As
vezes de onde menos se espera é de onde não sai nada mesmo. Essa máxima de
Stanislaw Ponte Preta (vulgo Sérgio Porto) é quase uma profecia. Mas como bom
profeta ele, as vezes, erra a data. E assim cheguei até Mu Columbae, a estrela fugitiva.
Em
noite sem pretensão devido ao grande número de nuvens cirrus fotografei descompromissada
mente regiões do céu que se encontravam limpas. Desta forma fui parar em algum
lugar entre o Cão Maior, Columba, Orion e Lepus.
Se
a tríplice fronteira já é o paraíso para foragidos imagine uma fronteira
quadrupla.
Depois
de fotografar o Cão maior com M 41 quase centrado no quadro resolvi explorar as
bordas da região. E utilizando o Deep Sky Stacker decidi realizar um duplo
drizzle no canto direito superior da foto. Meio desorientado achei que estariam
lá algumas estrelas de Lepus. Errei. Columba dominava a região. Com auxílio do Astrometry
identifiquei as estrelas e para minha surpresa estava lá um rotulo que me atiçou
a curiosidade. “The Runaway Star”.
Nunca
havia escutado o termo e desconhecia o elemento. Em rápida busca descobri que o
mesmo se tratava de Mu Columbae. Em tempos politicamente corretos se trata de uma
“elementa”. Nos tempos atuais talvez deva-se utilizar “Elemente” e não incorrer
em nenhuma forma de preconceito binário ou não -binário. Gênero tornou-se algo
bem complexo na gramática atual.
Mas
como falam os americanos “Let´s cut the crap” e falemos de Mu Columbae, a
estrela foragida.
Esta
é uma das poucas estrelas do tipo O visíveis com vista desarmada.
E
assim sendo um alvo para utilizarmos como modelo de estrelas
fugitivas.
O
que são estrelas fugitivas?
Estas
são estrelas pesadas (tipo O e B) que viajam pelo espaço interestelar em
velocidades excepcionalmente altas. E embora possuam uma estrela relacionada esses
pares não caminham juntos pelo espaço. Na verdade, se distanciam em direções distintas
de um ponto em comum com velocidades relativas ainda mais excepcionais que ao
meio interestelar. No caso de Mu Columbae sua parceira é AE Aurigae. Mais legal
ainda é que ambas saíram da região do trapézio na Grande nebulosa de Orion. Se você possui um telescópio e prática
astronomia há mais de 1 mês deve conhecer bem a região.
Quando
a direção do movimento de uma estrela no espaço é conhecida podemos reconstruir
seu caminho pelo mesmo. E, ainda mais interessante, descobrir o local de onde
originariamente esta estrela saiu. O endereço de sua maternidade.
Acontece
que o caminho de muitas estrelas OB fugitivas pode ser traçado de volta as
chamadas associações OB, que são grupos de 10 a 100 estrelas tipo OB que se
localizam nos braços da galáxia.
Cerca
de 50 associações do tipo OB são conhecidas na Via Láctea. Na verdade, a
maioria das estrelas OB conhecidas fazem parte dessas associações. então não é surpreendente
é que as estrelas do tipo OB fugitivas tenham se originado nessas associações.
Mu Columbae se formou na associação OB de Orion. Mas o que a torna tão legal é que
ela se formou na área mais badalada da vizinhança. Ela fugiu (ou foi expulsa)
de uma das vizinhanças mais chiques da galáxia. A associação OB de Orion se
divide em 4 subgrupos:
· * Orion OB1 a - Este reside na região a noroeste do
cinturão de Orion e possui dúzias estrelas maciças com aproximadamente 12
milhões de anos. Dentro deste há ainda outro subgrupo. 25 Orionis subgrupo.
Localizadas próximas a Bellatrix.
· * Orion OB1 b- Se encontram em torno do cinturão
de Orion (As três Marias). Suas estrelas têm cerca de 8 milhões de anos.
· * Orion OB1 c- Se formam na espada de Orion junto
42 Orionis, Theta Orionis e Iota Orionis.
Possuem entre 3 e 6 milhões de anos.
· * Orion OB1 d- São as estrelas que se formam na
Nebulosa de Orion M 42 (e M 43). São as mais jovens.
Como já disse, traçando as rotas reversas de Mu Columbae e de AE Aurigae
eles se interceptam bem no coração da associação Orion OB 1 d.
![]() |
Espada de Orion. Podemos ver OB 1 c e OB 1 d |
E assim
chegamos ao processo que cria estrelas fugitivas. Há duas fórmulas. Uma é através de explosões
de supernovas. Afinal estrelas OB vivem rápido e morrem jovens. E explodem como
super novas. Desta forma este é o cenário mais comum para a criação destas
estrelas fora de rumo e lugar e proposto por Blaauw em 1961.
Outra forma é em regiões OB mais densas (como
é o Trapézio em M 42) choques e encontros e empurrões gravitacionais levam a
uma festa Punk e alguns dos presente são ejetados a grande velocidade do local.
Geralmente aos pares e um em cada direção. Quando falamos em processo astrofísicos
as coisas são sempre um pouco mais complexas do que parecem. mas grosso modo a situação
ilustra bem o que deve ter levado Mu Columbae a se tornar uma estrela fugitiva.
Mu Columbae se
encontra a 1300 anos luz de nós e sua velocidade relativa a AE Aurigae é de 200
km /s. é conhecida antiga dos astrônomos
chineses e é chamada de Pinyin. Significa “O Excremento” ou “As Secreções”.
Parece que os antigos já sabiam que ela tinha sido expelida com força...
Outra peculiaridade
e estrelas fugitiva é que elas levam consigo ondas de choque. No caso de AE
Aurigae isso é bem evidente com ela inflamando a “The Flamming Star nebula”.
Embora ela não tenha nascido na nebulosa sua imensa velocidade e onda de choque
acabou por iluminar e animar as coisas nesta região de Auriga.
Mas esta já é
outra história e vai ter que esperar que eu visite a região.
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