Mas
enquanto observar a colisão de Estrelas de Nêutrons e confirmar a existência de ondas gravitacionais (e a
relatividade) seja algo inalcançável para astrônomos amadores (dá para tirar
uma casquinha aqui: https://www.ligo.caltech.edu/page/press-release-gw170817
) , ,mesmo que milionários, M 31 é um alvo ao alcance de qualquer mortal. Mesmo
sem telescópio ou sem residir no meio de um deserto. A Galáxia de Andrômeda é o
objeto mais distante visível a olho nu de nosso planeta para 99,99% da população.
Uma pequena parcela dos outros 0,01% vão se digladiar entre M 83 e o par
galáctico formado por M 81 e M 82. Difícil acreditar. M 33 que é apenas um
pouco mais distante que M 31 é possível, mas, somente em locais extremamente escuros,
para olhos bem acostumados e que saibam onde e pelo que procurar (evidentemente
sendo você um membro da parcela realista daqueles 0,01 % da população mundial e
que já gastou inumeráveis noites tentando capturar M 83 a unha).
Mas
como em fim consegui um registro fotográfico aceitável de M 31 (as coisas estão
ficando difíceis para astro fotógrafos amadores “duros”. Sem sistema de
acompanhamento e sem câmera dedicada tá complicado de acompanhar a evolução da
coisa...) resolvi aproveitar as coincidências e apresentar uma das Grandes
Damas do Céu. Confesso que há tempos aguardava por esta oportunidade. Não sem
receio. M 31 é um marco para qualquer amador e uma das mais longas histórias
que habitam o céu. Uma dama que merece respeito e completude.
Durante
a primavera o horizonte norte do céu conta uma das mais conhecidas e belas
histórias nos legadas pelos gregos. Não à toa já foram realizados diversos
remakes Hollywoodianos da mesma. Recordo-me garoto da imensa fila que peguei
para ir (creio que pela primeira vez sozinho) ver no Cinema Leblon a versão de
1981 de “Fúria de Titãs”. Neste uma
versão pouco fiel da mitologia é contada. Na lenda grega original Cepheus (da
bela “Estrela Carmim” Mu Cephei) se vê obrigado a dar sua filha Andromeda em
sacrifício para salvar seu reino do terrível monstro Marinho (na versão cinematográfica
o Kraken) que é representado pela constelação atual de Cetus (de M 77 e Mira)
devido as bobagens e ofensas feitas por sua mãe, Cassiopéia (uma constelação
cheia de aglomerados abertos e muito baixa no horizonte do sudeste do
Brasil...) às Nereidas (Filhas de
Poseidon). Perseu (constelação lar de M 34) desafia Poseidon para salvar a
princesa e no caminho mata a Medusa (representada nos céus pela estrela
variável Algol) amansa o Cavalo Alado Pegasus (outra constelação cheia de
galáxias escondidas) e salva Andrômeda.
Ao
olhar-se para o horizonte norte no mês de outubro um dos asterismos mais
evidentes será o “O Quadrado de Pegasus”. Formado pelas estrelas Markab, Scheat,
Algenib e Alpheratz (esta é na verdade Alfa Andromeda) é fácil perceber a nordeste da última um pequeno esfuminho. Uma “pequena nuvem”. É M 31. Não é difícil imaginar uma linha ligando as estrelas
que formam a constelação de Andrômeda como o penhasco onde nossa pequena e
branca dama se encontra acorrentada e entregue a seu destino. E menos ainda o
Cavalo Alado se aproximando por cima deste com Perseu indo em seu resgate.
Bem... Talvez seja necessária alguma imaginação. Mas com o tempo você vai se
acostumar. Há milênios boa parte da humanidade o faz. É interessante ressaltar
que a princesa embora branca era de onde hoje se encontra a Etiópia. Jodi
Bowker a representou na versão primeira do cinema.
A
história de M 31 é uma das linhas mestras por onde evolui tanto a tecnologia
como o conhecimento astrofísico da humanidade.
Embora
seja evidente que em tempos pré-telescópicos (e antes da luz elétrica) a
pequena nebulosa era claramente visível e deve ter sido percebida por nossos
antepassados desde a pré-história não existem registros evidentes destas na
maior parte das culturas e civilizações antigas.
