Ritos
de passagem são celebrações que marcam a
mudança de status de um individuo
perante sua comunidade e /ou ele mesmo . São eles que marcam momentos
significativamente importantes na vida de uma pessoa.
Geralmente
são associados a praticas religiosa e/ou culturais. Entre alguns povos os
jovens , ao atingirem a puberdade, devem inserir sua mão em uma luva feita de
palha e recheada de formigas de fogo.
São
ritos de passagem comuns para um carioca
nascido no seculo XX:
Ø
A primeira comunhão
Ø
A primeira cerveja
Ø
A Primeira transa.
Depois
disto vem mais mais cerveja , mais sexo e finalmente o casamento e os filhos. O casamento e os filhos são
ritos de passagem que só terminam com o passamento do cidadão.
Assim como nas ditas culturas "mais primitivas" a astronomia também tem seus ritos de
passagem . Quem já viu um astrônomo de joelhos tentando chegar até a ocular
para observar uma obscura galaxia próxima ao zênite vai entender bem que a religião e a ciência podem ter um
parentesco remoto evidente.
Alguns
ritos de passagem para o Astrônomo Amador :
Ø
Identificar o Cruzeiro do Sul ( astrônomos
abaixo do equador...)
Ø
Observar a Lua com Telescópio.
Ø
Observar Júpiter , Saturno e os planetas em
geral...
Ø
Observar a Grande Mancha em Júpiter
Ø
Observar a Caixinha de Joias
Ø
Observar Omega Centauro
Ø
Observar a galaxia de Andrômeda
Ø
Aprender a realizar o alinhamento polar de uma
cabeça equatorial
O
alinhamento polar é algo como meter a mão na luva cheia de formigas. Você já
esta autorizado a pensar em
astrofotografia. Assim como a astronomia a astrofotografia é como um teatro da
vida. E assim têm seus próprios ritos de
passagem.
Na astrofotografia existe um importante rito de passagem: a compra do equipamento. Sem este não
tem brincadeira . Hoje em dia com um
investimento modesto você vai conseguir fazer fotos da Lua. Um pouco mais dos
planetas. Mais ainda vai poder fazer da Lua , dos planetas e de DSos mais
brilhantes. Mais grana vai conseguir
fotografar quase qualquer coisa.
Com o dolar a R$ 4,00 um pacote completo para astrofotografia vai
estar saindo por algo em torno de R$ 10.000,00. Talvez você consiga gastar um
pouco menos . Comprando tudo separadamente e declinando de um sistema de
acompanhamento... De uma olhada neste pacote oferecido por uma tradicional loja
brasileira. http://www.armazemdotelescopio.com.br/loja/index.php/telescopios/ed80azeq5asi120mc-detail . É sempre bom lembrar que uma boa montagem é
sempre uma boa montagem...
Acrescente aí o preço de uma câmera
DSLR low end e você estará apto a fotografar todos os ritos de passagem acima
citados ( O Cruzeiro do Sul , a Lua ( com detalhes...) Os planetas, a Caixinha
de Joias ( Ngc 4755) Omega Centauro , A Galaxia de Andrômeda , todo o catalogo Messier e muito mais...) .
Depois disto você pode novamente
tentar meter a mão na luva de formigas .
Você vai querer fotografar a Nebulosa cabeça de Cavalo em Órion.
O São Jorge extra-lunar . B33 e/ou IC
434.
Este foi um rito que durou anos
para mim. Uma espécie de vestibular onde levei pau diversas vezes.
Sendo uma foto que você vê em
diversas revistas , fóruns e paginas da web é possível que você acredite ser
uma tarefa simples. Mas conseguir fazer
esta foto é a culminância de uma longa curva de aprendizado. Um rito de passagem.
A tal curva de aprendizado a que me referi
acima se inicia no momento em que você começa ao observar frequentemente os
céus utilizando algum tipo de equipamento óptico. Ao longo desta curva você vai
passar por dois momentos muito importantes. Um é entender como funciona uma
cabeça equatorial e como funcionam os céus. Depois disto você vai sintetizar isto
em um rito de passagem chamado de alinhamento polar. Neste momento sua cabeça
equatorial , seja ela qual for , será capaz de acompanhar ( em tese) o
movimento dos astros sendo corrigida apenas em um eixo. Acho importante lembrar
que quanto melhor for sua cabeça equatorial mais fácil será realizar o
alinhamento polar e melhor será o acompanhamento das estrelas pela cabeça. Sei que é possível conseguir resultados muito
bons mesmo com uma cabeça equatorial Eq1. Especialmente em fotos com grandes
campos e utilizando-se lentes e/ou telescópios de pequena distância focal. No
meu caminho eu só comecei a obter resultados com um minimo de dignidade
utilizando uma Eq 3-2. A exceção são fotos da lua. estas podem ser realizadas
mesmo com tripés fotográficos utilizando-se até telescópios de grande distancia focal com
barlows ( Uma lente que "dobra" a distancia focal destes) .
