Alinhamentos planetários são ocorrências relativamente comuns e não tem nada a ver com as tais leis fundamentais do universo . Mas já me acostumei a ter amigos e amigas levantando questões de cunho astrológico sempre que eles se anunciam. Faço ouvidos moucos e em geral gosto de dar uma olhada. O encontro seria a Lua , Marte e Saturno
Desta forma acabo juntando todos os badulaques necessários para fazer algumas fotos.
E assim logo após perceber que Saturno já ia se esconder sai a caça de algo mais sério. Em pouco segundos estava com Ngc 6025 em quadro. Rapidamente fiz varias fotos. Algumas com 6400 asa e outras com 3200. Mas isto é papo para outro post.
Ngc
6025 é
um dos mais chamativos aglomerados abertos do céu austral. Ele é
facilmente localizado em se prolongando uma linha imaginaria que liga Beta a
Alpha Centauro e a Prolongando rumo a leste. Outra opção é localizar Beta
Tiângulo Australis e ele se encontrará pouco mais de meio campo de buscadora (3o)
norte- nordeste da mesma. Ele localiza-se na fronteira entre esta simpática e
antiga constelação com Norma, a régua. A segunda uma das constelações criadas
por Lacaille nos céus do Sul. Triangulo Australis é uma constelação facilmente
visível e Atria ( Alpha TriA ) é circumpolar
no Rio de Janeiro. Mais ao sul toda a constelação nunca se esconde abaixo do
horizonte...Seu desenho é composto
por três estrelas de magnitude
semelhante e facilmente percebidas a leste do Centauro.
O
grande aglomerado cobre uma área de mais de 15 ´ de diâmetro e é facilmente
percebido como um esfuminho em qualquer buscadora. Na minha 9x50 ele chega a revelar sua
natureza e em muito se assemelha a descrição realizada pelo Abbe Lacaille em
seu catalogo ( Três pequenas estrelas cercadas por nebulosidade). Ele realizou
o registro em 5 de março de 1752. Dali um ano e três dias ele deixaria a Cidade
do Cabo a bordo do Le Prusieux tendo realizado o maior levantamento
dos céus austrais de seu tempo e para nunca mais voltar.
Me
recordo de perceber 6025 claramente como uma pequena bola de algodão a olho nu
nos escuros céus das Anavilhanas. Sua estrela mais brilhante HD 143448 brilha
com magnitude 7.1 e nunca a consegui perceber a olho nu. O´Meara propõe este
desafio mas ele mesmo nunca conseguiu realizar o feito. A magnitude aparente do
aglomerado é de 5.1 (Cartes du Ciel , Stellarium e diversos autores) . O mesmo O´Meara sugere uma magnitude de 5.5
mas admite que ele passa bem baixo no horizonte do Hawaii. Eu acho o aglomerado
bastante brilhante e concordo com 5a magnitude sem medo de ser
feliz.
Observado
pelo Newton ( refletor de 150 mm) o aglomerado se resolve plenamente e não
deixa duvidas sobre a ausência de nebulosidade. A imagem que vejo em muito
lembra a descrição de Dunlop em seu catalogo realizado em Paramatta , Austrália
em 1827 :
" Lacaille descreveu este como três pequenas estrelas
em linha com Nébula. Nenhuma nebulosidade existe na região. Um grupo de cerca
de vinte estrelas de magnitude variada, formando uma figura irregular com 5´ a
6´ ..."
Dunlop
também o situa na Via Láctea e alega que esta seria a nebulosidade que se
poderia perceber na região. Nas fotos
que fiz percebe-se claramente as estrelas de fundo e de frente contaminando o
campo e podendo simular alguma nebulosidade.
Ngc
6025 apresenta algumas particularidades que tem grande interesse cosmológico e
astronômico.