As
descrições e explicações antigas dos fenômenos astronômicos e/ou celestiais
eram em parte mito em parte teologia. Os céus eram vistos como um playground
dos Deuses. Em quase todas as culturas as constelações, padrões de estrelas
brilhantes e planetas eram Deuses ou Entes Mitológicos lá colocadas por ordem
de um Deus maior. No Caso de Andrômeda por Zeus... Neste cenário nebulosas,
novas e supernovas fogem muito do status quo e da ideia de um céu eterno para
serem levadas em conta. E assim M 31
ficou relegada a apêndice ou nem mesmo a isto entre os “primeiros astrônomos” (que
eram mais conhecidos como astrólogos...).
Antes
da invenção do telescópio mesmo nos grandes “observatórios” (como Uraniborg de
Tycho Brahe) ninguém podia ter uma visão ampliada da Lua e suas crateras. Júpiter
era uma “brilhante estrela” que caminhava de forma errante pelo firmamento, mas
não possuía luas. Vênus não apresentava fases... O céu era limitado ao que os olhos podiam
ver. A grosso modo (e para 99,99% da humanidade) isto significa estrelas de até
6a magnitude. Um local
pequeno e nebuloso de 4a magnitude não seria exatamente foco de
muito debate ou de vários registros.
Além
do gregos diversas culturas nos deixaram registros de estarem familiarizadas
com a região do céu aonde habita nossa grande dama. Em petróglifos de diversas
etnias indígenas norte americanas as regiões que incluem as atuais constelações
de Perseu, Cassiopéia, Pegasus Leão e consequentemente Andrômeda apresentam registros.
Os chineses, egípcios e outras culturas pré-históricas também conheciam bem a
região e deixaram registros disto. Mas da nebulosa em si não.
Há,
entretanto, uma possível referência a esta em uma taboa babilônica datada de
algo entre 2500-3000 A.C. Nesta existe fala-se de uma constelação semelhante a
um veado ou a um cavalo. Isto parece semelhante a Pegasus. Esta tabua então faz
referência a “estrelas empoeiradas que estão nas tetas do Cavalo” Supõe-se que
esta seja a primeira referência conhecida de M31. E que o cavalo visto pelos
babilônicos era uma égua...
Embora
os gregos tenham criado a lenda não existem descrições ou relatos gregos sobre
as constelações ou sobre a nebulosa.
C.M. Bowra, diretor do Colégio Wadham em Oxford, no seu “A Experiência
Grega” ressalta que os Gregos, que deram a humanidade os seus mitos mais bem
imaginados, tornaram-se eles próprios quase um mito... Quase tudo quanto é
helênico foi tão transfigurado, através de séculos inteiros de louvores, que é
difícil ver os gregos com um olhar puro ou conhecê-los como realmente foram. O
processo começou na altura em que os Romanos, conscientes de seus princípios,
um pouco rudes, elevaram os Gregos à categoria duma raça de artistas e de
filósofos e não foram capazes de ver que a arte e a filosofia não podem ser
totalmente compreendidas, separando-as das condições que a criaram.
Desta
forma a donzela de nosso mito tem sua descrição Grego Romana feita
provavelmente por um romano e não por um grego... O Poeta Festus Avienius (circa 400 A.C.) fala
de uma constelação acorrentada e cita que nuvens finas amarram seus braços com
nós torcidos”. Avienius traduziu para o latim o texto de Aratus (270 A.C.) “O Céus e Previsões do Tempo” onde este
apresenta todas as constelações. Mas apesar de apresentar claramente as Plêiades
nada é dito sobre M 31 embora toda a constelação seja citada.
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Al Sufi |
Para
desespero da bancada evangélica o primeiro registro acima de qualquer dúvida de
M 31 cabe a Al-Sufi (astrônomo muçulmano...) em seu “Constelações de Estrelas
Fixas” (964 D.C.) Em sua representação da Constelação de Andrômeda ele inclui a
nebulosa como as narinas de um peixe. Ele chama M 31 de “pequena nuvem”.
Posteriormente
na versão latina (a versão original não a cita) do Almagesto de Ptolomeu uma
mulher e um peixe são novamente utilizadas para representar a constelação e M
31 é representada não pelas narinas do peixe, mas como uma pequena mancha logo
abaixo do nariz.
