Quando
observamos a Via Láctea percebe-se claramente algumas pequenas nebulosidades.
Algo como pequenas caudas de cometa que se destacam no brilho do rio galáctico. Sua
natureza desafiou os antigos astrônomos durante muito tempo. Chegaram a ser consideradas fenômenos atmosféricos e
residentes na nossa atmosfera. Algumas destas são obvias a olho nu. Outras nem
tanto. Ao se passear na região entre a constelação de Norma e a cauda do
Escorpião com um pequeno binoculo descobrimos algumas dezenas de outra pequenas
nébulas que não estão ao alcance da vista desarmada. Um corredor de aglomerados abertos. Entre os habitantes desta região, nas saias
do Escorpião, esta Ngc 6124. Com uma
magnitude de 5.8 ele é enganosamente um alvo fácil. Como este se espalha por mais
de 30´de arco seu brilho de superfície é relativamente baixo. Em pequenos
binóculos ele é um excelente representante da classe de nebulosas que levaram
Messier a elaborar seu catalogo de impostores de cometas.
Mas o
astrônomo francês jamais avistou esta maravilha celestial. A sua descoberta é
anterior ao famoso catalogo e é atribuída
ao Abbe Lacaille. Este a descobriu durante sua viagem para explorar os céus
austrais entre 1751 e 52. É a 8a entrada da Classe I ( Nebulosas sem
estrelas) de seu catalogo publicado em 1755 ( Lac I .8). Sua descrição com uma luneta de 35
mm e 8X de aumento é muito semelhante ao que percebo com minha buscadora 30X7 :
" Parece-se com um grande cometa sem cauda."
Posteriormente
sua verdadeira natureza é descoberta por Dunlop que com um equipamento mais
potente. Ele nos conta o seguinte: " Um aglomerado arrendondado de pequenas
estrelas de brilho semelhante , cerca de 12´de diâmetro, sem nebulosidade
aparente".
Como
não poderia deixar de ser , em se tratando dos pioneiros do céu austral, a
descrição do poderoso John Herschel é a que mais se aproxima do que vemos com
modernos telescópios de médio porte: " Aglomerado , brilhante , disperso não muito comprimido junto ao centro
, preenche quase um campo ocular, consiste de 50 ou 60 estrelas de 9a
a 11a magnitude."
Hoje em
dia ele é classificado na escala Trumpler
como II 3 m . Ou seja medianamente rico com uma leve concentração
central e com estrelas de diversas magnitudes.
A maior
dificuldade para localizar Ngc 6124 consiste em saber se você chegou ao
aglomerado certo em uma área rica em abertos. Ele forma um triangulo isósceles
com Mu e Zeta Scorpio. Ambas estrelas duplas e evidentes na cauda do Escorpião.
É um
aglomerado relativamente distante : 18.500 anos luz de nós e com uma idade de
aproximadamente 100.000.000 de anos. Como há muta poeira entre nós estes valores
oscilam bastante em função da fonte consultada...
Auke
Slotegraaf ,observando com um refletor de 305 mm , diz que o aglomerado nos
convida a "ligar os pontos" e assim traçar desenhos e procurar padrões.
Ele , por exemplo, percebeu um pequeno Cruzeiro do Sul , um triangulo e uma mosca...
A foto que abre este post é resultado do
"stacking" realizado no DSS de 17 exposições de 10 segundos e com 7 dark
frames. ASA 3200 .O telescópio utilizado foi um refletor newtoniano de 150 mm . Realizada com a Lua cheia o aglomerado pode se apresentar
mais rico com exposições mais longas e em noites mais escuras. Mesmo
visualmente.
Ngc
6124 é uma delicada e discreta jóia na coroa austral e um dos objetos Lacaille
que menos visitei. Uma injustiça ...
P.S. A foto que abre o foi modificada após um novo processamento. O Maxim DL 5 possui uma ferramenta que permiti reduzir a vinhetagem e/ou o gradiente de fundo ( Flatten Background) . Posteriormente ainda teve seu contrste e saturação aumentada no Photoshop.
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