Na minha batalha para fotografar a
Nebulosa Cabeça de Cavalo eu descobri que objetos tênues e de caráter mais
fotográfico que observacional implicam em tempos de captura muito maiores do
que utilizamos em DSO´s brilhantes e facilmente visíveis de forma visual. Desta
forma aprendi que uma cabeça com Go-to realmente ajuda muito a realização de
tais projetos. Importante dizer que o iniciante deve evitar iniciar seu caminho
utilizando-se de tal recurso. Ele deve aprender a navegar entre as estrelas ( o
prazer da caça..) antes de utilizar a tecnologia para fazer o trabalho por
ele.
Sempre que imagino a foto da cabeça
de cavalo me vem a mente uma imagem muito maior . Imagino sempre um quadro que
engloba a banda sul da constelação de Órion. Nesta foto se apresentam diversos
DSO´s. M 42, Running Man nebula, A nebulosa da chama e diversos abertos compõem
a cena. Destas a mais difícil de
"imprimir" é a Cabeça de Cavalo. também conhecida por B 33. O primeiro
a perceber esta nebulosa escura foi E. Barnard.
É atrás desta foto que vou desde
o começo.
Desta forma determino a escolha do
equipamento. Minha Cabeça de cavalo será fotografada utilizando minha zoom
70-300 mm. Assim poderei ter um caampo bem maior que com meus telescópios e uma
razão focal mais veloz.
Minha primeira tentativa foi ha
alguns anos atrás e o resultado abaixo demonstra claramente que falhei. Compareceram
diversos dos DSO´s citados mas nada da cabeça. Na verdade apenas M42 ( e 43) e
os abertos da região se apresentaram de fato. Posso suspeitar a presença da
Nebulosa da Chama. A foto foi feita com
minha Eq 3-2 com motorização em ambos os eixos.
Algumas dezenas de fotos com 30 segundos de exposição em 1600 ASA.
Depois deste fracasso minha Cabeça
de Cavalo foi para pasta de projetos futuros por um bom tempo.
Com a chegada de Mme. herschel e
com uma fatura de mais de R$ 3000,00 a ser paga achei que era hora de
justificar o investimento. Era hora de começar a fotografar as coisas que nunca
tinha fotografado.
Quando iniciei na astrofotografia
tinha estabelecido uma meta. Fotografar todo o Catalogo Lacaille. Com este "na lata" ( na verdade
falta M 83...) . Era a hora de partir para outro projeto. Desarquivei a Cabeça
de Cavalo.
No fim do ano de 2015 parti para
Búzios com tudo que precisava para tal projeto. Inclusive uma lua nova no céu.
Na noite da primeira tentativa eu,
ingenuamente, acreditei que a nova cabeça e sua maior capacidade de
acompanhamento fariam o truque quase sozinhas . Para garantir eu realizei 90
fotos com trinta segundos de exposição. ASA 1600. 45 minutos de exposição total. Metade de um jogo de futebol. Foi
pouco!! Muito para o que sempre
faço!!!
A preguiça é um pecado capital na astronomia também...
A noite não estava com uma boa
transparência e o tempo total de exposição não foi sequer próximo do que eu
necessitava. Mesmo a Nebulosa da Chama compareceu timidamente.
Na verdade capturar a Nebulosa da Cabeça
de Cavalo é capturar IC 434. Esta é a Nebulosa de Emissão contra a qual B33
aparece estampada. Na Verdade a Cabeça de Cavalo é uma nebulosa escura que
"apaga" IC 434 mais ao fundo. O nome é claro: Nebulosa escura. IC 434 é bastante tênue e
com uma grande área apresenta um brilho de superfície bem baixo...
Dois dias depois eu achei que a condição de transparência havia melhorado. Para garantir o sucesso achei melhor
realizar 200 exposições de 30 segundos .
Fiz 217 exposições de 30 segundos com
ASA 3200. Me ocorreu processar a Cânon
caso não arrumasse nada desta vez. Afinal a tal da eficiência quântica de meu
sensor deveria registrar até mesmo assombração desta forma.