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Almagesto Latino |
Durante
a Idade média a região foi diversas vezes citada como “um local nebuloso”. Um
mapa holandês de 1500 destaca sua existência, mas nada é dito a respeito. Hodierna,
Astrônomo da corte do Duque de Montechiaro, carrega a honra de ter redescoberto
a Galáxia de Andrômeda e ter escrito o que pode ser considerado o Primeiro
catalogo de Nebulosas da Humanidade. De
Admirandis Coeli Characteribus. Neste ele divide as nebulosas em três
categorias: Luminosae, Nebulosae e Occultae.
M 31 se situa na terceira. Isto em 1654.
A
primeira observação telescópica de M 31 é anterior a Hodierna e a “pole-position”
vai para Simon Marius na noite de 15 de dezembro de 1612. Sua descrição é bem acurada e semelhante ao
que se percebe em atuais telescópios de origem suspeita e pequenas
buscadoras. “parece com a luz de uma
vela sendo difundida através de um chifre (pratica comum na época) ...assemelhasse
a uma nuvem consistindo de 3 raios esbranquiçados, irregular e tênue.” A
descrição é bem descritiva e precisa.
A
história segue seu ritmo com o avanço da tecnologia e dos telescópios Cada vez
se percebem mais detalhes em M 31. Mas nada sobre sua real natureza.
Halley
a observa em 1716 e nos diz: “nada além de luz vindo de um extraordinariamente
grande espaço no éter, através do qual um meio luminoso é difundido e brilha
com seu próprio esplendor.”
Depois
disto chegamos a La Gentil em 1742 que destaca a existência da sua pequena
vizinha e que virá a ser M 32.
Messier
finalmente a inclui em seu catalogo em 3 de agosto ,1764. Nasce M 31. Em sua descrição
podemos perceber que já trata-se de uma nebulosa de grande reputação e bem
conhecida: “A linda nébula na cintura de Andrômeda, na forma de uma agulha de
fiar; M. Messier a examinou com diferentes instrumentos e não identificou
nenhuma estrela: Recorda dois cones ou pirâmides de luz opostas por sua base, o
eixo das quais se orienta na direção de Noroeste para sudeste; as duas pontas
ou vértices se encontram afastados 40 minutos de grau. E a base comum das
pirâmides 15 min. Esta nébula foi
descoberta por Simon Marius em 1612. M. le Gentil nos deixou um desenho desta
no “Memoirs de L´academie” de 1759.
Foi reportada no “Atlas Inglês” (?)”.
Por "Atlas Inglês" eu suponho que Messier se refira ao trabalho de Flamsteed " Atlas Coelestis"´de 1729. Realmente existe uma pequena marca no local onde habita a galaxia. Muito discreta e não esta nomeada. Na verdade o único DSO nomeado nos mapas de Flamsteed é M 45 (As Plêiades).
Cabe uma duvida se Messier não se refere neste momento ao mais raro Uranographia Brittanica onde também esta claramente marcada a nebulosa. E é fato notório que Messier teve acesso a este devido a citação posterior em M 35 sobre o raro Atlas.
Por "Atlas Inglês" eu suponho que Messier se refira ao trabalho de Flamsteed " Atlas Coelestis"´de 1729. Realmente existe uma pequena marca no local onde habita a galaxia. Muito discreta e não esta nomeada. Na verdade o único DSO nomeado nos mapas de Flamsteed é M 45 (As Plêiades).
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Logo a direita de v andromedae já fora do desenho da Princesa. |
Posteriormente Herschel a observa e denota que “as estrelas que estão espalhadas sobre a mesma parecem estar atrás da mesma e perdem parte de seu brilho ao passar pela nebulosidade”. O grande Herschel não captura a verdade. As estrelas de campo são membro de nossa galáxia e encontram-se muito a frente desta.
Finalmente
Lorde Rosse, antes ainda de seu “Leviatã de Parsontown”, faz em 1871 o primeiro desenho
onde percebe-se claramente uma região central envolta em braços espirais.
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Lorde Rosse desenho. |
Então,
no final do século XIX, a forma de M 31 emerge e juntamente com esta as
“nebulosas espirais” que vão ser palco de muita controvérsia e pedras
fundamentais para o entendimento das dimensões e forma do nosso universo como
hoje o conhecemos. M 31 será a mais fundamental destas pedras. É a “Nebulosa
Espiral” mais próxima. É bom realçar que neste momento ela ainda não é
entendida como uma galáxia.
