Ngc
6242 é mais um daqueles injustiçados celestes. É um brilhante aglomerado aberto
que estivesse em qualquer outro lugar seria sempre lembrado com uma maravilha galáctica. Mas para seu azar ele se encontra muito
próximo e ao mesmo tempo suficientemente distante de uma das mais dinâmicas áreas
da região de Escorpião na via láctea. Na verdade a região da cauda de Escorpião
e seu vizinho Sagitário são lar de mais tesouros que qualquer outra no céu. A região especifica que onde se esconde 6242 é
conhecida como a associação OB1 de Escorpião. Esta esparramada família de
estrelas jovens marca a locação da gigantesca Região H-II no Braço Galáctico de
Escorpião-Carina.
Esta
área inclui maravilhas como Zeta1,2(z1,2)
Scorpio
e o objeto que mais se parece com um cometa (a olho nu) em todo o céu: Ngc 6231
sendo seu núcleo e Trumpler 24 sua cauda.
Pouco
mais de 1º ao norte desta maravilha reside Ngc 6242. Suficientemente distante para você elimina-lo
da paisagem em prol das atrações mais proeminentes.
6242
é outra descoberta do Abbe Lacaille durante seu pioneiro levantamento telescópico
do céu austral realizado entre 1751 e 52. Ele é a entrada de numero 10 da
classe I de seus objetos. Lac I 10. Isto faria dele uma nebulosa sem estrelas. Fica
claro como eram modestos os telescópios de Lacaille. Mesmo com meu binóculo
10X50 eu resolvo algumas estrelas no aglomerado.
Lacaille
mesmo diz: “... é possível que todos os objetos nesta classe (I) sejam débeis cometas.
O tempo não me permite, em procurando pelo céu, retornar a todos os objetos e
verificar se eles permanecem no mesmo lugar.”.
Como
não tenho problemas com o tempo posso me deleitar calmamente com Ngc 6242. Em um primeiro momento ele se apresenta como
um esfuminho oval no qual os membros mais brilhantes pipocam facilmente com
pouquíssimo esforço em meu 15X70 mm. Percebo algo como uma dúzia de estrelas
empacotadas que residem sobre uma névoa de sóis mais distantes.
Utilizando
o “Newton” (meu refletor de 150 mm) e 40X de aumento ele se resolve quase completamente.
Seu núcleo apresenta a forma de um “x” e
a leve nebulosidade restante se resolve como vidro moído com o uso de visão
periférica. Com mais ampliação ele se resolve plenamente e conto cerca de 70
estrelas.
Uma
brilhante estrela amarela se localiza ao sudeste do aglomerado. Ela não é
membro do aglomerado e se encontra 1000 anos luz mais próxima que suas
companheiras. O Aglomerado em si se encontra 2500 anos luz mais próximo de nós
que os mais famosos 6231 e Trumpler 24 que formam o falso cometa e que residem,
de fato, na associação OB1 de Escorpião. Mas todos eles habitam o braço
interior ao nosso na Via Láctea.
Ngc
6242 é “apagado” em cerca de meia magnitude pela poeira interestelar. Isto é
comum devido a se localizar próximo ao plano galáctico. Assim podemos situar Ngc 6242 a 3600 anos luz
do sol e calcular que ele possua 9,5 anos luz de ponta a ponta.
Apesar
de eu contar quase 70 estrelas o aglomerado possui apenas cerca de 23 membros.
Os outros são estrelas de fundo
A
idade calculada do aglomerado é de 50 milhões de anos. O que pode ser
considerado bem maduro para um aglomerado deste tipo. Suas estrelas mais maciças
já tiveram tempo para tornarem-se supernovas deixando para trás apenas o
modesto grupo que citei.
Um
mistério ronda nosso convidado e refere-se ao conflito entre as observações dos
pioneiros (e armados de telescópios bem mais poderosos que o Abbe...). John Herschel
e James Dunlop.
Herschel
em sua segunda observação, com um refletor de 450 mm, reporta uma estrela
avermelhada de 8ª ou 9ª magnitude no centro do aglomerado.
Dunlop
anteriormente (1826) descreve o aglomerado como muito comprimido em direção ao
centro, mas não nota nenhuma cor.
Na
sua terceira observação Herschel aponta novamente uma estrela central, mas
desta vez não fala em cor.
Mesmo
fotos a cores recusam-se a mostrar cor nas estrelas centrais de 6242.
Mais
interessante ainda é que nenhum dos dois se refere a evidente estrela amarelada
no limite sudeste do aglomerado.
É claro
que olhos diferentes veem cores diferentes. Mas o caso nunca foi bem explicado.
Mas
como já foi dito olhos diferentes vêem cores diferentes e localizei diversas
observações de astrônomos respeitados (Steve Coe, Luginbuhl and Skiff) que não
percebem cor em nenhuma estrela . O´Meara percebe o mesmo tom
amarelado que eu na estrela sudeste.
Visite
este belo aglomerado e veja as suas cores... Ou a ausência delas.
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