possível e utilizando a própria buscadora do telescópio alinho o
conjunto. Centralizo Sigma na Buscadora e depois dou um pulinho para lá e dois
para cá e voilá. Às vezes fica melhor às
vezes pior. Mas em todo caso estou com um setup que vai me permitir exposições
entre 15 e 30 segundos sem muitos rabiscos no produto final. E não levo mais
que 15 minutos para tal. Acho que nunca publicarei fotos na Galeria dos
Leitores da Astronomy.
Faço
varias fotos do Cruzeiro do Sul com a câmera no tripé. E depois do campo
próximo a Alpha e Beta Centauros. Por
fim faço uma exposição da região onde reside Omega Centauro. Todas utilizando
minha 75-300 mm @ 75 mm .
Fazer
fotos desta forma é bem divertido e com a 70 mm consigo fazer exposições de até
20 segundos mantendo o rastro das estrelas aceitáveis.
Meu
sogro fica curioso sobre o que estou fazendo. E porque de tantas exposições
aparentemente idênticas. Eu explico que em astrofotografia as fotos , embora
digitais, te que ser submetidas a “revelação”. E que estas serão “empilhadas” e assim obterei mais
detalhes.Ele parece não entender. Ou não dar a mínima. Ou os dois.
Ainda
bem que não falei na tal “razão
sinal-ruido”...
.
Na foto do Cruzeiro consigo perceber diversas estruturas. Ngc 4755 é evidente
abaixo da Mimosa (Beta Crux). Logo acima de Acrux percebe-se claramente Ngc
4349. No canto da foto 3766 é claro. E se prestando atenção diversos outros
DSO´s se escondem na paisagem. O Saco de Carvão é que não se apresenta.
Outro
detalhe interessante nesta foto (na verdade fotos) é que elas foram “reveladas”
de formas distintas. Em ambos os casos foram
empilhadas 15 fotos de 20 segundos de exposição (as mesmas fotos...). A
diferença é o software utilizado. Na primeira foi utilizado o Deep Sky
Stacker.. Este, em tese e também na pratica, mais poderoso que o Rot n´Stack.
Mas novamente percebo que o RnS preserva melhor as cores. O DSS parece gerar
uma imagem em escala de cinza. A Rubiácea (Gama Crux) é um excelente exemplo
desta diferença. Repare nas fotos.
![]() |
Deep Sky Stacker Rot n´Stack |
Omega
Centauro se apresenta claramente em uma única exposição de 20 segundos com a zoom @80 mm.
Depois
disto apresento a “Caixa de Joias” (Ngc 4755) para o sogrão com 52X de aumento:
- Incrivel. Um triangulo perfeito!
E rapidamente retorna para a garrafa de
“Grants”.
Como já estou brincando de astrofotografia com minha "zoom barata" faço algumas fotos da região de Alpha e Beta Centauro.Com atenção e boa vontade você vai perceber Ngc 5662, 5316 e 5281. Todos aglomerados abertos discretos e entre 5a e 6a Magnitude. Vai perceber também que entrou luz pela lente adentro...
Logo
resolvo tentar a sorte com meu alinhamento polar tabajara e faço algumas
exposições de Omega Centauro através do “Galileu”. Ele definitivamente poderia estar
melhor. Mas Omega é um gigante e é sempre um bom modelo. Uma dica: sempre que
você conseguir perceber as Letras C e H impressa por sobre e em meio ao Gigante é porque o
alinhamento polar não estava lá essas coisas. Já percebi isto em diversas
fotos. Minha e de outros... Nas fotos individuais o efeito é claro. Na
empilhada o erro se disfarça. Definitivamente o “Newton” tem mais poder de fogo
e melhor qualidade que meu pequeno refrator.
Uma exposição ( o efeito descrito não é claro devido a compressão do Blogger) Muito semelhante ao que se vê na buscadora e em binóculos. A lua ainda vai bem cheia... |
![]() |
15 exp. de 25 seg. Rot n´´ Stack. É mais uma licençaa poética que um registro... |
Depois
disto não poderia deixar de fazer algumas fotos da lua. É fácil e sempre ficam
bonitas. Desta vez as nuvens ainda brincavam e consegui diversos efeitos de luz
e sombra por sobre a superfície lunar.
Depois
disto me rendi novamente aos chamados de Baco e abri uma cerveja. E depois
outra. E depois o “Grants”...
Já
mais do lado ébrio da vida fiz algumas fotos da região que tinha visitado na
madrugada da véspera (Sagitário-Escorpião) e com o céu “empedrado” consegui
alguns resultados senão bons pelo menos diferentes. ( A compressão do Blogger novamente atrapaha um "pouco")
Sabadão
choveu a cântaros...
Astronomia
não tem que ser um fim em si mesmo. E tem de ser divertida. E desta forma o
foi. Em um passeio com a família eu não poderia deixar a minha fixação dominar
o ambiente e me tornar um cara antissocial. Um péssimo habito é querer manter
todos no escuro. Mas mesmo sem realizar a operação “by the book” é possível obter
resultados bastante interessantes e ainda apresentar a pratica astronômica a
quem não é e nem deseja ser do ramo.
No
domingo já nos preparávamos para entrar no carro. Sogrão e Sogrinha na maior água
e o céu de repente abre. Não sei o que vejo. Depois descubro... faço uma rápida
série de fotos do que deve ser o campo ao redor de Procyon. De novo com a
75-300 @ 75 mm. Não é exatamente um espetáculo. Com o Logaritmo do modo sort no
Rot n´Stack ( já disse em algum lugar que este modo foi feito ou pelo Wharol ou
pelo Miró) aparece algo no mínimo “estelar"...
Astrofotografia
em familia...
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