Até
1920 ainda não se tinha certeza ou prova que o universo não consistisse de
apenas uma galáxia. No caso a nossa Via Láctea. A idéia de universos ilhas já
caminhava entre nós a muito tempo. Giordano Bruno que o diga. Mas as mais
consistentes idéias em defesa de que o universo era muito mais amplo do que
imaginavam os astrônomos do final do século XIX e começo do XX (e quase todos
antes disto) foram formuladas por Kant em seu “História natural universal e Teoria
do Céus”. Neste ele defende que muitas de nebulosas que existiam nos céus eram
sistemas iguais ou semelhantes a nossa Via Láctea. Isto em 1755. Kant é
profético em suas previsões e propõe a existência de planetas além de Saturno
27 anos antes de descobrirem Urano. Sua ideia de Universos ilhas como outras
galáxias só se confirma nos anos de 1920... Não é à toa que muitos consideram
seu “Crítica da Razão Pura” (1781 e depois 1787) o livro mais importante já
escrito no Ocidente.
De qualquer
forma no final do século XIX era consistente com as observações acreditar que o
universo era composto por uma única galáxia e que a equação “Via Láctea=
Universo” seria verdadeira.
Na verdade, a
Teoria de Kant foi batizada de “Teoria dos Universos- Ilhas” por ninguém menos
que Edwin Hubble. Foi este que acabou de vez e provou que o universo era
composto de diversas galáxias e que este era muito maior do que jamais sonhou a
vã filosofia. E M 31 esteve na linha de
frente de todo este processo.
Mas de volta
ao final do século XIX William Herschel foi um dos primeiros a realizar um
estudo intensivo sobre nebulosas (juntamente com sua Irmã Caroline descobriu
mais de 2400 DSO´s) e entre estas estava M 31. Inicialmente ele concordava com
a maioria e acreditava que todas as nebulosas eram constituídas de estrelas e
dado o equipamento necessário seriam resolvidas em estrelas (uma ideia que
perseguiu a muitos desde Galileo). Eventualmente ele concedeu que talvez
algumas nebulosas fossem parte gás. M 31 seria um destes casos. Mas mais
importante ele calcula uma distância para a “Nebulosa de Andromeda”. De acordo
com ele esta não estaria mais distante que 2000 X a distância de Sirius (Alfa
Canis Majoris), a estrela mais brilhante do firmamento.
Smith, em seu
“The Cycles of Celestial Objects – Volume II- The Bedford Catalog” de 1881
dedica 3 páginas a M 31. Numa destas ele nos fala: ...Sir William Herschel, o Príncipe
entres todos os examinadores da construção dos céus, nos dá um rígido
escrutínio sobre este fenômeno e conclui que esta é a mais próxima de todas as
grandes nebulosas. “Sua parte mais brilhante” ele nos diz, “ aproxima-se da
nebulosidade resolvível e começa apresentar uma tênue coloração vermelha; a
qual após diversas observações da magnitude e coloração da nébula me faz
acreditar que indica que a parte mais colorida não exceda 2000 vezes a
distância de Sirius”. Que não exceda esta distancia! Isto é tão distante de nós
que a luz viajando190.000 milhas em um segundo de tempo ou doze milhões de
milhas em um minuto vai requerer mais de 6000 anos para atravessar tão medonho
intervalo. Para as velocidades terrestres, tão comumente citadas, a bala de um
canhão , com seu passo de 500 milhas por hora não teria a chance de percorrer
tal espaço e menos de 9 ou dez milhões de anos. O que tão esmagadora ideia nos dá sobre a
surpreendente mente do Todo poderoso.
Apesar de
infinitamente pequena a distância calculada por Herschel é um aumento tão
grande para a percepção geocêntrica e cristão do final do século XIX que chega
a chocar. As distancias universais começam a ser medidas em anos luz no lugar
de milhas ou quilômetros... O universo começa a expandir-se novamente.
Astrônomos
hoje em dia referem-se a M 31 como a Galáxia de Andrômeda. A M 33 como a Galáxia
de Triangulo. A M 83 como “A Galáxia do Cata-vento Austral. E não mais como
Nebulosas. Entre as ideias de Herschel, a constante de Hubble e o universo em
expansão aconteceram alguns fatos notáveis.
A primeira
delas foi a descoberta por Henrietta Leawitt da relação entre período e
luminosidade de uma classe de estrelas conhecidas como “Variáveis Cefeídas” que
permitiu que se pudessem medir distância estelares que estavam muito acima do
método por paralaxe. Este pode até funcionar para objetos próximos como Sirius.