Realizar centenas de exposições de
um mesmo objeto com uma cabeça equatorial implica em um outro problema
logístico e geografico. Ou todas elas acontecem antes
do objeto realizar seu trânsito naquela noite ou depois. Isto significa que ou
todas as fotos acontecem antes ou depois do objeto cruzar o Meridiano. Ou ele
esta "Nascendo" ou " se pondo". Claro que você pode realizar a operação em
dois ou mais dias. Não gosto da ideia...
Ao se observar uma única exposição
pode parecer que deu errado. Ou você fez exposições enormes que implicam em um
alinhamento polar perfeito , uma montagem sem erro periódico e mesmo assim um
sistema de acompanhamento que não possuo.
Como trabalhava com uma lente de 70
mm o erro periódico passava disfarçado . Mas o alinhamento polar teria que ser
digno. Ele foi! Não fui obrigado a corrigir o quadro nenhum momento , as estrelas estão redondas e
o DSS aceitou todos os frames.
O Plano foi começar cedo a fim de
ter o máximo de tempo antes de B33 cruzar o meridiano. Começando assim que o céu
se tornou escuro o suficiente para saber para onde olhava consegui ir de 20:50
até as 23:15. Entre capturas , intervalos e etc... foi possível realizar uma
exposição total de 108 minutos e 30 segundos. Uma hora, quarenta e oito minutos e trinta segundos.
Aí vem a outra parte da
astrofotografia e outros ritos de passagem... O pós processamento.
Sempre achei que você deveria pegar
leve no pós processamento para evitar
que sua foto virasse pintura. E como sempre registrei objetos bem claros isto
me parecia uma verdade. Não é.
Depois de realizar o processo de
"stacking" ( empilhamento) das 217 fotos no Deep Sky Stacker ( DSS)
percebi que havia capturado a Cabeça do Cavalo.
Mas estava assim . Não era exatamente uma brastemp.
E assim fui me dignar a brincar de
pós processamento com alguma seriedade.
Começando com a resultado que
obtive parti no DSS levei minha foto para o Photoshop onde um ajuste de Niveis
melhorou um pouco as coisas . Mas ela continuava discreta. O cavalo estava mais
para potro... Então uma visita ao fitswork
melhorou ainda mais o processo . Existe em um dos menus deste uma opçao chamada
"Normalizar Nbulosas". Ajuda muito.
Mas ainda queria mais. Fui forçado
a admitir que o pós processamento é importante e um mandamento:
"Só através deste conseguirei extrair
detalhes de outra forma impossíveis."
Um outro rito de passagem moderno é
a especialização. Acho importante
lembrar que a astrofotografia é um ramo da astronomia. Eu sempre acreditei em um
olhar amplo sobre as coisas . Holístico. E assim preciso me lembrar sempre que dento de
"minha" astronomia a fotografia não pode ser um fim.
Mas me vejo obrigado a sempre
lembrar de utilizar diversas oculares e
"ver" o que pretendo a observar.
A Cabeça de Cavalo é algo que nunca
observei. Mas ficará no HD o projetoi de vê-la visualmente. A final a fotografia um exercício fundamentalmente do sentido da visão. Um sentimento. Do verbo sentir.
Para encerrar gostaria de dizer que
depois de um rito de passagem sempre tem outro rito de passagem. O ultimo é a morte.
Então posso incluir mais dois mandamentos na astrofotografia:
Ø
Muito tempo de exposição . Não seja preguiçoso
na captura.
Ø
Capturar bons frames subexpostos
Ø
Aprender a usar os softwres de pós
proceessamento
Realizar centenas de exposições
sera o caminho. Depois garantir que estas foram realizadas com acompanhamento
, no minimo , bom. Estudar e testar seu softwares .
Quanto ao ultimo rito eu ainda estou em observação., mas
já aprendi algumas coisa que podem ser uteis :
Ø
Ao realizar o Stacking com o DSS utilize o metodo HDR. Especialmente se você possuir
muitos frames.
Ø
Não são necessário milhares de dark frames. Bias e flats idem. ( Destes não fiz nenhum. - Já falei que a preguiça é um pecado?)
Ø
Usar o Drizzle é importante. Ajuda muito com
relação a problemas de acompanhamento e permite você obter resolução utilizando distancias focais menores.
Ø
Testar todas as possibilidades de pós
processamento e procurar novas soluções. Conheça os softwares. E venho vivendo de uma dieta de DSS+ Fitswork ( outro Freeware)+ Photoshop CS 5 e Noiseware.
E como não poderia deixar de
ser:
-Fotografei a
Horsehead. Olalao oila! Hoje é dia de festa!! Dos tequilas, por favor.!!!
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