O
aglomerado é relativamente bem estudado e ao longo das pesquisas a distancia
pouco variou mas ele foi ""remoçando aos poucos . Em 1971 foi
estimada uma distancia de 2.900 anos luz de nós e uma idade de 100.000.000 de
anos ( Feinstein). Quatro anos depois ele se afastou um pouco e foi parar a 3.000 anos luz e com apenas
90.000.000 de anos nas contas de Killambi. Grosso e Levato (2011) o mantem a
praticamente a mesma distancia ( 3.100 anos luz ) e atribuem 84 milhões de anos
ao mesmo. Sem tomar partido e
consultando diversas fontes eu diria que 2700 anos luz e 90.000.000 de anos são
valores bastante razoáveis...
Eu
conto algo entre 27 e 34 membros
visíveis na ocular. E pelas fotos cheguei próximo a 50 . Archinal nos dá 139 membros
espalhados por 15´de diâmetro e isto representa 11 anos luz . Sua idade torna 6025
contemporâneo das Plêiades ( M45) em Touro.
Mas é a
estrela mais brilhante do aglomerado que o torna extremamente interessante. Ela
é um excelente exemplo para um dos caminhos mais recentes na teoria de evolução
estelar e é a estrela retardaria Azul ( Blue Straggler) mais fácil de se
observar que eu conheço.
HD 143448 é classificada na seguinte classe espectral
como B1. 5 V. Uma estrela variável e que também é chamada
de MQ TrA.
HD 143448 é a estrela a esquerda mais
brilhante.
Estrelas
retardarias azuis seguem um caminho diferente das outra no diagrama H-R . Elas
se comportam como mais jovens do que deveriam ser. Se recusam a abandonar a
sequência principal mesmo que outra estrelas de massa semelhantes a elas e que
pertencem ao mesmo aglomerado ( e que assim deveriam ter a mesma idade) já tenham cantado para subir e já se
encaminhem para etapas posteriores nos caminhos mais comuns da evolução
estelar.
Existem
algumas hipóteses porque elas se comportam assim e como elas , como alquimistas
cósmicos, simulam um "Elixir da Eterna Juventude".
A mais
obvia é que elas teriam se formado depois das outra estrelas no aglomerado. Há
poucas evidencias que sustentem isto e parece pouco provável que em milhares de
aglomerados estudados o comportamento não pareça comum. Especialmente em
aglomerados abertos as estrelas geralmente são da mesma geração... E elas são
mais comuns em Aglomerados globulares.
Outra
possibilidade é que estas sejam estrelas de campo ou estrelas capturadas e não
verdadeiros membros do aglomerado. HD 143448 é arqui inimiga desta hipótese e
séria candidata a carrasca da idéia. Outro fato que atrapalha esta possibilidade é
que "blue stragglers" geralmente estão em áreas centrais dos
aglomerados aos quais pertencem.
A ideia
mais aceita é que elas são fruto de dois processos distintos e que envolvem
duas estrelas. Seriam elas causadas por
colisão entre duas estrelas . Ou por transferência de massa entre duas
estrelas.
As colisionais
seriam formadas por estrelas binarias em
um processo de fusão. A fusão destas criaria uma estrela mais massiva e que se
fosse formada simultaneamente com as
estrelas originais do aglomerado já deveriam ter evoluído para fora da sequência
principal. Como retardarias azuis são mais comuns em nas áreas mais densas de
aglomerados e especialmente junto aos núcleos de aglomerados globulares as
coisas parecem se encaixar. como há mais estrelas e menos espaço as colisões
são mais comuns. O calculo de colisões esperadas em globulares é consistente
com o numero de "Blue Stragglers".
As
surgidas por transferência me lembram um pouco um processo comum em supernovas.
Mas nem tudo é o que parece ser. Neste processo uma estrela mais massiva de um
sistema binário evoluirá primeiro e conforme "incha" e
"transbordando" sua massa acaba sendo rapidamente transferida para
sua parceira menos massiva e assim se explicaria a presença de uma estrela mais
massiva ainda na sequência principal. Há evidencias químicas na fotosfera de
"blue stagglers" que corroboram com esta hipótese.
Ngc
6025 é uma das mais belas jóias da coroa austral. E um excelente exemplo da
categoria III do Catalogo Lacaile.
E é
ainda um curso relâmpago em evolução estelar.
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