Mas não para as “nebulosas espirais”. Na verdade, sua descoberta vai selar a
sorte deste termo e transformar estas em galáxias... A tecnologia e os telescópios neste momento
ainda não tinham poder de fogo suficiente para resolver estrelas em Andrômeda.
Mas ela consegue perceber variáveis nas muito mais próximas nuvens de
Magalhães. E descobre que quanto maior é o período entre o brilho máximo e o
brilho mínimo e variáveis Cefeidas, maior é o brilho absoluto da mesma. Resta descobrir a distância de uma cefeida próxima
o suficiente para se utilizar o paralaxe e “shazam” ... Temos uma vela padrão para medir distancias
estelares maiores que as permitidas até então.
Em 1920
0correu o “Grande Debate” entre Curtis e Shapley. Um (Shapley) defendendo uma
imensa Via-Láctea enquanto o outro apoiava a ideia de universos ilhas. Shapley
alega que se distantes estrelas (novas) forem de fato conectadas as nebulosas e
possuírem brilho semelhante as estrelas de nossa galáxia isto implicaria que M
31 teria de estar ao menos 1.000.000 de anos luz de nós e esta possuiria ao
menos 50.000 anos luz. Ele considera os valores impossíveis.
Ele não
poderia estar mais errado. Embora o debate não tenha sido conclusivo a
tecnologia ia resolver a questão e sendo a astronomia uma ciência a observação e
a tecnologia iriam resolver de vez a questão.
George Hale
foi o nome por trás da construção do Telescópios de 60 e 100 polegadas de
diâmetro localizados no Mont. Wilson. Hubble pôs as mãos nestas belezinhas
durante os anos 20. Sua dissertação era sobre astrofotografia e nebulosas. Ele
se beneficiou da evolução das películas bem como do maior poder de fogo do
telescópio de 100 polegadas concluído em 1917. Somando-se isto aos céus do
Monte Wilson na época e as cefeídas de Henrietta não demorou muito para ele
fotografar estrelas na “Nebulosa de Andromeda”.
Em outubro de 1923 tirou uma foto com 40 min de exposição de M 31. Achou ter descoberto mais uma Nova e marcou
com um “N” ao lado da foto. Depois o fato foi se repetindo e em vez de marcar
com um “N” ele marcou com “Var”. (Variável). Fotografou as primeiras cefeidas
em uma nebulosa espiral. Estas viraram galáxias e o universo se expandiu muito.
Apesar de um erro de cálculo posteriormente corrigido Hubble descobriu que M 31
se encontrava a pelo menos 900.000 anos luz. Era uma nebulosa extragaláctica.
Ou melhor, outra galáxia. Anos se passaram, as contas foram melhorando, a
tecnologia também e Hubble descobriu que o Universo não só era maior do que se
imaginava como estava se expandindo. E tudo começou fotografando M 31.
Para
o astrônomo amador que reside em local de forte poluição luminosa M 31 vai se
apresentar junto a buscadora como um grande globular sem nenhum sinal de
resolução. Na verdade, você vai perceber somente seu núcleo. Mas este é muito
resistente a poluição luminosa e será facilmente percebido mesmo em locais de
extrema poluição luminosa. Esta será percebida a olho nu mesmo em subúrbios
claros (Bortle 7). Navegar até ela é muito fácil e com o auxilio de qualquer programa planetário ou atlas celeste mesmo o iniciante chegará facilmente a esta mesmo em cidades grandes. É um alvo ótimo para binóculos.
Entre
as observações modernas de M 31 a que mais me agrada e que considero a melhor e
mais realista foi apresentada por Luginbuhl & Skiff no seu “Observing
Handbook e Catlogue of Deep Sky Objects” (1990): “M 31 é um a grande, muito
brilhante galáxia do Grupo local. É visível a olho nu mesmo em noites medíocres
e com a luz do luar. Em locais escuros sua extensão apresenta um incrível
contraste com o primeiro plano estrelado. Uma muito tênue estrela (6.9) na sua
ponta sudoeste é um excelente teste para adaptação ao escuro e qualidade do
céu. Em condições ideais a galáxia se estende além desta; o que implica em
perceber-se uma extensão de 3 ½ o. Com um telescópio de 6 cm
apresenta-se um halo de 135´, mas o halo externo é fraco e não possui limites
definidos. O halo contém algumas fracas condensações, mas o núcleo se apresenta
liso e bem concentrado. Com 15 cm revela-se um halo de 120´´X20´ com um
pronunciado núcleo com 10´ de diâmetro. Uma faixa escuro a noroeste do centro
pode ser vista sem dificuldade com alguma bruma além desta. Com 25 cm o halo
possuirá 140´X40´. A região central do núcleo é bem circular e parece opaca no
centro como outros objetos que não se resolvem e com grande brilho de
superfície ( ex. M 87 em virgo) . A faixa escura do lado NO é mais distinta
conforme passa pelo núcleo mas é claramente visível se estendendo par sudoeste
e passando por duas estrelas alinhadas NE-SO. Cerca de 15´do centro. Duas
faixas mais indistintas são perceptíveis. Uma mais a NO e outra ao longo do
lado SE.” A descrição continua com um aparelho de 30 cm..., mas esta parte eu
vou passar. Começa ser possível percebere-se diversos globulares de M 31. Bem com agrupamentos estelares e regiões HII. Ngc 206 é o mais evidente destes e ao alcance de telescópios mais modestos.
![]() |
Desafios em Andrômeda. |
Não poderia deixar de apresentar como prova de que M 31 é um alvo perfeito para qualquer mortal sua apresentação no delicado "Astronomy with an Opera Glass" de Serviss. Neste ele nos fala: " Esta é a mais antiga ou a primeira a ser observada nebulosa e , colocada de lado a Grande Nebulosa de orion (M 42), a maior visivel deste hemisfério (norte). Claro que não muito deve ser esperado de um binóculo de ópera na observação de tal objeto; e ainda assim um bom binóculo , boas condições climaticas e a ausência da lua faz desta um belo espetáculo. Olhando de rabo de olho a nebulosa pode ser vista como uma tenue e fina luz muito alongada de ambos os lados de seu nucleo. " Curiosamente serviss fala também da supernova de 1885 mas afirma que esta não poderia estar fisicamente relacionada a nebulosa em si.
Observando
de Búzios em céus bastante poluídos pela iluminação publica a faixa escura a noroeste é
juntamente com o núcleo a parte mais óbvia e o detalhe mais difícil
discernível. O núcleo é grande e liso. É curioso Herschel ter achado este no
limite da resolução. Mesmo Hubble não conseguiu este feito. Isto coube a Walter
Baade já em 1944. Que se aproveitou de novas emulsões fotográfica bem como dos
apagões causados pela segundo guerra mundial. Há males que vem para bem...
M 110 é facilmente percebida visualmente. M 32 também, mas mais próxima a matriz e com alto brilho de superficie demanda atenção para não ser confundida com uma estrela de campo. Ngc 206 é apenas uma suspeita nas fotos.
Minhas
fotos aqui apresentadas são bem mais modestas embora se aproveitem de
tecnologias digitais que seriam impensáveis na época de Hubble. Com 32 minutos de exposições de 30 segundo
somadas consegui algum detalhamento mesmo sob céus bastante medíocres durante o
último feriado. As fotos aqui apresentadas foram realizadas na sexta feira 13
de outubro de 2017. O equipamento utilizado foi uma Canon T3 e uma lente Canon
EF 75-300 mm @250 mm. Montada sobre uma cabeça equatorial HEQ 5 pro da
SkyWatcher. Foram realizadas 63 fotos com 30 segundos de exposição e 1 com 1 minuto ( um total de 32 minutos de exposição) com ISO 1600 em RAW. Foram realizados também 15 dark frames para calibração das imagens. E diversos softwares foram utilizados no processamento destas (quase todos freeware) . Isto prova que M 31 apesar de toda sua importância histórica e
cosmológica (e também por isto) é um alvo ao alcance da maioria dos mortais.
Mesmo fora daqueles 0,01 % da população já citada. Céus escuros tem muito mais
peso que a dimensão de seu equipamento (evidentemente respeitando as leis da
física e o bom senso).
Espero revisitar M 31 em condições ideais ainda nesta primavera e realizar mais exposições e de maior duração. A vantagem de utilizar uma lente no local de meu telescópio é que os 1200 mm do "Newton" demandam alguma forma de acompanhamento. Já com 300 mm um bom alinhamento polar e um acompanhamento feito a moda antiga (utilizando o telescópio para guiar) exposições bem longas serão viáveis. Além de que cobrindo mais de 4 graus de firmamento meu telescópio não engloba toda galaxia e suas satélites.
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